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Afeganistão: apelo por uma trégua humanitária durante o Ramadã

“Um país dos países mais pobres do mundo, martirizado pela guerra há anos, agora sofre com o coronavírus e a população não recebe nenhuma ajuda econômica ou assistência”. Governo, líderes e organizações internacionais pedem uma trégua durante o Ramadã

Cidade do Vaticano

O apelo chega de todos os lados, desde o tuíte do enviado americano para a paz afegã, Zalmay Khalilzad, às organizações humanitárias como a Fundação Pangea através do seu presidente Luca lo Presti que comenta a situação: “O bem-estar do povo afegão e do país depende do compromisso de todas as partes em dedicar suas energias à luta contra a pandemia da Covid-19, o inimigo comum de todos”. O apelo lançado lançado aos Talibãs pelo presidente afegão Ashraf Ghani e pelo seu rival Abdullah Abdullah de cessar-fogo para o período do Ramadã foi recusado assim como um análogo apelo de trégua, para que deixem a guerra de lado e se concentrem na luta contra o vírus.

Luca lo Presti, o presidente da Fundação Pangea explica que “a situação é dramática porque no país não há possibilidade de terapia para o coronavírus”. Atualmente conta (em 29 de abril) com 1.828 casos, 231 internados com 60 mortes. Em Cabul, “o fechamento das lojas e escritórios foi prorrogado, para mais um mês. A maior concentração de pessoas, é nas principais cidades, é claro, porém a situação real dos povos que vivem nas montanhas, ou vilarejos ou mesmo nas fronteiras com o Irã, penso que jamais saberemos”.

ONU: preocupante aumento da violência

No entanto o relatório das Nações Unidas publicado em 27 de abril, cita que mais de 500 civis, entre os quais 150 crianças, foram mortos por causa dos combates no Afeganistão nos primeiros três meses de 2020. A ONU destaca um “preocupante aumento” da violência durante o mês de março, em um momento em que se esperava que o governo e os talibãs tivessem encaminhado uma negociação de paz. Os elementos antigovernamentais continuam a ser os responsáveis pela maior parte das vítimas civis: a missão de assistência da ONU no país atribuiu a culpa de 39% aos talibãs, 13% ao Estado Islâmico e resto a forças indeterminadas.

Apelos pela trégua

Chegaram apelos vindos desde o Papa Francisco ao Secretário Geral da ONU Guterres para que cessem as armas nos países atingidos pelas guerras. No Afeganistão, dia 24 de abril, o presidente Ghani ofereceu um cessar-fogo aos talibãs durante o Ramadã, mas o grupo recusou a trégua e acusou o governo de bloquear o processo de paz. Também a OTAN, alguns dias atrás pediu aos talibãs do Afeganistão para que “reduzam as violências” e unam-se às negociações de paz pedindo uma aceleração na libertação de prisioneiros. “Não vejo esperanças concretas de trégua porque os interesses não correspondem a um acordo”, comentou o presidente da Fundação Pangea.

Três médicos para cada 10 mil habitantes

Dias atrás, um outro relatório, apresentado pelo Programa Alimentar Mundial sublinhou que por causa da pandemia em 2020 poderia duplicar o número de pessoas que passam fome em todo o planeta, calculando que “daqui ao final do ano corre-se o risco de chegar a 250 milhões de pessoas com fome”. Para a Agência das Nações Unidas, o Afeganistão é um dos dez países com a pior crise alimentar. Além disso, segundo o Banco Mundial, o país conta com apenas três médicos para cada 10 mil habitantes e o índice que calcula a preparação para enfrentar as epidemias coloca o Afeganistão entre os menos preparados no mundo.

Sem possibilidade de cura

O presidente da Fundação Pangea mantém contato diário pelo WhattsApp com os agentes que trabalham nos projetos no Afeganistão. “A nossa preocupação baseada nas informações que recebemos é que se a população for atingida de maneira importante, não há instrumentos para ser salva. Os hospitais privados ou internacionais são caríssimos e inacessíveis, poucos podem se permitir e os hospitais públicos se encaminham para uma situação dramática. Também estamos preocupados com a economia que pode cair tragicamente porque, ao contrário dos países ocidentais, não recebe nenhuma ajuda econômica ou assistência para a população”.

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29 abril 2020, 12:28