Memorial na cerimônia do 24º aniversário do massacre de Srebrênica Memorial na cerimônia do 24º aniversário do massacre de Srebrênica 

O genocídio de Srebrênica 24 anos depois

No dia 11 de julho de 1995 o exército sérvio bósnio massacrou mais de 8 mil muçulmanos inermes depois da conquista da pequena cidade de Srebrênica, que deveria estar sob a proteção dos capacetes azuis da ONU.

Cidade do Vaticano

Os restos mortais de Osman Cvrk, que em 11 de julho de 1995 tinha 16 anos, serão colocados em um pequeno caixão de lenha verde e enterrados no memorial do genocídio de Srebrênica, junto com outros 32 muçulmanos bósnios mortos no pior massacre da Europa desde a Segunda Guerra Mundial. No memorial já estão sepultadas 6.610 vítimas, mas segundo as autoridades internacionais na região de Srebrênica foram mortas 8.372 pessoas entre 11 e 16 de julho de 1995. Os crimes foram cometidos pelas milícias do exército sérvio bósnio guiadas pelo general Ratko Mladić, condenado em primeira instância à prisão perpétua por genocídio e crimes contra a humanidade pela Corte Internacional de Justiça das Nações Unidas (Corte de Haia) em novembro de 2017.

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Depois de três anos de assédio, o massacre

Vinte e quatro anos atrás as tropas do general Mladić entraram na cidadezinha de Srêbrenica, que estava sob assédio há três anos e tinha sido decretada em maio de 1993 como “área protegida” pela ONU com a proteção dos Capacetes Azuis. Na cidade estavam refugiados os bósnios muçulmanos que tinham fugido dos vilarejos da região. Havia 40 mil pessoas, porque Srebrênica era o maior centro muçulmano de uma região com a maioria sérvia. Naquele dia cerca de 25 mil tinham se dirigido a Potocari, buscando refúgio na base dos capacetes azuis holandeses, mas os homens de Mladic já tinham começado o massacre. Reuniram todos os homens entre 15 e 65 anos, separando-os das mulheres, crianças e idosos.

Mulheres e crianças deportadas, homens assassinados

Mais de 23 mil foram deportados em ônibus e caminhões para a região de Tuzla na noite de 13 de julho. No mesmo dia os capacetes azuis holandeses obrigaram os refugiados a deixar a base. Entre 12 e 23 de julho uma parte dos homens e dos jovens fugiu para Tuzla atravessando a floresta, naquela que foi mais tarde chamada “a marcha da morte” porque foram mortos em emboscadas, devastados pelos bombardeios, por fim entregaram-se e foram presos. As primeiras execuções em massa começaram na tarde de 13 de julho com o fuzilamento de 150 muçulmanos em Cerska e se concluíram em 16 de julho, quando começaram as escavações das valas comuns. Depois de um mês e meio, militares e policiais sérvios bósnios, para ocultar as provas do massacre, desenterraram os corpos das vítimas e sepultaram em outra localidade da região.

As valas comuns encontradas graças aos sobreviventes

Valas comuns que puderam ser encontradas graças ao testemunho dos sobreviventes e documentos reunidos ao longo de dezenas de processos por crimes de guerra. Os processos foram realizados na Corte Internacional de Justiça das Nações Unidas (Corte de Haia) e também junto os Tribunais locais da região. Pelo genocídio de Srebrênica até agora foram condenadas por crimes de guerra 70 pessoas: 20 pela Corte de Haia e 50 pelo tribunal de Sarajevo. Treze condenados, entre os quais três comandantes militares sérvios e o chefe político dos sérvios bósnios Radovan Karadzic foram condenados a prisão perpétua.

Um genocídio para destruir na região a etnia bosníaca

Em 2007 a Corte de Haia estabeleceu que o massacre, por ter sido cometido com o objetivo de destruir o grupo étnico dos bosníacos (os muçulmanos bósnios), é considerado um “genocídio”. Em 21 de junho de 2017 a Corte de Apelo de Haia confirmou a sentença de primeira instância, ou seja, que o governo holandês é parcialmente responsável pela morte de 300 muçulmanos, porque os soldados holandeses obrigaram os refugiados que buscavam reparo na sua base a abandoná-la, entregando-os de fato aos carnífices, “privando-os da possibilidade de viver”.

As desculpas do parlamento de Belgrado e do presidente sérvio

Em 31 de março de 2010 o parlamento da Sérvia, com o então presidente Milosevic que sustentava e financiava o exército sérvio bósnio, aprovou , depois de quase 13 horas de discussão, uma resolução que condenava o massacre, sem defini-lo genocídio e pedia desculpas pelas vítimas. Em 25 de abril de 2013 o presidente sérvio Tomislav Nikolic, durante uma entrevista à emissora televisiva bósnia BHRT, ajoelhou-se pedindo perdão pelo massacre de Srebrênica.

Vítimas civis também nos vilarejos sérvios

Durante a guerra as tropas bosníacas (muçulmanos bósnios), guiados por Naser Orić, foram protagonistas de alguns ataques aos vilarejos sérvios nos arredores de Srebrênica. O Centro de Pesquisas e documentação de Sarajevo, centro de estudos independente com equipe de várias etnias, calculou, no município de Bratunac, 119 vítimas civis sérvio-bosníacas e 424 soldados. 

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11 julho 2019, 11:31