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Fé católica no Brasil

A presença da Igreja Católica em nossas terras foi definitiva para formar a nossa identidade, valores, cultura e características.

Dom Eurico dos Santos Veloso, Arcebispo Emérito de Juiz de Fora, MG

Estamos caminhando para o final do período quaresmal e somos convidados a refletir sobre as mudanças que desejamos que sejam concretizadas dentro de nós e na nossa sociedade. O Brasil é um país predominantemente cristão. De acordo com o último Censo realizado em 2010, mais de 64% dos brasileiros se declararam católicos. A presença da Igreja Católica em nossas terras foi definitiva para formar a nossa identidade, valores, cultura e características.

Para assegurar os direitos dos católicos de expressarem a sua fé, foi firmado um Acordo bilateral entre o Brasil e a Santa Sé, em 2008, garantindo o amplo e irrestrito desenvolvimento da missão da Igreja. O acordo também reafirmou a personalidade jurídica da Igreja Católica, necessária para o desempenho das suas atividades nas paróquias e dioceses, nos mais de cinco mil municípios, em todas as regiões. No mundo moderno, a fé enfrenta terríveis batalhas continuamente e é fundamental termos garantias de dignidade e reconhecimento de todo o trabalho promovido incansavelmente pelos religiosos e leigos.

Este acordo bilateral, permite à Igreja Católica participar das decisões que impactam na vida de seus fiéis, tratando de seus interesses, defendendo a fé católica, pregando e anunciando o Evangelho, conforme a missão deixada por Cristo. Basta recordarmos dos objetivos da Campanha da Fraternidade deste ano, cujo tema trata da Educação. O ensino religioso desde a infância é um direito das nossas crianças e famílias, portanto, incentivar propostas educativas, enraizadas no Evangelho, também atende a circular 520/2009, da Congregação para a Escola Católica (CEC), que aponta que “os alunos estariam privados de um elemento essencial para a sua formação e desenvolvimento pessoal, que os ajuda a atingir uma harmonia vital entre a fé e a cultura. A formação moral e a educação religiosa favorecem também o desenvolvimento da responsabilidade pessoal e social e demais virtudes cívicas, e constituem então um relevante contributo para o bem comum da sociedade” (CEC 2009, no 10). O Art.11, do Acordo Brasil-Santa Sé, também assegura o ensino religioso católico e outras religiões nas escolas públicas de ensino fundamental.

Tais conquistas não nos são dadas gratuitamente. Ao longo da história da Igreja, quantos mártires enfrentaram poderosos e governos para afirmar a fé cristã e foram mortos para calar a fé, mas isso não aconteceu. Hoje, enfrentamos diversos inimigos, como as drogas, a violência nas cidades, a pandemia da Covid-19 e, também, políticas públicas que confundem estado laico com ausência de fé.

Recentemente, pudemos acompanhar uma iniciativa fundamental para defender os interesses da Igreja Católica no Brasil e reafirmar a fé de milhões de brasileiros. A Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, exercendo plenamente um direito, formalizou um termo de compromisso com o governo federal brasileiro para o livre acesso ao alto do Corcovado, muito mais do que uma das sete maravilhas do mundo moderno, é um patrimônio da humanidade e símbolo da nossa fé. É um marco pelos 100 anos de lançamento da pedra fundamental do monumento Cristo Redentor. Em 1922, o então presidente do Brasil, Epitácio Pessoa, concedeu o topo do morro do Corcovado, local onde a estátua está situada, à Igreja Católica.

Precisamos ter sabedoria para distinguir a política do exercício de cidadania e do direito constitucional. Iniciativas em prol da fé católica, que fortaleçam a presença da Igreja em nossa sociedade, fazem parte da grande missão deixada por Cristo. Sua morte na cruz não foi em vão. Levar seu evangelho a todas as criaturas, promover ações de cidadania em benefício dos irmãos mais necessitados, levar saúde, educação, contribuir para a geração de emprego, rezar pelo fim das guerras, tudo isso sempre fez e continuará fazendo parte do nosso exercício diário de fé, especialmente, dos nossos padres e bispos, que deixam suas famílias e o conforto do lar, para dedicar suas vidas pela Igreja.

No Rio de Janeiro, caminhamos para a chegada do centenário de inauguração do Santuário Cristo Redentor. São muitos os símbolos materiais que representam algo muito maior, imaterial, que se manifesta a cada celebração Eucarística, que rememoraremos na Semana Santa. É um convite a unirmos esforços, acima de qualquer frivolidade terrena, independente de partidos e candidatos, seguirmos firmes na proclamação do Evangelho, na defesa irrestrita da nossa fé e do nosso patrimônio histórico.

Aqueles que – mesmo dentro da Igreja estão cegos pelas ideologias políticas – e, também, fora do âmbito eclesial, estão atacando de maneira violenta e desrespeitosa o Eminentíssimo Senhor Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro. Deixando a ideologia de lado é necessário cessar estes ataques inapropriados e reconhecerem o direito originário da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro de tutelar o seu patrimônio e firmar convênios com órgãos públicos e privados para a sua ação evangelizadora. O venerável irmão o Senhor Cardeal Orani João Tempesta, O.Cist., ao defender o patrimônio do Cristo Redentor está defendendo a mais visível identidade nacional e a nossa cultura cristã.  

Que o Estado laico reconheça cada vez mais a presença de uma Igreja em movimento e os direitos dos cristãos de exercerem plenamente sua vocação. Que Deus abençoe a Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, seu arcebispo, bispos, padres, religiosos e religiosas, leigos e leigas.

A obra de evangelização está ainda maior após essa conquista.

Deus os abençoe!

+ Eurico dos Santos Veloso

Arcebispo Emérito de Juiz de Fora, MG

 

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06 abril 2022, 22:13