Fórum para o Diálogo Político pela Paz na Líbia realizado na Tunísia Fórum para o Diálogo Político pela Paz na Líbia realizado na Tunísia 

Na Tunísia um Fórum de Diálogo pela Paz na Líbia

Grandes esperanças para um acordo definitivo de Paz na Líbia depois de 9 anos de instabilidade. No domingo (08/11), a oração do Papa para que seja encontrada uma solução pacífica para o país. Michela Mercuri, uma especialista na área, responde a uma entrevista.

Elvira Ragosta – Vatican News

Um diálogo político entre os líbios para alcançar a paz no país depois de 9 anos de instabilidade. O Fórum lançado na segunda-feira (09) em Túnis sob os auspícios da ONU representa o mais recente esforço diplomático em termos de tempo para moldar a paz e a futura estabilidade institucional da Líbia. Os diálogos, que durarão seis dias, reúnem em Gammarth na Tunísia, 75 participantes líbios representando o Alto Conselho de Estado (Tripolitânia) e o Parlamento em Tobruk (Cirenaica), assim como outros selecionados pela ONU. No domingo (08) o Papa Francisco, após a oração do Angelus, recordando este encontro, fez votos para que fosse encontrada uma solução para o longo sofrimento do povo líbio e que o cessar-fogo permanente fosse respeitado e concretizado.

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Uma tentativa dos líbios

"A Líbia poderia ir na direção da paz porque esta é uma tentativa de acordo escolhido e desejado pelos líbios, portanto, pela primeira vez, o povo e seus representantes estão decidindo pelo seu futuro”. Assim afirma Michela Mercuri, professora de Geopolítica do Mediterrâneo. O objetivo do diálogo é chegar a um acordo que tenha um novo Conselho presidencial formado por três membros: um presidente e dois vice-presidentes. "Se todas as partes aceitarem isto", acrescenta a professora, "poderemos alcançar a paz e realizar as eleições até março".

As etapas do diálogo

O país, mergulhado no caos após a queda de Kadafi, viu dois protagonistas em ascensão, de um lado o governo internacionalmente reconhecido de Fayez al- Serraj sediado em Trípoli, e do outro as tropas do General Kalifa Haftar em Cirenaica. Em todos esses anos foram realizadas várias tentativas diplomáticas para estabilizar o país, a partir dos acordos do Skhirat (Marrocos) de 2015. O encontro político em andamento em Túnis ocorre após a assinatura do cessar-fogo em Genebra dia 23 de outubro, no final das negociações da Comissão Militar Mista Conjunta 5+5, formada por representantes das duas facções. Incentivados pelas Nações Unidas, os dois lados rivais haviam retomado as negociações em setembro em diferentes mesas diplomáticas: uma institucional no Marrocos, uma militar no Egito e uma política na Suíça.

Na direção de um acordo

Há otimismo por parte da ONU quanto aos objetivos a serem alcançados. Entretanto, será decisiva a disponibilidade de compromisso de ambas as partes. "Até este momento - acrescenta Mercuri – creio que exista dentro do país uma certa vontade de chegar a alguns acordos. Espero que haja a mesma vontade entre os protagonistas externos que vêm apoiando as diversas facções em luta há anos, refiro-me em particular à Rússia e à Turquia".

A representação

Com relação aos 75 participantes do Fórum, embora existam algumas vozes discordantes em relação à escolha, a professora Mercuri aponta que é uma representação muito rica, composta de políticos, juristas, mas também de ativistas: "Isto significa ter opiniões de muitas frentes, mas também da população, que é a principal protagonista, talvez esquecida, da guerra da Líbia, mas também significa encontrar um acordo entre muitas pessoas, tribos, prefeitos, protagonistas locais e sabemos que isto é muito difícil".

As esperanças da população e o drama dos migrantes

"Não devemos esquecer - acrescenta Mercuri - que durante 18 meses houve uma guerra sangrenta que fez muitas vítimas não só entre os militares, mas também entre a população civil. Além disso, nos últimos meses, o povo líbio, em Trípoli como em Benghazi, foi às ruas para se manifestar contra a violência e contra a pobreza imposta pelo bloqueio da produção de petróleo".

Estreitamente ligada à estabilidade do país está também a questão dos migrantes que vêm para a Líbia de diferentes países para tentar atravessar o Mediterrâneo. A Organização Internacional para as Migrações (OIM) informa que mais de 10.000 homens, mulheres e crianças tentaram fugir da Líbia desde o início deste ano e foram repatriados, enfrentando detenção, exploração e abuso. Para a professora Mercuri, a estabilização política e a melhoria das condições econômicas no país também seria positivo também para os migrantes: "Uma maior circulação de dinheiro, inclusive resultante da retomada da produção de petróleo, poderia tirar grande parte da renda do crime organizado que lucra com o tráfico de migrantes. Além disso, uma estabilidade política da estrutura interna poderia permitir que a OIM, a ACNUR e as ONGs retornassem ao país para trabalhar nos centros de detenção".

 

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10 novembro 2020, 14:29