Fiel cristã iraquiana reza durante Missa na véspera de Natal, na Igreja da Virgem Maria em Bagdá Fiel cristã iraquiana reza durante Missa na véspera de Natal, na Igreja da Virgem Maria em Bagdá 

No Iraque, criado Comitê para restituir bens expropriados dos cristãos

A iniciativa de criar o Comitê é do líder xiita iraquiano Muqtada al Sadr, com o objetivo de restabelecer a justiça, pondo fim às violações que afetam os direitos de propriedade dos "irmãos cristãos". O fenômeno da apropriação ilegal de casas de cristãos foi uma prática que se consolidou graças à conivência e acobertamento de autoridades corruptas e desonestas, que se colocaram a serviço de impostores individuais e grupos organizados de trapaceiros.

Vatican News

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O líder xiita iraquiano Muqtada al Sadr, líder do grupo político sadrista com forte representação no Parlamento de Bagdá, ordenou a criação de um Comitê encarregado de coletar e verificar informações e denúncias sobre casos de apropriação abusiva de bens imobiliários sofrida nos últimos anos por proprietários cristãos em várias regiões do país.

A decisão foi comunicada por meio de uma declaração divulgada nos primeiros dias de 2021, na qual são indicados os nomes dos colaboradores de Muqtada al Sadr escolhidos como integrantes do Comitê, bem como os endereços de e-mail e contas do Whatsapp para os quais os cristãos podem enviar documentos de propriedade de imóveis - casas e terrenos - surrupiados ilegalmente nos últimos anos por outras pessoas ou grupos.

O objetivo da operação patrocinada pelo líder xiita é restaurar a justiça, pondo fim às violações que afetam os direitos de propriedade dos "irmãos cristãos", mesmo quando cometidas por membros do próprio movimento sadrista. O pedido para denunciar casos de apropriações ilegais sofridas também é dirigido a famílias de cristãos que deixaram o país nos últimos anos, e os relatos de abusos sofridos por proprietários cristãos fraudados podem ser enviados ao Comitê até o final do próximo Ramadã.

 

Na manhã do domingo, 3 de janeiro, uma delegação enviada por Muqtada al Sadr - e liderada pelo Xeique Salah al-Obaidi - visitou o Patriarca caldeu Louis Raphael Sako, para oferecer ao líder da Igreja caldeia uma mensagem de felicitações pelo Natal, juntamente com uma cópia do documento com o qual o líder xiita constituiu o Comitê encarregado de coletar a documentação sobre casas e terrenos expropriados ilegalmente de proprietários cristãos.

O cardeal Sako, por sua vez, agradeceu a Muqtada al Sadr pela iniciativa que visa acabar com as injustiças sofridas por cidadãos cristãos que tiveram seus bens expropriados ilegalmente, destacando a importância de garantir que prevaleça a proteção do bem comum da Nação, colocando-o acima de qualquer interesse privado ou sectário.

De acordo com relatos da mídia iraquiana, incluindo o site ankawa.com, Pascale Warda pede a todos os cidadãos iraquianos que apoiem a reintegração dos direitos de propriedade dos cristãos sustentada por Muqtada al-sadr e para a qual também se mobilizaram organizações da sociedade civil, como a associação Hammurabi pelos direitos humanos e a Coordenação das Mulheres iraquianas.

O fenômeno da apropriação ilegal de casas de cristãos foi uma prática que se consolidou graças à conivência e acobertamento de autoridades corruptas e desonestas, que se colocaram a serviço de impostores individuais e grupos organizados de trapaceiros.

O roubo "legalizado" de propriedades de famílias cristãs está intimamente ligado ao êxodo em massa de cristãos iraquianos, após intervenções militares lideradas pelos EUA para derrubar o regime de Saddam Hussein. Muitos desonestos e oportunistas se apropriaram de casas e terrenos que permaneceram sem vigilância, contando com a previsão fácil de que nenhum dos proprietários voltaria para reivindicar a propriedade.

Já no início de 2016 Muqtada al Sadr havia defendido a necessidade de devolver aos seus legítimos proprietários as casas e os bens roubados ilegalmente de muitas famílias cristãs em Bagdá, Kirkuk e outras cidades iraquianas.

Muqtada al Sadr também é conhecido por ter sido o fundador do exército Mahdi, a milícia - oficialmente desfeita em 2008 - criada em 2003 para lutar contra as forças armadas estrangeiras presentes no Iraque após a queda do regime de Saddam Hussein.

Os analistas viram várias mudanças de ritmo na última década por parte do líder, que dissolveu sua milícia em 2008 e não parece estar alinhado com o Irã. No passado, Muqtada al Sadr chegou a defender a superação do "sistema de cotas" que, desde a morte de Saddam, fundou a gestão do poder no Iraque em fundamentos sectários.

No país assombrado nos últimos anos pela ofensiva jihadista, pela proclamação do Califado Islâmico com base estratégica em Mosul e pela coexistência de forças diferentes e potencialmente rivais - na frente heterogênea que levou à reconquista de quase todas as áreas que haviam caído nas mãos das milícias jihadistas - Muqtada al Sadr tentou se apresentar como um potencial mediador. Sua visita à Arábia Saudita em julho de 2017 para conhecer o príncipe Mohammed bin Salman também foi interpretada nesta perspectiva.

Agência Fides - GV

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04 janeiro 2021, 13:45