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Refugiados da Etiópia no Sudão Refugiados da Etiópia no Sudão 

Etiópia. Apelo das Nações Unidas pelos refugiados no Tigray

O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) lança um premente apelo para que quatro milhões e meio de pessoas, reduzidas à fome, tenham assistência e acesso aos Campos de Refugiados na região do Tigray, na Etiópia

Stefano Leszczynski - Vatican News

Apesar do apagão das comunicações e do fechamento das fronteiras da Etiópia, a guerra no Tigray continua de modo cada vez mais feroz. O Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), Filippo Grandi, conseguiu obter imagens, com uma equipe de especialistas, através dos satélites, que mostram uma grande destruição na área dos campos de refugiados de Shimelba e Hitsasts, na Eritreia. Nestes dois assentamentos, havia 22.248 refugiados, na época em que começou o conflito, em novembro passado. É impossível determinar, com certeza, a responsabilidade pelos ataques nos campos de refugiados, mas muitas testemunhas do Sudão falam de uma presença ativa de tropas eritreias no Tigray.

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Apelo do ACNUR

O acesso das organizações humanitárias aos campos de refugiados no Tigray é definido, pelo Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, como "uma questão de vida ou de morte". As graves condições de centenas de milhares de pessoas na região, mais ao norte da Etiópia, são extremamente preocupantes. Todo o país encontra-se isolado pelo apagão das comunicações e fronteiras fechadas. Os que conseguem fugir e chegar ao Sudão relatam sobre os massacres e deportações na região. Mais de 58.000 refugiados estão abrigados nas instalações do ACNUR, no território sudanês, mas precisam de ajudas urgentes. Daí o apelo do Alto Comissário, Filippo Grandi, à comunidade internacional para acabar com o conflito e enviar recursos financeiros para enfrentar a crise humanitária.

Entrevista

Entrevista com Carlotta Sami, porta-voz do ACNUR na Itália, que fala de “uma questão de vida ou de morte”:

Há poucos dias, o Alto Comissário, Filippo Grandi, expressou publicamente a sua preocupação na conclusão de uma missão de controle realizada no Tigray, com a aprovação do governo etíope. A iniciativa teve implicações positivas porque nos permitiu levar assistência a 25 mil refugiados eritreus em dois acampamentos diferentes, onde foi possível fornecer água e retomar alguns serviços de assistência sanitária interrompidos. No entanto, apesar desta breve missão, o ACNUR e seus parceiros ainda não tiveram acesso aos dois grandes campos de refugiados: o campo de Shimelba e o campo de Hitsasts, que não recebem nenhum tipo de ajuda, há mais de dois meses. Por isso, estamos muito preocupados com a segurança e a vida dos refugiados eritreus naqueles campos”.

O país está imobilizado e as comunicações interrompidas. Como se pode obter notícias do que está acontecendo?

Pelo menos 58.000 pessoas conseguiram fugir para o vizinho Sudão, onde o ACNUR está tentando dar assistência humanitária. As pessoas, que pudemos contatar, continuam a nos transmitir notícias, que achamos fiáveis, sobre a situação de insegurança, as graves e dolorosas violações dos direitos humanos, além de homicídios, sequestros e repatriação forçada de refugiados para a Eritreia. Estas são informações concretas de violações graves do direito internacional. No passado, a Etiópia acolheu centenas de milhares de pessoas, que fugiam da Eritreia, demonstrando grande generosidade. Daí o nosso apelo premente e urgente para termos acesso a todos os assentamentos, a fim de ajudar dezenas de milhares de refugiados eritreus no Tigray. Trata-se de uma situação insustentável, uma questão de vida ou de morte”.

Como está a situação do lado do Sudão?

Uma das primeiras urgências que enfrentamos foi distanciar, o máximo possível, os campos de refugiados da fronteira, por óbvios motivos de segurança. Conseguimos encontrar lugares seguros para formar acampamentos, a cerca de 70 km da fronteira, e também outros locais, para aonde levamos mais de 5.000 pessoas, desde o início deste mês de janeiro. As pessoas refugiadas nos campos são pais, com filhos pequenos, que tinham empregos fixos, além de muitos filhos abandonados e idosos. Agora, precisamos acelerar as ajudas humanitárias, porque as pessoas continuam a passar a fronteira”.

Esta é a confirmação de que os conflitos no Tigray ainda continuam, não obstante as declarações oficiais?

A situação no Tigray, infelizmente, ainda é instável. Continuamos a fazer urgentes apelos à comunidade internacional para que a atenção, demonstrada nas primeiras semanas da crise, seja cada vez maior. Até agora foram fornecidos menos da metade dos recursos financeiros necessários para enfrentar a crise humanitária. Nós e as organizações parceiras contamos com apoio financeiro para ajudar os refugiados; fazemos também apelo para um compromisso internacional, a fim de que a paz e segurança na região sejam restabelecidas, bem como o acesso à Etiópia a todas as agências humanitárias”.

Quais os motivos do atraso, por parte da comunidade internacional, em fornecer os fundos necessários para enfrentar a crise?

Infelizmente, a experiência nos ensina que, muitas vezes, as promessas feitas, quando os conflitos eclodem, são esquecidas com o passar do tempo. É preciso manter alta a atenção da opinião pública sobre este conflito, para fazer pressão sobre a comunidade internacional. A situação de crise não se refere apenas à Etiópia, mas também afeta muitas outras graves situações no continente africano. É preciso ajudar a melhorar as condições dos refugiados, mas também criar condições de segurança, que lhes permitam regressar à sua terra, que é o que mais desejam”.

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23 janeiro 2021, 07:54