Controles de coronavírus nas favelas de Cape Town Controles de coronavírus nas favelas de Cape Town  A história

Coronavírus na África do Sul: risco para migrantes e periferias

A Covid-19 nas periferias da Cidade do Cabo “seria um desastre”. São palavras do scalabriniano padre Filippo Ferraro, ao falar das favelas de Langa, Kayelitsha, Gugulethu e Nyanga. O missionário está há muitos anos ao lado dos migrantes, que estão longe do centro, vivem amontoados em casas onde convivem mais de uma família e sobrevivem ganhando por dia

Giada Aquilino – Cidade do Vaticano

O padre scalabriniano Filippo Ferraro, fala ao Vatican News da Cidade do Cabo, na África do Sul, onde vive desde 2014. O missionário conta que a África do Sul, é um dos países, junto com o Egito, com o maior número de casos de coronavírus no continente, com 6.783 mil casos e 131 mortos (4 de maio).

“Não saberia dizer se infelizmente ou por sorte na sociedade sul-africana, principalmente os que moram nas periferias pobres as chamadas “township”, há um certo hábito de conviver com as doenças. E isso foi visto na abordagem que as pessoas têm com o coronavírus: este perigo coloca-se junto com outros problemas, porque se não for a Covid-19 o problema é a tuberculose ou o HIV, cujas incidências são muito altas”. Padre Filippo é o diretor executivo do centro de estudos SIHMA, Scalabrini Institute for Human Mobility na África, e trabalha com quatro outros coirmãos, um mexicano, um filipino, um congolês e um brasileiro dedicando-se à migração em todos os seus aspectos. Da assistência aos migrantes no que se refere aos serviços legais ao acesso aos serviços de saúde, o mundo do trabalho, o papel da mulher na sociedade, cursos de língua inglesa, formação no campo dos direitos humanos, além de normais atividades pastorais e um projeto de casa-família com 25 crianças e adolescentes.

As favelas de Langa, Kayelitsha, Gugulethu e Nyanga

Em Cape Town, conta padre Ferraro, há uma situação “de tensão”. “A cidade – explica – conta com quatro grandes áreas que aqui chamamos de township e correspondem às favelas, nas quais as pessoas pobres vivem amontoadas em barracos construídos com tábuas ou lâminas de mais ou menos três metros quadrados. Chamam-se Langa, Kayelitsha, Gugulethu e Nyanga. A população migrante não mora nesta zona porque seria perigoso, mas concentra-se em outras áreas degradadas ou senão várias famílias alugam uma casa, onde cada família vive numa peça”. Ainda assim os migrantes e os habitantes das favelas “vivem do mesmo modo, manobristas, ou trabalham com lixo reciclado, separando-o e depois revendendo aos que comerciam madeira ou vidro”.

Mobilizado o as forças policiais

Testemunhos de várias partes do mundo confirmam o quanto seja difícil para as pessoas que ganham por dia, a situação de isolamento para prevenção do coronavírus. Cada vez é mais difícil conseguir comida e gêneros de primeira necessidade. “Com a providências adotadas pelos governos para deter o coronavírus”, diz o missionário, "que obrigou um distanciamento social e medidas de higiene, criou-se uma espécie de enorme panela de pressão, porque em lugares como as favelas não se consegue manter a distância social nem o respeito pelas medidas higiênicas: falamos de barracos sem serviços higiênicos, sem esgotos, com banheiros públicos dentro da própria favela. “O governo concentrou na entrada das favelas a mobilização das forças policiais para impedir o movimento destas pessoas: se o contágio chegasse dentro da favela seria um desastre, porque aqui neste país o sistema de saúde é como nos Estados Unidos, principalmente com seguro privado. Mas ao mesmo tempo os policiais fazem um controle social porque estas pessoas fechadas, isoladas, e sem possibilidade de ganhar o pão de cada dia, são risco de revoltas e tensões”.

A vida entre os barracos

Padre Ferraro continua seu relato dizendo que para fazer com que a comida chegue nas favelas, “deveria ser concedido algum fluxo ou movimento controlado”. “Deve-se acrescentar que existe uma economia informal dentro das favelas: muitos estrangeiros, como somalis e etíopes, têm pequenas lojas nas quais vendem de tudo, desde maçãs à batatinhas chips, acessórios para celulares etc. São chamados de ‘spaza’ e às vezes – considerando que não falam a língua local, na África do Sul há 11 línguas oficiais – chegam até a dar trabalho para os locais. Estas atividades ficaram fechadas por suas semanas, desde o início da emergência e depois reabriram, porque os habitantes não tinham onde comprar os alimentos”. Entre as medidas adotadas, prossegue o missionário, “o governo, segundo alguns, deu a possibilidade a um certo número de habitantes da favela a deslocarem-se para outras áreas menos congestionadas ou, segundo outros, forçou a transferência”, mesmo se – esclarece – os que foram deslocados querem voltar ao local onde sempre viveram.

Pequenos trabalhos

Com relação aos migrantes, padre Filippo recorda os que os scalabrinianos encontram diariamente em Cape Town. São provenientes do Congo, do Maláui, do Zimbábue em geral países francófonos do continente e do Chifre da África. É difícil fazer uma estimativa, mas acredita-se que na África do Sul podemos falar de aproximadamente 3 milhões de migrantes, mais ou menos reunidos nas grandes áreas de Durban, Johannesburg e Cape Town”. “Sobrevivem com pequenos trabalhos, como guardiões, domésticos, limpeza, jardineiros”, mas em plena emergência do Coronavírus “muitos estão passando por grandes dificuldades: para eles, o maior problema agora é pagar o aluguel”. E é por isso que “tivemos uma grande quantidade de pedidos de subsídios e de ajudas”.

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04 maio 2020, 13:41