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Rita Sacramento Monteiro Rita Sacramento Monteiro 

Na chaga dos abusos a Igreja pode “reconstruir-se a partir do Evangelho”

Rita Sacramento Monteiro vê no Sínodo uma oportunidade única de renovação da Igreja e sublinha que o Papa propõe uma atitude de escuta e de questionamento. Num caminho conjunto no qual “nem sacerdotes, nem cardeais, nem bispos vão sozinhos”. “Porque a Igreja somos todos”.

Rui Saraiva – Portugal

Recebe com um sorriso e fala com entusiasmo. Tem a atitude assertiva de quem vive por convicções. É serena e direta quando comunica. Não gosta de meias palavras e olha o futuro com esperança.

Rita Sacramento Monteiro tem 36 anos e faz parte do movimento internacional “A Economia de Francisco” lançado pelo Papa. Está atualmente ligada à área da transição ecológica, mas é para a transição na Igreja vivida em ritmo sinodal, que direciona a sua atenção.

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Da fragilidade dos abusos fazer caminho em conjunto

Partindo da chaga dos abusos sexuais na Igreja, situação que está na ordem do dia em Portugal, Rita Sacramento Monteiro reconhece que a Igreja está fragilizada e com uma estrutura que tem “doença dentro de si”. Mas isso até pode ser uma oportunidade para a Igreja “reconstruir-se a partir do Evangelho”, assume Rita, que anseia por uma Igreja “mais colaborativa, que trabalha em conjunto”.

“Eu vejo esta questão (dos abusos), em primeiro lugar, como uma chaga da Igreja e da contemporaneidade. Mas vejo também como uma oportunidade, porque neste momento a Igreja está a descoberto, os abusos trouxeram ao de cima tudo o que está a montante do abuso. De uma estrutura que encobre, que, em algumas circunstâncias, perante a pessoa e o poder preferiu o poder. É uma estrutura que está doente, que tem doença dentro de si. Não é toda a estrutura que está doente, mas há doença na estrutura. E esta é uma oportunidade da Igreja, estando fragilizada, reconstruir-se a partir do Evangelho. E curar essa doença, curar essa perversão. E é também uma oportunidade para se perceber que nem sacerdotes, nem cardeais, nem bispos vão sozinhos. E não vão sozinhos porque a Igreja somos todos. Portanto, esta é uma oportunidade de renovação da estrutura, de uma Igreja mais colaborativa, que trabalha em conjunto”, afirma.

Escuta, atenção, questionamento

Foi num evento comemorativo dos 5 anos do Ponto SJ, espaço de comunicação da Companhia de Jesus em Portugal, que ouvimos Rita Sacramento Monteiro. A jovem acha que o processo sinodal iniciado pelo Papa Francisco em 2021 pode ser “uma oportunidade única de renovação do espírito da Igreja”. Para “caminhar em conjunto” na nova atitude que nos propõe o Papa Francisco.

“Eu creio que mais do que um processo, o Papa Francisco quer propor à Igreja uma nova atitude: todos nós batizados e filhos de Deus, escutando o Espírito que nos fala devemos partilhar essa revelação, devemos partilhar o que vemos, o que intuímos, o que sentimos e a partir dai caminhar em conjunto. Uma Igreja em movimento. É também um desinstalar. É o Papa a dizer: estes são tempos desafiantes, precisamos de estar numa atitude de movimento, de flexibilidade, de escuta, de atenção, de questionamento, de fazer mais perguntas e não só dar respostas. Portanto, eu creio que mais do que ouvirmos o que dizem as comunidades, de se poderem fazer novas experiências pastorais, religiosas, litúrgicas, o Sínodo é uma oportunidade única de renovação do espírito da Igreja”, sublinha Rita Sacramento Monteiro

Um exercício de consulta, um trabalho colaborativo

Encontrar em conjunto a melhor pergunta, em vez de estarmos tão focados nas respostas é uma ideia proposta por Rita Sacramento Monteiro que salienta a importância da escuta, do diálogo e do caminho em conjunto. Assume que a sua experiência com o projeto lançado pelo Papa “A Economia de Francisco”, inspirado no santo de Assis, influencia a sua atitude sinodal.

“Eu creio que o nosso espírito da ‘Economia de Francisco’ tem sido sempre muito sinodal. Nós fazemos muitas perguntas e isso é uma coisa que desconcerta muito as pessoas. Encontrar em conjunto a melhor pergunta, em vez de estarmos tão focados nas respostas. Eu creio que em Portugal o processo teve, como noutros países, limitações. Terá havido maior ou menor adesão consoante as paróquias ou as dioceses. É um exercício em relação ao qual nós não estávamos habituados: é uma auscultação, uma consulta, um trabalho colaborativo que a Igreja de repente lançou e que, se calhar, os fiéis não vinham fazendo esse exercício. O que eu espero é que as pessoas não se prendam só com a forma e possam olhar além da forma, para aquilo que é o valor deste processo. E que é a escuta, que é o diálogo, que é fazermos caminho em conjunto mesmo que tenhamos visões diferentes e ideias para fazer o caminho diferentes”, salienta a jovem.

Rita Sacramento Monteiro é membro de uma Comunidade de Vida Cristã da Companhia de Jesus em Portugal e está ligada à Casa Velha, uma Associação de Ecologia e Espiritualidade. Participou em missões e projetos de acolhimento e integração de refugiados. Nestas declarações propõe que é importante estarmos ao lado do Papa Francisco, partindo das fragilidades da Igreja para fazer “caminho conjunto”.

“Este é o tempo de continuarmos a rezar uns pelos outros, mas também de nos pormos ao lado do Papa Francisco e de dizermos a Deus: Senhor eis-nos aqui, somos esta Igreja com estas fragilidades, com estas forças, com este trabalho, com esta história, com esta revelação, com estes desejos, ajuda-nos a sermos capazes de fazer caminho conjunto para sermos de facto sinal para o mundo”, declara Rita Sacramento Monteiro.

Laudetur Iesus Christus

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27 março 2023, 12:05