Policiais diante da Igreja de Santo Antônio, em Colombo, capital do Sri Lanka Policiais diante da Igreja de Santo Antônio, em Colombo, capital do Sri Lanka 

Sri Lanka: mortos nas explosões são 253, corrige governo

O Ministro da Saúde do Sri Lanka afirmou na quinta-feira, 25, que houve um erro de cálculo no primeiro relatório, que acabou "viciando" os informes subsequentes.

Cidade do Vaticano

Autoridades do Sri Lanka corrigiram ontem, quinta-feira, os dados sobre o número de mortos dos ataques do Domingo de Páscoa: seriam na realidade 253, ao invés dos 358 anunciados na última "confirmação oficial". Entre os mortos há 50 crianças. O Ministro da Saúde – segundo o site da BBC – afirmou  que houve um erro de cálculo no primeiro relatório, o que acabou "viciando" os informes subsequentes.

Enquanto isso, todas as igrejas católicas no país estão fechadas "até novo aviso" - como confirmado por um bispo da ilha. "Por sugestão das forças de segurança - informou o prelado à Agência AFP - não haverá Missa pública até novo aviso."

Líder do grupo morreu em uma das explosões

 

E nesta sexta-feira, autoridades cingalesas anunciaram em uma conta oficial no Twitter, que Mohamed Zahran, o líder do grupo militante nacional Towheed Jamaat, conhecido por seus discursos extremistas nas redes sociais, morreu em um dos nove atentados suicidas.

A polícia também afirmou que o número 2 da organização terrorista foi preso, e que investigadores descobriram que os terroristas receberam treinamento militar de alguém que eles chamavam de "Exército Mohideen", e que o treinamento com armas foi feito no exterior e em alguns locais na Província Oriental do Sri Lanka.

Até agora, 77 pessoas com ligações com os ataques foram presas, enquanto a operação lançada por toda a ilha continua, com verificações de segurança em residências e locais frequentados por pessoas suspeitas de estarem envolvidas nos massacres.

Ministro da Defesa se demite

 

Atendendo ao pedido do presidente do Sri Lanka Maithripala Sirisena, o secretário da Defesa Hemasiri Fernando pediu demissão na quinta-feira.  Ele assumiu a responsabilidade pela falta de comunicação entre algumas instituições e agências estatais em relação aos alertas emitidos pelo Serviço de Inteligência indiano. O pedido de Sirisena foi extensivo a toda a cúpula dos Serviços de Informação.

Sobre a negligência na troca de informações, o primeiro-ministro cingalês, Ranil Wickremesinghe, declarou na quinta-feira que não houve "conluio com terroristas, mas negligência por parte do aparato de segurança". Em entrevista à emissora árabe Al Jazeera, o chefe do governo confirmou "o grande fracasso na comunicação entre os serviços de segurança".

O Serviço de Inteligência indiano, de fato, havia emitido alertas às autoridades do Sri Lanka, inclusive horas antes dos atentados, de que estava em curso um plano de ataques contra igrejas e instituições do governo. O primeiro alerta chegou no dia 4 de abril e o último, poucas horas antes dos atentados, mas a informação não foi compartilhada sequer com o presidente Sirisena, que havia se reunido com o Comitê de Segurança já no dia 7 de abril.

Para polícia, grupo local é o responsável pelos atentados

 

Apesar do autoproclamado Estado Islâmico ter assumido a autoria dos sangrentos atentados no Domingo de Páscoa,  desde o início das investigações o governo cingalês trabalha com a hipótese de que a ação coordenada tenha sido executada pelo grupo terrorista local National Thowheed Jamath (NTJ).

Ao atribuir ao grupo a autoria dos ataques, o porta-voz do governo, Rajitha Senaratne, reitera que a organização não agiu sozinha. "Há uma rede internacional sem a qual estes ataques não poderiam ter sido bem-sucedidos".

Na terça-feira,23, Ruwan Wijewardenem havia falado também da reivindicação do ISIS que afirmava que os atentados eram uma "represália" pelos ataques à mesquita de Christchurch. Mas no mesmo dia a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, disse que o governo não tinha conhecimento de nenhuma informação de que o massacre no Sri Lanka tenha sido planejado como uma represália

As oito explosões em três cidades do país no domingo, deixaram um saldo de 253 (número revisto) mortos, a maioria do Sri Lanka. Mas entre as vítimas há também australianos, indianos, chineses, dinamarqueses, estadunidenses, holandeses, portugueses, ingleses, sauditas e turcos. Outros 87 explosivos não acionados foram encontrados na segunda-feira em terminais de ônibus.

Mulher entre os kamikazes

 

Entre os nove kamikazes que participaram dos atentados, havia uma mulher. Citando fontes policiais, o site cingalês Newsfirst afirmou que ela era a mulher de um dos terroristas e durante uma verificação policial no local onde moravam, detonou explosivos, matando também seus dois filhos. O irmão do suspeito procurado, também detonou explosivos, matando três policiais.

“Muitos deles tinham uma boa instrução e eram de família de classe média ou média alta, independentes financeiramente e suas famílias estáveis do ponto de vista econômico. E este é um fator preocupante”, disse em uma coletiva de imprensa na quarta-feira o então ministro da Defesa, Ruwan Wijewardene, acrescentando que muitos deles haviam estudado no exterior. Ao menos um deles estudou no Reino Unido e depois na Austrália.

Dois dos kamikazes por exemplo, Imsath Ahmed Ibrahim e Ilham Ahmed Ibrahim, eram filhos e herdeiros de um conhecido empresário do país, fundador da Ishana Exports, o maior exportador de especiarias do Sri Lanka, Mohamed Ibrahim. Ele chegou a ser preso, foi libertado e agora preso novamente sob acusação de cumplicidade com os filhos. Outro kamikaze é Abdul Lathief Jameel Mohamed, identificado por fontes britânicas da área de segurança. Ele estudou no Reino Unido entre 2006 e 2007.

Quem é o National Thowheed Jamath

 

O grupo teria surgido há cerca de três anos, ao se separar de outro grupo islâmico extremista, o Thowheed Jamath do Sri Lanka, tendo sido responsabilizado por atos de vandalismo contra templos budistas, com a destruição de estátuas de Buda em Mawanella, na região central da ilha. Sua base de operações era a costa leste do país. Em março de 2017, o grupo havia se envolvido em violentos conflitos em Kattankudy, local de maioria muçulmana, próximo a Batticaloa, uma das cidades onde ocorreram ataques no Domingo de Páscoa.

O National Thowheed Jamath é considerado um grupo  extremista dentro da pequena minoria religiosa muçulmana no país, 9,7% da população. Os budistas são a maioria, 70% da população, e os cristãos 7,5%.

De acordo com especialistas consultados pelo programa Newshour, da BBC, o grupo National Thowheed Jamath é formado quase exclusivamente por jovens e parece não ter uma hierarquia ou estrutura sólida, nem líderes mais experientes. A figura mais influente é Mohamed Zahran, jovem pregador extremista cujo nome fazia parte dos alertas emitidos pelo Serviço de Inteligência Indiano.

Ex-combatentes na Síria e Iraque

 

Quando foi declarado o Califado Quando Estado Islâmico assumiu o controles de vastas áreas do Iraque e da Síria, muito muçulmanos extremistas cingaleses juntaram-se às fileiras do Califado. Com as derrotas sofridas no campo de batalha, muitos deles retornaram aos seus países de origem.

Alan Keenan, diretor para Sri Lanka da organização não governamental International Crisis Group, afirmou à BBC que os recentes ataques mostram que o National Thowheed Jamath busca levar o movimento jihadista global à ilha e fomentar ódio, medo e divisão na sociedade.

(Com Agências)

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26 abril 2019, 07:31