Busca

Dom Luiz Fernando Lisboa com o Papa Francisco em visita ad Limina no Vaticano, em 2022 Dom Luiz Fernando Lisboa com o Papa Francisco em visita ad Limina no Vaticano, em 2022 

Dom Luiz Fernando: do Papa à Igreja no Brasil, a ajuda que chega à África

O arcebispo brasileiro que esteve por quase 20 anos em Pemba, em Moçambique, primeiro como missionário e depois como bispo, está de volta ao Brasil desde 2021. O coração, porém, ainda bate pela África, "com quem temos uma dívida impagável". A Igreja no Brasil tem ajudado recebendo seminaristas africanos. Uma preocupação em nível internacional que foi despertada "quando o Papa começou a falar da guerra de Cabo Delgado e as ajudas cresceram", afirma dom Luiz Fernando Lisboa ao Vatican News
Ouça a reportagem especial e compartilhe

Andressa Collet - Vatican News

A missão continua a mesma, "mas a mudança de continente diz muito", afirma dom Luiz Fernando Lisboa em entrevista a Silvonei José durante os trabalhos da edição de número 60 da Assembleia Geral da CNBB - a segunda presencial após a pandemia - que termina na sexta-feira, 28 de abril, em Aparecida/SP. O arcebispo brasileiro está a frente da diocese de Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, desde fevereiro de 2021, numa "Igreja bem estabilizada a partir das comunidades eclesiais de base e dos círculos bíblicos". Anteriormente, porém, ele esteve por quase 20 anos, como missionário e depois como bispo, em Pemba, capital da província de Cabo Delgado, em Moçambique, uma "cidade culturalmente muito bonita e com uma Igreja viva e jovem, mas num ambiente de muito sofrimento", contou dom Luiz, já que vive uma onda de violência e ataques a cristãos com a insurgência islâmica que começou em 2017:

"Não só por causa da pobreza em si - Moçambique é um dos 10 países mais pobres do mundo, e eu estava na região mais pobre que é a região norte -, mas estamos também enfrentando uma guerra terrorista por causa de recursos naturais e uma guerra que já fez mais de 6 mil mortos e 1 milhão de deslocados. Então era um trabalho muito diferente da Igreja. Para ter uma ideia, nós tínhamos lá na Caritas, antes da guerra, 5 pessoas e nós passamos para 80 pessoas, tamanho a quantidade de trabalho e de recursos com que nós tivemos que lidar para atender as pessoas da guerra."

Dom Luiz Fernando Lisboa durante a assembleia destes dias em Aparecida
Dom Luiz Fernando Lisboa durante a assembleia destes dias em Aparecida

O apelo de dom Luiz: não esquecer as guerras da África

O arcebispo brasileiro de coração africano foi quem denunciou ao mundo os ataques sofridos em Cabo Delgado, que continuam atualmente no norte de Moçambique e por toda África, alertou dom Luiz:

"As pessoas continuam ainda vivendo debaixo de lonas, nos quintais, vivendo de favor. As ajudas internacionais que no início, depois que o Papa entrou, digamos assim, na guerra, começou a falar da guerra de Cabo Delgado, as ajudas cresceram. Mas depois que começou a guerra entre Ucrânia e Rússia as atenções se voltaram para lá e agora há uma escassez de recursos, inclusive na Igreja, porque os recursos diminuíram muito. O apelo que eu faço é que nós não esqueçamos as guerras da África que são cerca de 30: das 50 guerras atuais no mundo cerca de 30 são na África, e a guerra de Cabo Delgado é uma daquelas muito triste que tem provocado essa saída, esse êxodo das pessoas das suas aldeias, dos seus distritos, das suas cidades e em busca de salvar a própria pele."

A sede da população de Cabo Delgado, comentou o arcebispo, além daquela por dignidade mesmo vivendo com tão pouco, é por Deus. A Igreja, assim, se tornou cada vez mais presente no país, sendo inclusive "uma voz forte para denunciar a guerra, porque no início os dirigentes queriam escondê-la". Com essa atuação, também veio a perseguição:

"Então, essa foi um pouco a preocupação do Papa Francisco ao nos transferir, preocupado também com a integridade e com a vida. Eu espero que o Papa Francisco, que a Igreja através do Dicastério para o Desenvolvimento Humano, continue se preocupando com aquela realidade e que nós também aqui, a partir do Brasil, possamos olhar para aquela realidade."

“Nós temos uma dívida impagável com a África, e eu pretendo falar cada vez mais isso para os meus irmãos bispos daqui do Brasil para que a gente continue ajudando e apoiando naquilo que a gente pode a Igreja africana que é a Igreja que mais cresce neste momento. A Igreja católica cresce mais na África neste momento e precisa do nosso apoio e da nossa ajuda.”

O bispo brasileiro quando esteve em Manaus
O bispo brasileiro quando esteve em Manaus

Do Brasil, a ajuda na formação da Igreja africana

O arcebispo conta, enfim, que está feliz no Brasil, mas sente saudade da África "quase todos os dias", tanto que fala sempre com missionários de lá. Mesmo assim, dom Luiz é persistente com a missão que leva no coração de continuar ajudando a Igreja africana:

"Eu pedi ao dom Walmor que recebeese em Belo Horizonte dois seminaristas estão ali estudando. E agora estou tentando trazer outros, tanto para a minha diocese para que eu possa colher tanto para uma outra diocese mineira que também já se propôs a receber. É uma forma de nós ajudarmos a Igreja africana, ajudando na formação dos seus membros. A experiência que eles têm aqui, a vivência da nossa Igreja no Brasil, os ajuda depois a serem pessoas também ativas e a proporem a não continuar em uma pastoral de conservação, mas procurar envolver mais as pessoas, envolver as comunidades faz uma boa diferença."

Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui

25 abril 2023, 08:00