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Padre Hans Zollner, membro da Comissão Pontifícia para a Tutela dos Menores - Foto: Agência ECCLESIA/HM Padre Hans Zollner, membro da Comissão Pontifícia para a Tutela dos Menores - Foto: Agência ECCLESIA/HM 

Proteção Menores: padre Zollner diz que é preciso assumir erros

O responsável da Santa Sé participou, a convite da Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica em Portugal, no colóquio sobre ‘Abuso sexual de crianças.

Lisboa - Ecclesia

O padre Hans Zollner, membro da Comissão Pontifícia para a Tutela dos Menores (CPTM), da Santa Sé, disse nesta terça-feira em Lisboa que os responsáveis católicos devem assumir erros, perante casos de abusos sexuais, e pedir “perdão”.

“Existe uma dificuldade em enfrentar a minha própria responsabilidade, aceitar a responsabilidade pelo que fiz. Há algo na cultura católica que torna, aparentemente, quase impossível dizer: admito que errei e assumo as responsabilidades, abdico, assumo uma penitência… Não sei”, assinalou o especialista, em conferência de imprensa.

O responsável da Santa Sé participou, a convite da Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica em Portugal, no colóquio sobre ‘Abuso sexual de crianças: Conhecer o passado, cuidar do futuro’, que decorre na Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), em Lisboa.

Para o padre Zollner, é necessária uma “mudança cultural”, assinalando que a perspetiva sistémica dos abusos “foi descoberta apenas nos últimos quatro ou cinco anos, na Igreja”.

“Isto é verdade para muitas pessoas. Não vi muitos artigos, peças, investigações, há cinco anos, sobre questões como é que as instituições tendem a negar os abusos, quais são os mecanismos institucionais que são ativados para que a instituição se defenda a si mesma e aos seus membros”, referiu o religioso jesuíta, presidente do Centro para a Proteção de Menores, integrado no Instituto de Psicologia da Universidade Pontifícia Gregoriana (Roma).

Padre Zollner
Padre Zollner

O especialista recordou que, nos últimos anos, passou por 70 países, em todos os continentes, para abordar este tema.

“É surpreendente e perturbador que os mesmos mecanismos – insisto, os mesmos mecanismos, não similares, mas os mesmos – de defesa da instituição, à custa da consciência sobre o sofrimento das pessoas, tenham sido colocados em ação. A negação da realidade ou a negligência, a falta de vontade de a enfrentar realmente”, admitiu.

Não consigo, realmente, perceber como é que é tão difícil, também para os responsáveis da Igreja, admitir o que correu mal. Quer dizer: acreditamos no perdão? Se perdoamos as pessoas, com base no seu arrependimento, individualmente, porque é que não podemos perdoar e pedir perdão pelas instituições?”.

O especialista considerou que a criação de uma Comissão Independente, em Portugal, é um “passo em frente corajoso, para a Conferência Episcopal e para a Igreja”, destacando que exista compromisso “nas medidas de salvaguarda”, para que estes abusos “não voltem a acontecer”.

O colóquio contou com a presença de representantes das Comissões Independentes criadas na Alemanha, Espanha e Portugal.

“O que é importante é que as comissões possam fazer o seu trabalho de forma independente, que não haja qualquer tipo de interferência, e que haja um compromisso com o que se encontrou, em termos de factos”, destacou o padre Zollner, que integra a CPTM desde a sua fundação pelo Papa Francisco, em 2014.

Os trabalhos da tarde incluíram a conferência ‘Os Direitos da Criança. A Criança e o Direito’, proferida por Álvaro Laborinho Lúcio, juiz conselheiro jubilado, antigo Ministro da Justiça, membro da Comissão Independente.

O responsável identificou “três tempos claramente distintos”, no trabalho que o organismo levou a cabo: os abusos, a sua ocultação e o momento presente.

Para Laborinho Lúcio, é necessário reconhecer que a ocultação “perpassou pela sociedade portuguesa”, das famílias às várias instituições, sendo que a Igreja Católica “foi a única que criou uma comissão para estudar os abusos sexuais cometidos no seu seio”, ao contrário de outros, “que não tomaram a iniciativa de abrir o que ocultaram durante tanto tempo”.

“Ou há total transparência e podemos continuar a dizer não foram abusos sexuais da Igreja, mas de alguns dos seus membros, e que a ocultação ocorrida até há pouco não foi um encobrimento, mas uma atitude generalizada culturalmente na sociedade portuguesa; ou a Igreja, no seu todo, rejeita a transparência e promove antes a ocultação da ocultação”, concluiu.

HM/OC

Fonte: ECCLESIA

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11 maio 2022, 12:57