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Edith Stein Edith Stein 

Atualidade da mensagem de Edith Stein

Há 80 anos da morte de Edith Stein, em Auschwitz, a filósofa e mística polonesa representa, hoje, um símbolo das raízes culturais, que salvam das derivas ideológicas desumanas. “A Santa Padroeira da Europa, que passou pelo confronto entre a cultura democrática liberal europeia e os totalitarismos, oferece elementos de sutura espiritual da comunidade e destaca pontos importantes para a reflexão, sobre o pensamento contemporâneo”, segundo o historiador Eugênio Capozzi.

Fausta Speranza – Vatican News

Edith Stein, assassinada em Auschwitz, Polônia, em 9 de agosto de 1942, era uma religiosa da Ordem das Carmelitas Descalças, com o nome de Teresa Benedita da Cruz. Nasceu na cidade polonesa de Breslávia em 12 de outubro de 1891, no seio de uma família de judeus.

Mulher dedicada às atividades político-sociais

Ao receber a láurea na Universidade de Wroclaw, Edith quis continuar sua carreira acadêmica na Alemanha, primeiro em Göttingen e, depois, em Freiburg, onde se tornou famosa. Na época, não era comum confrontar-se com uma filósofa, apesar dos impedimentos da I Guerra Mundial. No entanto, tornou-se membro da Faculdade em Freiburg, onde se dedicou à atividade político-social, através do Partido Democrático Alemão (DDP), em defesa do direito ao voto das mulheres e do papel das trabalhadoras na sociedade. Por volta de 1921, Edith Stein converteu-se do ateísmo para o cristianismo, sendo batizada em 1º de janeiro de 1922, em Bad Bergzabern. Assim, como professora, lecionou em duas escolas Dominicanas para moças, em Speyer, onde começou a se aproximar da vida claustral.

Crueldade do Nazismo

Em 1931, foi docente no Instituto de Pedagogia Científica de Münster, mas, dois anos depois, teve que renunciar por causa das leis raciais. Em 12 de abril de 1933, a poucas semanas da posse de Hitler como Chanceler, Edith Stein enviou uma carta ao Papa Pio XI e ao Secretário de Estado, Cardeal Eugênio Pacelli, - ex-Núncio apostólico na Alemanha e futuro Papa Pio XII, - pedindo-lhes para denunciar as perseguições contra os Judeus.

Realizando seu desejo, que há anos, carregava em seu coração, Edith Stein entrou para o mosteiro Carmelita, em Colônia, Alemanha, em 1934. Para protegê-la da ameaça nazista, a Superiora da sua Ordem a transferiu para o convento Carmelita de Echt, na Holanda. Em 20 de julho de 1942, foi lida, em todas as igrejas do país, uma mensagem da Conferência dos Bispos Holandeses contra o racismo nazista. Em 26 de julho, Adolf Hitler mandou prender todos os Judeus, sobretudo os convertidos ao cristianismo, ainda sobreviventes. Edith e sua irmã Rosa, também convertida e Carmelita, foram presas e colocadas no campo de trânsito de Westerbork, antes de serem transportadas para o Campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, onde morreram nas câmaras de gás, em 9 de agosto de 1942: seus corpos foram queimados nos fornos crematórios do Campo.

Filha de Israel, mártir pela fé

Edith Stein foi beatificada na Catedral de Colônia, em 1º de maio de 1987, e, depois, canonizada, em 11 de outubro de 1998, na Praça São Pedro, em Roma, pelo Papa João Paulo II, que, em sua homilia afirmou: "Uma filha de Israel, que durante as perseguições dos nazistas permaneceu unida, com fé e amor, ao Senhor Crucificado, Jesus Cristo, como católica e como judia. É uma Santa, em virtude do seu martírio pela fé, com a afirmação de que a perseguição que sofreu no Campo de extermínio, foi um verdadeiro testemunho de fé”.

Por sua vez, falando sobre Santa Teresa Benedita da Cruz, o Papa Francisco afirmou: “Ela, hoje, é um exemplo de vida contra todas as formas de intolerância e perversão ideológica".

Co-padroeira da Europa

Em 1º de outubro de 1999, João Paulo II declarou Santa Edith Stein "co-padroeira" da Europa, junto com Santa Catarina de Sena e Santa Brígida da Suécia, dizendo: "Ela não viveu apenas em diversos países da Europa, mas, com sua vida de pensadora, mística e mártir lançou uma ponte entre suas raízes judaicas e a adesão a Cristo; atuou, com intuição segura, no âmbito do diálogo com o pensamento filosófico contemporâneo e, enfim, gritou, com seu martírio, as razões de Deus e do homem no imane vergonha da Shoah". E o Papa acrescentou: “Assim, esta Santa tornou-se expressão de uma peregrinação humana, cultural e religiosa, que encarna o núcleo profundo da tragédia e das esperanças do continente europeu”.

Esta é a mensagem que também nos transmite, pelos 80 anos da sua morte, Eugênio Capozzi, professor titular de História Contemporânea na Universidade de Estados de Nápoles “Irmã Úrsula Benincasa”:

Referindo-se o contexto histórico, em que amadureceu a experiência de Edith Stein, Eugênio Capozzi fala de uma Europa, que passava, nas primeiras décadas do século XX, por uma profunda crise da cultura científica, de origem positivista, que registrava o renascimento de várias formas de espiritualismo, com uma avaliação da experiência religiosa.

Crise epistemológica e da cultura democrática

O historiador italiano fala da desintegração da cultura democrática liberal e do avanço das ditaduras e do totalitarismo. Aqui, ele recorda a conversão de Stein que amadureceu, precisamente, em um ambiente filosófico, animado pelas preocupações do patrimônio do conhecimento científico europeu em crise. Seus mestres foram os filósofos Edmund Husserl e Max Scheler.

“Naqueles anos, segundo o professor Capozzi, a conversão da Santa não foi um fato isolado: muitos intelectuais leigos se converteram do totalitarismo ao catolicismo”. Aqui, cita alguns exemplos: Giovanni Papini, escritor, poeta, ensaísta e Terciário franciscano; Gilbert Keith Chesterton, escritor britânico; Thomas S. Eliot, poeta, ensaísta, crítico literário e dramaturgo, condecorado com o Prêmio Nobel da Literatura e batizado com o rito anglicano, em 1927. Depois, o Prof. Capozzi cita ainda Clive Staples Lewis, escritor e teólogo britânico, que, já em idade adulta, encontra a fé abandonada na adolescência, graças à influência do amigo e colega John Ronald Reuel Tolkien. Clive Staples Lewis, certamente, transmite sua profunda reflexão como um dote ao renascimento religioso daquelas décadas: uma reflexão que parte da filosofia da ciência, que trata da questão da crise do conhecimento, a necessidade de integrar a cultura liberal e democrática europeia definida – por Capozzi - como elementos da sutura espiritual da comunidade.

Antissemitismo e anticristianismo

Em relação ao pensamento do extermínio nazista, do qual Edith e Rosa Stein também foram vítimas, o prof. Eugênio Capozzi afirma: “Devemos refletir, além do mais, sobre o fato de que o antissemitismo nazista e, em geral, o antissemitismo dos regimes totalitários do século XX estão intimamente ligados a um profundo anticristianismo”. E recorda: “Edith Stein foi vítima de uma repressão à perseguição antissemita, por parte dos nazistas, que se aplicava também aos judeus convertidos ao catolicismo, também pelas formas de resistência ao nazismo, expressas pela Igreja Católica, sobretudo, pela Igreja na Holanda, segundo o caso de Edith Stein”.

Além disso, Eugênio Capozzi chama a atenção de que o nazismo e os totalitarismos eram incompatíveis com a mensagem cristã. E acrescenta: “Pode-se dizer que, se o nazismo tivesse vencido, a perseguição logo atingiria também os cristãos. É provável que tivesse atingido níveis comparáveis ​​aos aplicados aos Judeus”.

Aqui, o prof. Capozzi recorda um episódio, narrado na autobiografia do Papa Bento XVI: a história de quando o seminarista Joseph Ratzinger, aos dezessete anos, foi convocado como reservista; e um oficial do exército alemão lhe pergunta “que trabalho ele gostaria de fazer”. Uma pergunta retórica, uma vez que o seminarista, obviamente, queria ser padre. Mas, o jovem respondeu que “queria seguir a vocação sacerdotal”. E o oficial replicou: "não precisaremos de sacerdotes na nova Alemanha". Este episódio, segundo Capozzi, que pode esclarecer mais que “a ideologia nazista é, fundamentalmente, uma ideologia incompatível com todas as formas de valorização profunda do humanismo, que tem raízes judaico-cristãs”. Enfim, o prof. Capozzi concluiu: “quando o filósofo Benedetto Croce afirmou que "não podemos deixar de nos chamar cristãos", queria destacar, em particular, que a base da formação da filosofia política e da filosofia do direito é cristã. Isso, representou e ainda representa, uma barreira sólida contra a degeneração desumana de ideologias e regimes totalitários”.

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09 agosto 2022, 14:45