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425 moedas encontradas em escavação na região central de Israel

As moedas do Califado Abássida, de 1.100 anos atrás, foram encontradas em escavação realizada em Israel. O raro tesouro, "em excelentes condições", inclui fragmentos de moedas, cortados para fazer "pequenos trocos", o que demonstra uma conexão entre o Califado e o Império bizantino rival.

Vatican News

Um raro tesouro de 425 moedas de ouro do Califado Abássida, datado de cerca de 1.100 anos atrás, foi descoberto em uma escavação arqueológica no centro do país, anunciou a Autoridade de Antiguidades de Israel (IAA) nesta segunda-feira, 24. Por razões óbvias, a IAA não especificou a localização exata da descoberta.

O tesouro foi descoberto por um grupo de jovens que realizava trabalho voluntário antes der prestar o serviço militar obrigatório.

"Foi fantástico. Eu estava escavando quanto toquei em algo, vi o que parecia ser folhas muito finas”, declarou ao The Times of Israel o adolescente Oz Cohen. “Quando olhei de novo, vi que eram moedas de ouro. Foi muito emocionante encontrar um tesouro tão especial e antigo.”

Os diretores de escavação Liat Nadav-Ziv e o Dr. Elie Haddad afirmavam que se presumia que quem quer que tenha enterrado as moedas, pensava que seria capaz de recuperá-las, e que a descoberta poderia apontar para o comércio internacional realizado pelos residentes da área.

“Encontrar moedas de ouro, certamente em quantidade tão considerável, é extremamente raro. Quase nunca as encontramos em escavações arqueológicas, visto que o ouro sempre foi extremamente valioso, derretido e reutilizado de geração em geração”, afirmam os diretores em nota.

“As moedas, feitas de ouro puro que não oxida com o ar, foram encontradas em ótimo estado, como se tivessem sido enterradas na véspera. Sua descoberta pode indicar que o comércio internacional ocorreu entre os residentes da área e áreas remotas”, diz o comunicado.

O Dr. Robert Kool, especialista em moedas da IAA, disse que o peso total do tesouro - cerca de 845 gramas de ouro puro - seria uma quantia significativa de dinheiro no final do século IX.

“Por exemplo, com essa quantia, uma pessoa poderia comprar uma casa luxuosa em um dos melhores bairros de Fustat, a enorme e rica capital do Egito naquela época”, disse Kool, observando que, na época, a região fazia parte de o Califado Abássida, que se estendia da Pérsia ao norte da África, com sede central do governo em Bagdá.

“O tesouro consiste em dinares inteiros de ouro, mas também - o que é incomum - contém cerca de 270 pequenos fragmentos de ouro, pedaços de dinares de ouro cortados para servir como um pequeno troco”, disse Kool.

Ele acrescentou que um desses cortes era excepcionalmente raro e nunca antes encontrado em escavações em Israel - um fragmento de um solidus de ouro do imperador bizantino Teófilo (829 - 842 dC), cunhado na capital do império, Constantinopla.

De acordo com a IAA, a existência do fragmento em um tesouro de moedas islâmicas serve como evidência das conexões entre os dois impérios rivais.

“Este tesouro raro certamente será uma grande contribuição para a pesquisa, já que os achados do período abássida em Israel são relativamente poucos. Esperamos que o estudo do tesouro nos diga mais sobre um período do qual ainda sabemos muito pouco”, afirmou Kool.

Califado Abássida

 

O Califado Abássida foi o terceiro califado islâmico. Foi governado pela dinastia Abássida de califas, que construíram sua capital em Bagdá, após terem destronado o Califado Omíada, cuja capital era Damasco, com exceção da região de Alandalus.

O Califado Abássida foi fundado pelos descendentes de Abas ibne Abdal Mutalibe, o tio mais jovem de Maomé, em Harã, em 750, e transferiu sua capital para Bagdá em 762. Prosperou por dois séculos, mas pouco a pouco entrou em declínio com a ascensão do exército turco que eles mesmos haviam criado, os mamelucos.

Menos de 150 anos após terem tomado o poder da Pérsia, os califas foram forçados a cedê-lo para emires dinásticos locais, que aceitavam sua autoridade de forma apenas nominal. O califado também perdeu as províncias ocidentais do Alandalus, Magrebe e Ifríquia para um príncipe omíada, para os Aglábidas e para o Califado Fatímida, respectivamente.

O governo dos abássidas foi exterminado por um breve período de 3 anos em 1258, quando o khan Hulagu, dos mongóis, saqueou Bagdá. Eles retomaram o poder no Egito mameluco em 1261, de onde continuaram a alegar autoridade religiosa sobre todos os muçulmanos até 1519, quando o poder foi formalmente transferido para o Império Otomano e a capital, realocada para Constantinopla (conquistada aos bizantinos em 1453).

Os califas abássidas eram árabes descendentes de Abas ibne Abdal Mutalibe (566–662), um dos tios mais jovens de Maomé, que se consideravam os verdadeiros sucessores de Maomé e adversários dos Omíadas. Estes, por sua vez, eram descendentes de Omíada e formavam um clã que se separou de Maomé na tribo de coraixita. Eles conseguiram o apoio dos xiitas (da sub-seita haximita, derivada dos Xiitas caisanitas) contra os Omíadas ao se converterem temporariamente ao islamismo xiita e se juntando a eles em sua luta contra os Omíadas.

Período do ouro

 

A Era de Ouro do Islã foi inaugurada no meio do século VIII pela ascensão do Califado Abássida e pela transferência da capital de Damasco para Bagdá. Os abássidas fora influenciados pelos mandamentos e hádices corânicos, como "a tinta de um acadêmico é mais sagrada que o sangue de um mártir", estressando o valor do conhecimento.

Durante este período, o mundo islâmico se tornou um centro intelectual para ciência, filosofia, medicina e a educação, pois os abássidas abraçaram a causa do conhecimento e criaram a Casa da Sabedoria em Bagdá. Ali, acadêmicos muçulmanos e não muçulmanos trabalharam para juntar todo o conhecimento do mundo e traduzi-lo para o árabe.

Diversas obras clássicas (grega e romana) da Antiguidade, que de outra forma teriam se perdido, foram traduzidas para o árabe e o persa, e mais tarde seriam traduzidas para o turco, o hebreu e o latim. Durante este período, o mundo muçulmano era uma miscelânia de culturas que colecionava, sintetizava e avançava de modo significativo o conhecimento herdado de civilizações antigas como os romanos, os chineses, o indianos, os persas, os egípcios, os gregos e os bizantinos.

Com informações de The Times of Israel

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24 agosto 2020, 10:42