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Soldado protege a Igreja da Imaculada em Qaraqosh, durante visita do Papa Francisco ao Iraque Soldado protege a Igreja da Imaculada em Qaraqosh, durante visita do Papa Francisco ao Iraque 

"Jejum de Nínive" pela paz, harmonial nacional, fim da pandemia e unidade das Igrejas

Neste ano, a reflexão sobre o Jejum de Nínive oferecida pelo cardeal iraquiano contém preciosas notas filológicas, exegéticas e históricas sobre o Livro de Jonas. Mas o texto bíblico oferece ao Patriarca sobretudo pontos sugestivos para recordar os traços de gratuidade e de universalidade que caracterizam a salvação prometida por Cristo a todos os povos.

A salvação prometida por Deus não é reservada a grupos étnicos específicos ou a certas categorias morais. A sua misericórdia abraça qualquer um se arrependa e às vezes escandaliza quem afirma possuir exclusivamente e a priori os dons da graça.

É repleta de sugestões para desfrutar dos tesouros das práticas piedosas tradicionais a reflexão oferecida este ano pelo Patriarca Louis Raphael I Sako, como instrumento de preparação para o chamado "Jejum de Nínive", que a Igreja caldeia vive a partir desta segunda-feira, 7, até a quarta-feira, 9 de fevereiro.

Na tradição litúrgica caldeia, o chamado "Jejum de Nínive" (Bautha d'Ninwaye) precede a Quaresma em três semanas. Durante três dias, os caldeus que observam essa prática espiritual se abstêm de comida e bebida da meia-noite ao meio-dia do dia seguinte, e durante o jejum evitam comer alimentos e condimentos de origem animal.

A prática do "Jejum de Nínive" refere-se ao jejum pedido pelo profeta Jonas aos habitantes daquela cidade corrupta, que ficava na área da atual Mosul, metrópole do norte do Iraque que permaneceu nas mãos dos jihadistas do Califado islâmico (Daesh) de 2014 a 2017. Aquele jejum – lê-se na Bíblia - comoveu Deus (cf. Jonas 3, 10) e salvou a cidade da aniquilação.

Nos últimos anos, o Patriarca Sako sempre convidou os batizados da Igreja Caldeia a viver o Jejum de Nínive, pedindo também ao Todo-Poderoso os dons da paz, da harmonia nacional e o fim da pandemia.

Neste ano, a reflexão sobre o Jejum de Nínive oferecida pelo cardeal iraquiano contém preciosas notas filológicas, exegéticas e históricas sobre o Livro de Jonas. Mas o texto bíblico oferece ao Patriarca sobretudo pontos sugestivos para recordar os traços de gratuidade e de universalidade que caracterizam a salvação prometida por Cristo a todos os povos.

"A palavra Ba'utha em siríaco - recorda entre outros o Patriarca Sako na relfexão divulgada pelos meios oficiais do Patriarcado - indica um pedido e um apelo. O Patriarca Ezequiel (570-581) ordenou um jejum de penitência após a propagação da epidemia de peste na Mesopotâmia e a morte de um grande número de pessoas, para pedir o fim, de maneira semelhante ao que aconteceu com a pandemia de Covid-19".

O autor do Livro de Jonas – continua o cardeal iraquiano – quer sobretudo trazer uma nova palavra sobre Deus, “revelar que a salvação prometida por Deus é para todos e sua infinita misericórdia abrange todos os que se arrependem”. O autor do texto sagrado "vê de modo sublime a verdade inseparável da solidariedade amorosa de Deus para com os pecadores e os pobres, e seu desejo de vê-los salvos".

A palavra ‘Jonas’ - em hebraico e siríaco - acrescenta o Patriarca - significa 'pomba'. Mas o Profeta indicado por esse nome "certamente não é uma pomba da paz": ele empunha a "ameaça do castigo" e aparece fechado em um nacionalismo religioso intolerante, a ponto de querer fugir do comando de Deus, que o envia para pregar o arrependimento e a possível salvação em uma cidade distante de Israel, para um povo percebido como hostil. Jonas tenta fugir na direção oposta à indicada por Deus. Então, quando todo o povo de Nínive se arrepende, jejua e vê acontecer a salvação prometida pelo Senhor, Jonas se irrita com aquele gesto de misericórdia divina, quase reprovando Deus por ter salvo pela graça uma nação má e inimiga.

A posição de Jonas - observa o Patriarca – recorda aquela de todos os rigorismos que pretendem monopolizar a salvação dada por Deus por mérito próprio, mas Jesus "veio para salvar o mundo", e a história do profeta Jonas mostra que geralmente os pagãos estão mais dispostos a arrepender-se e converter-se do que aqueles que se consideram salvos "a priori", por condição dada.

No final, Jonas também se alegra com a mudança ocorrida também graças à sua pregação. Assim - acrescenta o Patriarca - "o Livro de Jonas ensina-nos a confiar na misericórdia do Senhor, a rezar pelos outros e a alegrar-nos com o seu arrependimento, em vez de murmurar". As duas posições que se confrontam no livro de Jonas e ao longo da história da salvação são, por um lado, a do perdão e do arrependimento e, por outro, a da obstinação e do fanatismo. Por isso – salienta o Patriarca Sako – é oportuno reconhecer que “a mensagem do Livro de Jonas não foi dirigida apenas ao povo da antiga Nínive, mas é uma mensagem que chega a todos nós, através das gerações”.

A reflexão do cardeal iraquiano termina com um convite a rezar “pela paz e estabilidade em nosso país, para que a pandemia causada pelo Covid-19 desapareça em toda a terra, para que o meio ambiente não seja devastado e pela unidade de nossas Igrejas.

*Com Agência Fides

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07 fevereiro 2022, 15:31