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A história

Um jardim para testemunhar a ecologia integral

Um pequeno sinal, mas significativo, um ponto para reflexão, uma mensagem que faz olhar com esperança à beleza da Criação: este é o Jardim Laudato si' inaugurado em Ladispoli pelo Bispo Ruzza e realizado pelas crianças e voluntários dos círculos. Em um lugar sufocado pela excessiva urbanização, o prelado chama os fiéis a trabalharem juntos, superando todas as divisões, para o cuidado da Casa Comum e para restituir a dignidade aos excluídos

Cecilia Seppia – Vatican News

Ladispoli já foi um balneário aristocrático do litoral do Lácio, por onde, na primavera, passavam rebanhos transumantes; era o reino das plantações de cereais onde os jovens que vinham das regiões vizinhas, mal pagos e explorados, preparavam a terra para semear, assim conta Silvio Vitone, um voluntário do Círculo Laudato si' do Sagrado Coração. Nas áreas mais internas, perto da estrada Via Aurelia, dominava a vegetação mediterrânea, com seus carvalhos e arbustos e o intenso perfume das flores de bosque. Em direção ao mar se estendia o emaranhado de florestas de Terras Baixas, interrompidas pelas calmas lagoas costeiras.

Depois, no início do século XX, verificou-se a chegada do turismo à beira-mar e esta região costeira tornou-se um exemplo de uma cidade jardim, cheias de casas de campo e de praia para os veranistas romanos de classe alta. Hoje, porém, a pacata cidade do passado deu lugar a uma extensão de edifícios, com pouco verde e muito cimento, resultado de construções improvisadas e mal projetadas, legado de lógicas especulativas. É aquele cinza que mata a paisagem e o coração, que derruba árvores e obriga os animais que resistem a encontrar abrigo em outro lugar. Isso acontece em muitos outros lugares do mundo, e no fim acostuma-se a ver a distorção, assim como se acostuma ao destino de uma Terra maltratada, intoxicada, trespassada pelo homem que a domina. Mas as pessoas aqui não parecem ter perdido sua vocação para cuidar da Criação, parecem determinadas a preservar a beleza naturalista e histórica desta pequena cidade litorânea: por exemplo, no Bosque de Palo, no campo de Monteroni ou no Monumento Natural ao Pântano de Torre Flávia. É por isso que a diocese local e o Círculo Laudato si' do Sagrado Coração de Ladispoli, sem alardes, sem carregar bandeiras de um ecologismo limitado à mera proteção dos ecossistemas, procuram fortalecer a ligação entre o homem e a obra de Deus em todos os sentidos. Procuram curar as feridas infligidas à terra e transmitir às novas gerações o conceito, caro ao Papa, de ecologia integral, partindo da convicção de que tudo no mundo está conectado e que, como a pandemia nos mostrou, somos interdependentes uns dos outros, e também dependentes daquela que os povos indígenas sabiamente chamam “mãe terra”.

O símbolo da tenda dentro do Jardim Laudato si’
O símbolo da tenda dentro do Jardim Laudato si’

As iniciativas para a Casa Comum

Durante o mês do Tempo da Criação, multiplicaram-se iniciativas, concertos, caminhadas ecológicas, encontros, liturgias e celebrações promovidas pelas dioceses de Civitavecchia-Tarquinia e Porto-Santa Rufina para conscientizar sobre os temas da encíclica do Papa Francisco Laudato si', em uma revisão intitulada CustodiAmo il Creato (Cuidemos da criação). "Aprender a cuidar da Criação com um compromisso geral: um estilo de vida diferente, co-responsabilidade pelo Bem Comum, e educação para o outro", afirmou Dom Gianrico Ruzza, bispo de Porto-Santa Rufina e membro da Comissão Episcopal para os problemas sociais e de trabalho, justiça e paz, que antes do verão inaugurou e abençoou um novo Jardim Laudato si' aqui mesmo em Ladispoli, na paróquia do Sagrado Coração.

De Norte a Sul, nos últimos anos os jardins inspirados na encíclica do Papa Francisco, surgiram em terras resgatadas do crime organizado ou em lugares áridos e desérticos ou drasticamente urbanizados e aparentemente hostis à vida em todas as suas formas. Estes se multiplicaram e com eles as áreas verdes das quais todos os cidadãos agora podem se beneficiar. E para aqueles que pensam que um parque ou um jardim com o nome do verso central do Cântico das Criaturas só pode ser um desejo, um embelezamento estético, Dom Ruzza reitera que por trás do valor simbólico desses lugares está um imperativo moral e um propósito: "para recordar a todos que não se pode intervir nos danos dos ambientes naturais sem mudar a sociedade humana que os produziu". Por esta razão, na interação entre o meio ambiente e o homem, deve ser dada atenção especial à restauração da dignidade dos excluídos: as pessoas mais frágeis e os povos onde os desastres ambientais são sentidos com mais intensidade e frequência. Por ocasião desta inauguração, o pároco do Sagrado Coração, padre Giovanni Righetti, recordou o compromisso da comunidade eclesial em adotar estilos de vida para o cuidado da Casa Comum: o decálogo Oikos para comprometer-se com o consumo responsável; o plantio de árvores todos os domingos do Advento; o Jardim Laudato si', para olhar com renovada esperança a beleza da Criação, muitas vezes negligenciada, maltratada e sacrificada no altar de nosso egoísmo e visões utilitárias.

Muitas crianças ajudam na realização do jardim
Muitas crianças ajudam na realização do jardim

O testemunho do bispo

“Estou muito impressionado com o fato", afirma Dom Ruzza, "de que os primeiros a reagir e a querer se comprometer a encontrar respostas para as questões ambientais sejam as crianças e os jovens. É um fato muito importante que, como Igreja, mas também como sociedade, não devemos esquecer, mas creio que há um longo deserto a ser atravessado antes de vermos a conversão ecológica invocada por Francisco. Um deserto cultural, é claro, para acolher esta proposta que o Santo Padre nos faz. Não é uma proposta nova, até mesmo no livro do Gênesis há menção a ela, mas penso que a comunidade eclesial pode fazer muito para influenciar as consciências e dar uma nova orientação de acordo com as indicações do Papa que reelabora, em chave moderna e atual, o que a Escritura sempre nos disse. A Conferência Episcopal Italiana está fazendo muito, especialmente através das diversas comissões que tratam disso: refiro-me ao Dia da Criação, ao trabalho da Comissão da Pastoral Social, ao grande compromisso da escuta sinodal que coloca esses temas no centro precisamente porque eles vêm da escuta do Povo de Deus. Sobre o tema do trabalho, com o qual lido pessoalmente e que é também um tema relançado pela Laudato si'. Com relação a isto, os dados são realmente dramáticos: as mortes no local de trabalho continuam. Por dia, na Itália, há 3 a 4 mortes no trabalho e isso não é tolerável. Devemos levantar nossa voz e dizer basta para um sistema no qual o homem não tem lugar, que não reconhece ou não leva em consideração sua dignidade. Infelizmente, certas alianças com o sistema produtivo e financeiro são verdadeiramente letais para a vida dos indivíduos, das famílias e do meio ambiente que ainda resiste, resiste, mas depois responde com lamaçal, com inundações, com a seca, e isto gera ressentimentos, divisões e guerras em todos os níveis.

A nossa diocese é predominantemente agrícola ou ligada à atividades no mar e à pesca, por isso com este Jardim Laudato si' queremos dizer a todos para respeitar a história e isto não significa estar fora do tempo, mas sim entender que é necessário voltar ao húmus, à terra, à simplicidade e humildade que nos ensina e ao horizonte infinito que o mar nos dá. Só então deixaremos de testemunhar guerras de poder, os horrores, as mortes. Se é verdade que tudo está conectado, devemos voltar a ajudar a nós mesmos e ao meio ambiente para respirar de novo".

Uma Igreja em movimento

Uma menção especial entre as iniciativas lançadas neste período pela diocese deve ser dada à corrida de revezamento ciclística em um percurso de 150 quilômetros através dos cinco vicariatos de Porto-Santa Ruffina, junto com sacerdotes, colaboradores, crianças, famílias e associações da região, para que todos possam acolher com maior consciência a mensagem da encíclica do Papa Francisco. ‘Levanta e pedala', este é o tema escolhido para o evento, declararam os organizadores, que 'alcançou o objetivo de despertar as consciências, alimentando uma paixão pelo cuidado com o meio ambiente, educando para a paz interior e para a aliança entre o homem e a Criação, para corresponder ao projeto do Criador. De fato, a bicicleta simboliza precisamente o compromisso de cada pessoa em "pedalar" a mudança, como disse o Papa: "O equilíbrio da Igreja recorda o da bicicleta, que cai se ficar parada, mas está bem se estiver em movimento". Durante cinco dias, uma bicicleta elétrica guiada pelos participantes do revezamento - uma para cada etapa com um representante de cada paróquia - atravessou todo o território diocesano, partindo da Catedral. A bicicleta foi acompanhada por outras duas bicicletas e um carro elétrico. Ao chegar em cada etapa, o estafeta dava um dom à comunidade da encíclica Laudato si' junto com outros materiais que podem ser usados para aumentar a consciência da comunidade no cuidado da Criação.

 

 

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18 outubro 2022, 08:00