Busca

Papa Francisco e o Grão Imame de  Al-Azhar, Ahmad Muhammad Ahmad al-Tayyib Papa Francisco e o Grão Imame de Al-Azhar, Ahmad Muhammad Ahmad al-Tayyib 

Imame Yahya sobre Declaração: o espaço para a ambiguidade acabou

Segundo o presidente da Comunidade Religiosa Islâmica Italiana, Yahya Pallavicini, "ninguém poderá mais dizer que a sua é uma interpretação do Islã ou uma necessidade política nacional. A partir de hoje, foi sancionado um princípio partilhado por todos".

Cidade do Vaticano

Um documento “histórico” de “grande inspiração e concreto”. Um texto de referência que define os princípios de liberdade e direitos. Uma declaração de “peso”, pois tira toda possibilidade futura de outras interpretações e ambiguidades.

Estas são as palavras do imame Yahya Pallavicini, presidente da Comunidade Religiosa Islâmica Italiana (Coreis) que, de Abu Dhabi, comenta à Agência Sir o “Documento sobre a fraternidade humana” que o Papa Francisco e o Grão Imame de  Al-Azhar, Ahmad Muhammad Ahmad al-Tayyib, assinaram juntos.

Um compromisso solene que os dois líderes religiosos subscreveram no final da Conferência Global da Fraternidade Humana que reuniu, de 3 a 5 deste mês, 700 líderes religiosos do mundo inteiro.

Ao reiterar a importância do papel das religiões na construção da paz no mundo, o Documento enfrenta os nós nevrálgicos da convivência pacífica e do diálogo entre as religiões.

Temas chaves que, durante séculos, provocaram sofrimentos e injustiças, como o da liberdade de crença, a proteção dos lugares de culto (templos, igrejas e mesquitas), a condenação do terrorismo, o conceito de “cidadania plena” e a renúncia ao uso discriminatório do termo “minorias”, e os direitos das mulheres.

Iniciamos com o ponto sobre a liberdade. O documento condena o fato de constringir “as pessoas a aderir a uma certa religião ou a um estilo de civilização que os outros não aceitam”. Um ponto delicado, infelizmente desconsiderado em muitas partes do planeta. O que vai mudar no futuro?

Pallavicini: “É um ponto fundamental, porque restitui, como religiosos, o valor sagrado da liberdade e a adesão comum de muçulmanos e cristãos na afirmação de que, em virtude da liberdade, não é absolutamente possível violar a liberdade dos outros. A liberdade é um direito de cada ser humano que deve ser respeitado como fiéis e com o bons cidadãos. É um dos pontos fundamentais.”

“Por isso, de agora em diante não existe mais nenhuma possibilidade de negociar ou oprimir a liberdade do outro. Deve ser respeitada.”

Outro ponto tocado no documento é a condenação do terrorismo. Quanto pesam as vozes de Francisco e do Grão Imame de Al-Azhar no mundo árabe?

Pallavicini: “Este ponto confirma as declarações constantes do Papa Francisco e as declarações que também al-Tayyib e outras autoridades islâmicas do mundo fizeram durante esses anos. Mas aqui eles fazem juntos. Assinando o Documento conjunto, encerra-se definitivamente toda possibilidade de confusão onde se possa, em nome de Deus ou em nome de uma suposta religião, organizar crimes violentos em detrimento da vida de um povo ou de uma pessoa. Para nós fiéis era óbvio, mas era necessário sancioná-lo de uma forma incisiva que eu nunca tinha visto antes.”

“De agora em diante, não há mais espaço para nenhuma mistificação da religião ou divindade que possa legitimar uma violência.”

Quanto as vozes do Papa Francisco e de al-Tayyib são ouvidas, num contexto árabe e sobre temas como a liberdade religiosa, a proteção dos lugares de culto, o direito das mulheres e a condenação do terrorismo?

Pallavicini: Há uma esperança forte e a primeira razão que nos impele a esperar é regional. É relevante que a Conferência e esta Declaração tenham sido feitas nos Emirados Árabes Unidos, na presença de representantes religiosos de todo o mundo árabe e do xeique de Al-Azhar que é a máxima autoridade sunita e também uma autoridade no Egito. É relevante o fato de que na região médio-oriental árabe, o Egito e os Emirados Árabes Unidos tenham vivido de maneiras diferentes a ilusão e a manipulação do Islã político fundamentalista e tomaram radicalmente distância, condenando toda instrumentalização dos movimentos fundamentalistas ou do terrorismo de al-Qaeda e do Estado Islâmico.”

O Documento toca também a questão da cidadania e das minorias. Pallavicini, podemos esperar uma vida melhor para os cristãos que vivem no Oriente Médio?

Pallavicini: “Este documento é uma declaração pública, apoiada também pela mídia. Se um político ou governador discriminar uma minoria cristã, ficará evidente para todos que ele trai esse documento. Gostaria de sublinhar também como o Documento realmente pede para renunciar ao uso discriminatório do termo minorias porque, lê-se, traz consigo “as sementes do sentir-se isolados e de inferioridade”. Portanto, foi colocado um limite.”

“Ninguém poderá mais dizer que a sua é uma interpretação do Islã ou uma necessidade política nacional. A partir de hoje, foi sancionado um princípio partilhado por todos.”

O senhor está dizendo que a partir de hoje não poderá mais haver nenhuma legitimação de qualquer forma de discriminação e abuso da liberdade individual?

Pallavicini: "Digamos que, a partir de agora, o espaço para a ambiguidade acabou. Não há mais possibilidade de ser ambíguo. Como o Papa Francisco disse, aqui se fala de “alteridade”. Isso significa que devemos respeitar o outro em sua diversidade, caminhar juntos e descobrir que o outro, embora use uma gramática diferente e um padrão diferente de interpretação, é meu irmão. Quem manipular ou desconsiderar esses princípios, significa que quer ser esperto e cavalgar na ambiguidade de antes.

Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui

05 fevereiro 2019, 14:08