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Cidade de Oran, na Argélia Cidade de Oran, na Argélia  

A pedido das autoridades, Caritas Argélia encerra suas atividades no país

Lideranças da comunidade católica local tendem a excluir que as medidas impostas pelo poder público argelino sejam alimentadas por sentimentos de hostilidade em relação à Igreja Católica e sua presença ativa no país. Pelo contrário, a decisão parece ligada à política geral de restrições implementada nos últimos tempos em relação a ONGs estrangeiras e multinacionais, e ainda não são levadas em consideração todas as razões objetivas que atestam a singularidade da Caritas.
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A Igreja Católica na Argélia anuncia com pesar o encerramento, a partir de 1 de outubro de 2022, de todas as atividades e obras de caridade implementadas pela Caritas Argélia. O encerramento "completo e definitivo" foi anunciado em um comunicado do Arcebispado de Argel, assinado pelo arcebispo emérito de Argel e presidente da Associação Diocesana da Argélia, Dom Paul Desfarges.

No comunicado de imprensa é referido que a medida drástica é tomada em cumprimento do pedido das autoridades públicas argelinas. “Naturalmente – diz o texto – a Igreja Católica permanece fiel à sua missão caritativa ao serviço da fraternidade”, em união “com todas as pessoas de boa vontade”.

O comunicado cita as palavras iniciais do Documento sobre a Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da Convivência Comum, assinado em 4 de fevereiro de 2019 em Abu Dhabi pelo Papa Francisco e pelo Sheikh Sunita Ahmed al Tayyeb, Grande Imã de Al Azhar: "A fé leva o crente a ver no outro um irmão que se deve apoiar e amar. Da fé em Deus, que criou o universo, as criaturas e todos os seres humanos – iguais pela Sua Misericórdia –, o crente é chamado a expressar esta fraternidade humana, salvaguardando a criação e todo o universo e apoiando todas as pessoas, especialmente as mais necessitadas e pobres.”

"A Igreja Católica - conclui o comunicado assinado pelo arcebispo emérito de Argel - faz questão de agradecer a todas as pessoas que contribuíram ao longo dos anos, e de diversas formas, para fazer viver esta obra a serviço dos mais vulneráveis ​​e do povo argelino".

A decisão de encerrar as atividades da Caritas Argélia foi tomada pelas autoridades argelinas sem fornecer aos bispos da Igreja Católica da Argélia as razões oficiais e detalhadas para esta medida.

Fontes locais, contatadas pela Agência Fides, levantam a hipótese de que a Caritas tenha se tornado objeto das medidas restritivas por ser considerada uma organização não governamental estrangeira. Todas as comunicações recebidas do Ministério do Interior continham referências genéricas ao fato de que a Igreja Católica estava 'encobrindo' uma organização não autorizada, envolvida em atividades 'ilegais', sem que fossem especificadas referências específicas a quaisquer artigos de lei violados.

Lideranças da comunidade católica local tendem a excluir que as medidas impostas pelo poder público argelino sejam alimentadas por sentimentos de hostilidade em relação à Igreja Católica e sua presença ativa no país. Pelo contrário, a decisão parece ligada à política geral de restrições implementada nos últimos tempos em relação a ONGs estrangeiras e multinacionais.

As autoridades argelinas ainda não levaram em consideração todas as razões objetivas que atestam a singularidade da Caritas como braço caritativo da Igreja Católica, caráter que a distingue substancialmente e "estatutariamente" das ONGs, inclusive aquelas envolvidas nos campos da assistência e ajuda humanitária.

As iniciativas da Caritas Argélia eram concebidas e implementadas em benefício das camadas mais vulneráveis ​​da população argelina, 97 por cento da qual professa o islamismo.

A Caritas Argélia também tratou do fenômeno dos migrantes com iniciativas humanitárias, especialmente os doentes e dos menores, e sem nunca assumir tom ou apoiar mobilizações políticas.

*Com Agência Fides

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28 setembro 2022, 08:23