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Nomeado Administrador Apostólico de Luang Prabang, antiga capital do Laos, viveu a vida de um autêntico missionário, dedicando-se com zelo e caridade a servir seu povo. Nomeado Administrador Apostólico de Luang Prabang, antiga capital do Laos, viveu a vida de um autêntico missionário, dedicando-se com zelo e caridade a servir seu povo. 

O adeus a Pe. Tito Banchong, sacerdote do povo do Laos

Foi ordenado sacerdote, o primeiro do grupo étnico Hmong, em 28 de setembro de 1975. Embora nunca tenha criticado os governantes, padre Tito foi preso três vezes. Uma vez fora da prisão, nenhuma lamentação: "Fui libertado. Depois que me libertaram, pude ir procurar todos os cristãos na Província de Sião e os encontrei. Muitos dos que ainda estavam, lá há mais de 30 anos que não tinham nenhum padre”.

Por Paulo Affatato*

"Já estou pronto para Jesus, para ser seu mártir, se eu for digno e se Ele me quiser. Agora acredito que o tempo já está muito próximo". Assim escrevia Tito Banchong Thopanhong, sacerdote laosiano, pouco antes de ser preso pela polícia de Pathet Lao em 1976.

Tito Banchong Thopanhong, Administrador Apostólico de Luang Prabang entre 1999 e 2019, faleceu em Vientiane no último 25 de janeiro aos 78 anos, após uma longa doença, também devido às dificuldades que sofreu durante 50 anos. 

Padre Tito, membro da Congregação dos Oblatos de Maria Imaculada, permaneceu na prisão por sete anos. Durante todo esse tempo, nada se ouviu sobre ele. Muitos pensaram que ele havia sido morto. Em vez disso, ele acabou sendo libertado e pode retomar sua vida como um simples pastor para a pequena comunidade católica do Laos, hoje com cerca de 60 mil católicos.

Tito é o nome que Banchong Topagnong recebeu por volta dos 8 anos de idade, quando foi batizado, junto com sua família, no povoado de Hmong de Kiukiatan, no norte do Laos, onde nasceu em 1947. Nesse mesmo local, nos anos 1957-58 teve a graça de conhecer e estar entre os jovens que seguiam e realizavam serviço junto ao altar com padre Mario Borzaga, o missionário que foi beatificado em 2016.

"Tito sempre conservou uma preciosa recordação daquele sacerdote que marcou profundamente sua vida" , lembra seu confrade Fabio Ciardi, com quem cultivou uma profunda amizade humana e espiritual.

Com os missionários, o jovem teve a oportunidade de estudar e aprofundar seu caminho de fé: naqueles anos, entre 1958 e 1969, foi aluno dos Seminários, primeiro em Vientiane e depois em Luang Prabang.

Padre Angelo Pelis, missionário OMI, então diretor do Seminário de Luang Prabang, lembra-se dele como "um rapaz simples, reservado, gentil e sorridente. O traço de seu caráter que o caracterizará por toda a sua existência é a humildade: uma humildade desenhada a exemplo de Cristo Jesus”, recorda o sacerdote à Fides.

O jovem Tito decide continuar sua formação com os Oblatos na Itália. Assim, em 1970, Alessandro Staccioli OMI, então Vigário Apostólico de Luang Prabang, o envia para estudar na Itália, onde permanecerá primeiro em San Giorgio Canavese e depois, a partir de 1973, em Vermicino (Roma) estudando filosofia e teologia.

Em uma das cartas reunidas no livro “Mesmo na prisão eu posso amar” de Michele Zanzucchi, padre Tito escreve: “Eu ainda estava incerto sobre minha vocação, mas pouco a pouco senti o desejo de seguir Jesus de forma radical, de seguir, isto é, aquele Senhor que parecia desejar imensamente que eu o amasse. Era ele  que estava interessado em mim, não eu nele. Ele me conduziu pouco a pouco, fazendo-me entender que nele eu sempre encontraria o verdadeiro sentido da minha vida".

Enquanto estava na Itália, ocorreu uma mudança de regime em seu país, com a tomada do poder pelos guerrilheiros comunistas do Pathet Lao e, em 1975, todos os missionários foram expulsos do Laos.

Padre Tito sente um forte chamado para sua terra, o chamado para se dedicar ao seu povo, o chamado para ser sacerdote para o povo do Laos, o desejo de ser testemunha de Cristo precisamente ali e não em outro lugar. Isso leva Tito a retornar ao Laos. “Escolhi a Igreja do Laos e sinto que Deus me quer lá e não em outro lugar”, escreve ele. “Mesmo que eu tenha que ser padre por apenas um dia, vou voltar para o Laos.”

"Decidi retornar ao Laos, não há ninguém para o apostolado. Volto para que todos nós sejamos mais fortes, volto para ajudar os fiéis. Retornando, escolhi somente Deus; é Ele quem me faz retornar e é por isso que retorno".

Lá, na Catedral de Vientiane, é ordenado sacerdote, o primeiro do grupo étnico Hmong, em 28 de setembro de 1975, pelas mãos de dom Thomas Nantha.

No dia seguinte ele escreveu: "Agora já não tenho mais medo, porque sou do Senhor. Estou pronto para tudo. Estou muito feliz. Ninguém pode me separar d'Ele. A cada dia descubro mais e mais que Ele está comigo. Eu O tenho. Como é lindo, não? "Ele me pede tudo, eu  lhe dou tudo."

Tem início assim um serviço pastoral rigidamente controlado e que o leva à prisão, primeiro em Luang Prabang, depois em Vientiane e por fim em Paksane. Ele viaja pelos povoados em sua motocicleta, confortando as pessoas e administrando os Sacramentos às famílias católicas.

Embora nunca tenha usado palavras críticas em relação aos governantes, padre Tito foi preso três vezes, "aprendendo a encontrar até nas mais duras dificuldades a ternura do amor de Deus", recorda padre Pelis. Sobre sua prisão ele dirá: "Pode-se dizer que todos os bandidos na prisão se converteram, se tornaram bons. Com o amor é possível romper mesmo as correntes do ódio".

Uma vez fora da prisão, nenhuma lamentação: "Fui libertado. Depois que me libertaram, pude ir procurar todos os cristãos na Província de Sião e os encontrei. Muitos dos que ainda estavam, lá há mais de 30 anos que não tinham nenhum padre”, contava com alegria

Nomeado "Administrador Apostólico" de Luang Prabang, a antiga capital, ele viveu a vida de um autêntico missionário, dedicando-se com zelo e caridade a servir seu povo.

Em 2005, ele comunicou com alegria e fervor à Agência Fides que no Vicariato de Luang Prabang havia recebido permissão para abrir a primeira igreja católica no norte do Laos desde os tempos dolorosos de 1975, após a revolução comunista. E foi dito que foi "muito edificado pela fé e devoção das famílias locais".

Em seu trabalho pastoral, ele prosseguia “passo a passo, com esperança, tanto quanto o Senhor nos concede”, ele gostava de dizer. Essa esperança tornou-se alegria plena quando viu florescer na pequena comunidade laosiana as primeiras novas vocações ao sacerdócio e quando, em 2016, participou da liturgia de beatificação de 17 mártires entre missionários e leigos laosianos, mortos entre 1954 e 1970 por guerrilheiros comunistas.

Entre os seis Oblatos de Maria Imaculada (OMI) beatificados estava o jovem missionário italiano Mario Borzaga, que morreu em 1960 aos 27 anos, junto com o catequista local Paolo Thoj Xyooj. Tito os carregava no coração.

* Jornalista, responsável pela “redação Ásia” na Agência Fides

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04 fevereiro 2025, 07:36