Comissão Justiça e Paz define de forma inequívoca os abusos infligidos a estas mulheres como "um crime nacional" Comissão Justiça e Paz define de forma inequívoca os abusos infligidos a estas mulheres como "um crime nacional" 

Abusos contra mulheres na II Guerra foi um crime, dizem bispos japoneses

A Conferência Episcopal Japonesa, que sempre foi sensível à questão dos direitos humanos, apela ao governo japonês para que trabalhe em prol de uma solução para o problema das "Mulheres de conforto", pensando no sofrimento das vítimas e não no orgulho nacional. Trata-se de reconhecer oficialmente que se tratava de um sistema de "escravidão sexual" de que o Estado japonês tinha conhecimento, de ouvir as razões das vítimas não consultadas em 2015 e de as indenizar segundo sua solicitação.

Lisa Zengarini – Vatican News

Reacendem as tensões entre a Coreia e o Japão sobre a antiga questão das indenizações para as chamadas “Comfort Women” ("Mulheres Conforto"), mulheres sul-coreanas forçadas à prostituição com soldados japoneses durante a ocupação japonesa da Península.

Uma recente decisão do Tribunal de Seul ordenou que o Japão pagasse US$ 91.360 a 12 vítimas que entraram com ações judiciais em 2013. O governo japonês contestou a validade do processo e a eficácia da condenação. O ministro das Relações Exteriores, Toshimitsu Motegi, pediu ao governo de Seul que tome medidas contra a sentença, acusando a Coreia do Sul de violar os tratados existentes.

Trata-se, em particular, de um acordo bilateral assinado em 1965 que teria resolvido a disputa sobre a ocupação japonesa da península coreana entre 1910 e 1945 e de um acordo assinado em 2015, no qual o Japão se desculpou e prometeu a instituição de um fundo para vítimas de quase US$ 8,5 milhões. Este último acordo, no entanto, é considerado insuficiente pela maior parte dos sobreviventes, pois não reconhece o Japão "legalmente" responsável pelo ocorrido e não oferece uma compensação direta e oficial. As autoridades sul-coreanas responderam às denúncias de Tóquio com ameaças de retaliação econômica, como já aconteceu em outras ocasiões.

A Conferência Episcopal Japonesa, que sempre foi sensível à questão dos direitos humanos, recentemente interveio sobre a questão. E o fez, por meio de uma declaração publicada por ocasião do vigésimo aniversário do "Tribunal Internacional de Crimes de Guerra contra a Mulher na Escravidão Sexual Militar Japonesa", simbolicamente estabelecido em Tóquio em dezembro de 2000 por alguns movimentos de mulheres, entre as quais também diversas mulheres cristãs, precisamente para recordar as responsabilidades do Japão para com as "mulheres de conforto".

A Declaração, assinada pelo presidente do Conselho de Justiça e Paz, Dom Katsuya Taiji, apela ao governo japonês para que trabalhe em prol de uma solução para o problema, pensando no sofrimento das vítimas e não no orgulho nacional.

O texto recorda as principais etapas do percurso que, a partir do início dos anos 90, trouxe o drama das "Mulheres de Conforto" à atenção da opinião pública e das instituições internacionais, após décadas de silêncio.

Justiça e Paz define de forma inequívoca os abusos infligidos a estas mulheres como "um crime nacional", evidenciando como a violência sexual ainda é generalizada na sociedade, como evidenciado pelo movimento "#Metoo", e em alguns casos também na Igreja.

Precisamente à luz da experiência da Igreja na luta contra os abusos sexuais de menores e pessoas vulneráveis, com a assunção das próprias responsabilidades, o pedido de perdão às vítimas e a colaboração com as autoridades civis, Dom Taiji dirige-se ao primeiro-ministro japonês Yoshihide Suga, pedindo "para não esconder a realidade dos fatos" ocorridos, mas sim de enfrentá-los, "preservando sua memória sem medo, para que nunca mais aconteçam".

Concretamente, para os bispos japoneses trata-se de reconhecer oficialmente que se tratava de um sistema de "escravidão sexual" de que o Estado japonês tinha conhecimento, de ouvir as razões das vítimas não consultadas em 2015 e de as indenizar segundo sua solicitação. O documento também pede a apresentação de "desculpas públicas e formais" e que a dramática história das "Comfort Women" seja incluída na história oficial do Japão, justamente para ser esquecida.

Entre os anos 1930 e 1945, dezenas de milhares de mulheres, principalmente sul-coreanas, foram obrigadas a se tornarem escravas sexuais de soldados japoneses. O assunto começou a ser falado abertamente em 1991, quando uma mulher chamada Kim Hak-soon compartilhou publicamente sua experiência em bordéis japoneses durante a guerra. Desde então, 240 mulheres sul-coreanas relataram experiências semelhantes. O tema tem sido motivo de reiterados atritos entre a Coreia do Sul e o Japão, principalmente devido à recusa de conservadores japoneses em reconhecerem tratar-se de "escravas sexuais”. Para eles, as mulheres não teriam sido coagidas ou escravizadas.

Durante sua viagem à Coreia do Sul em agosto de 2014, em um momento comovente no início da Missa pela Paz e a Reconciliação celebrada no dia 18, o Papa ajoelhou-se e saudou sete mulheres que haviam sido escravas sexuais dos militares japoneses durante a II Guerra Mundial.

Francisco passou vários minutos segurando a mão de Kim Bok-dong, de 89 anos, que foi à Missa em uma cadeira de rodas, e era uma das sete "escravas sexuais" que participaram da celebração. Kim, conhecida ativista pelos direitos deste grupo, entregou um ‘pin’ com uma borboleta a Francisco, que o colocou na sua lapela. A borboleta é o símbolo das meninas e adolescentes que o Império Japonês recrutou nos países colonizados na Ásia como escravas sexuais para os seus soldados durante a Segunda Guerra Mundial.

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Na Coreia, encontro do Papa com vítimas de escravidão sexual durante II Guerra
27 janeiro 2021, 12:48