Protestos contra a corrupção e contra o Presidente do Haiti Jovenel Moise Protestos contra a corrupção e contra o Presidente do Haiti Jovenel Moise 

Haiti no caos. O testemunho de uma irmã

No Haiti reina o caos, nos últimos dias multiplicaram-se as violências com vítimas entre os manifestantes que protestam contra o governo e polícia. Irmã Marcella Catozza fala sobre o drama do Haiti e do seu trabalho no orfanato em uma favela da capital

Cidade do Vaticano

Há dias prosseguem no Haiti as manifestações de protesto com violentos enfrentamentos. Na mira dos manifestantes o pedido para que o atual presidente da República, Jovenel Moise seja demitido. Na capital Port-au-Prince, milhares de pessoas marcharam na direção do Palácio Nacional, e enfrentaram a polícia que lançou gás lacrimogênio, enquanto os manifestantes tentavam saquear as lojas e incendiar os automóveis, na ocasião morreram 11 pessoas. A maioria das escolas e departamentos públicos ainda estão fechados, mesmo se a situação no dia 26 de novembro parecia mais tranquila.

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Os motivos dos protestos

Os manifestantes acusam o presidente de não ter aberto uma investigação devido às acusações de corrupção, dirigidas à administração precedente, em mérito do Petrocaribe, a aliança com a Venezuela para a compra de petróleo com condições de pagamento favoráveis. O Haiti recebeu 3,8 bilhões de dólares no âmbito do programa Petrocaribe ao qual participaram outros Governos do Caribe. Porém, apesar do escândalo, o presidente do Haiti declarou que não tem nenhuma intenção de se demitir.

O apelo à oração da irmã Marcella

Irmã Marcella Catozza, missionária italiana franciscana, sempre trabalhou com crianças, na Albânia, Kosovo e Brasil e mora no Haiti há 13 anos. Aqui, na favela de Waf Jeremie, na capital, com outras duas irmãs, criou um posto de saúde pediátrico que aos poucos se transformou numa verdadeira clínica chamada Sem Franswa, à qual uniu-se o orfanato com 140 crianças e uma escola materna com 450 crianças. “O país está no caos”, escreveu irmã Marcella em uma carta aberta, pedindo orações pela sua gente  e denunciando o silêncio da mídia nacional e a indiferença internacional enquanto prossegue a tragédia diária no Haiti.

Ninguém sabe o que pode acontecer amanhã

Em Port-au-Prince há vários dias estão fechadas as escolas, os bancos, os supermercados, e as ruas estão vazias. Vive-se em uma total incerteza. “Atualmente a situação está mais calma, mas não se sabe o que poderá acontecer nos próximos dias, porque creio que exista algo bem mais perigoso do que os enfrentamentos de criminosos: parece que as ações estejam sendo comandadas por alguém. Portanto depende das decisões que serão tomadas e os desdobramentos no equilíbrio político mundial: se o presidente será apoiado ou não. Porém o clima está melhor com relação à semana passada. Ainda se vê os sinais de violência, com muita destruição, carros incendiados, containers revirados, mas tudo mais calmo. E isso é um bom sinal, embora a situação não esteja resolvida, mas simplesmente adiada…”.

No Haiti falta tudo e para os jovens não tem emprego

Diante dos protestos contra o governo, dias atrás o primeiro ministro haitiano prometeu ajuda para os bairros mais pobres e novos empregos. Promessas que segundo irmã Marcella, não se concretizarão. “O problema nasce nos bairros pobres – prossegue a irmã – estamos em uma favela que nasceu em cima de um depósito de lixo da capital, e é um dos bairros mais violentos e pobres da cidade. Aqui não existe emprego. Todas estas promessas são realmente impossíveis de serem mantidas, não há condições: não há segurança, nem serviços, nem água, luz, ruas etc. Por isso ninguém investe para criar vagas de trabalho no Haiti. Nossos jovens vivem nas ruas e logo se ligam a grupos criminosos, praticamente é o único modo de sobreviver. Moro aqui há 13 anos e ouvi estes discursos muitas vezes, são as mesmas promessas de todos os governos precedentes. Não é simples porque a situação no Haiti é muito, mas muito complicada, sob todos os pontos de vista”.

No orfanato há alegria, apesar das condições difíceis

Nessa difícil realidade irmã Marcella descreve a vida do seu orfanato que continua, apesar de tudo: “Aqui não estamos mal – diz – no sentido que as crianças estão sempre alegres, felizes, conversadeiras e simpáticas, portanto aqui a vida continua a explodir. Procuramos sempre fazer com que as crianças não sintam as tensões de fora, por isso, nestes dias continuamos o ritmo de vida do orfanato de modo normal".

“Quando não podíamos sair por causa das violências, o maior problema era a falta de água tanto potável como não potável: ter crianças que estão com sede e pedem água e explicar que no momento não tem, não é fácil. Porém eles são muito bonzinhos e aguardam, eles superaram bem esta pequena dificuldade”

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29 novembro 2018, 13:43