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Padre Bertolin: São José Pai na obediência

Quando o anjo comunicou a José que não devia temer em tomar para si Maria como sua esposa, ele simplesmente obedeceu sem questionar e teve um comportamento de total disponibilidade à vontade Deus.

Padre José Antônio Bertolin - Centro de Espiritualidade Josefino, Apucarana – Paraná

Vatican News

Deus manifestou o seu desígnio a São José através dos sonhos, os quais eram um dos meios de sua comunicação. Diante da angústia devido a gravidez de Maria, e não querendo difamá-la, José viu como solução deixá-la secretamente. Enquanto pensava assim Deus falou-lhe por meio do sonho para não temer em receber Maria, sua esposa, pois ela tinha concebido pelo Espírito Santo (Mt 1, 20-21). Diante dessa iluminação divina, José prontamente obedeceu às palavras que lhes foram ditas pelo mensageiro celeste e fez como lhe foi ordenado.

Quando o anjo comunicou a José que não devia temer em tomar para si Maria como sua esposa, ele simplesmente obedeceu sem questionar e teve um comportamento de total disponibilidade à vontade Deus da mesma maneira da disponibilidade demonstrada por Maria no anúncio que o anjo lhe tinha feito. As palavras de São Paulo VI podem muito bem iluminar esta atitude de José:” O que vemos em nosso querido e modesto personagem? Nós vemos nele uma estupenda disponibilidade, uma prontidão excepcional de obediência e de execução. Ele não discute, não hesita, não reivindica direitos ou aspirações. Lança-se no serviço da palavra a ele dirigida; sabe que a sua vida se desenvolverá como um drama, mas que, porém, se transfigura em um nível de pureza e de sublimidade extraordinárias, bem além de qualquer espera ou cálculo humano” (Omelia del 19 marzo, 1968.).

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Novamente José se defrontará no exercício de sua pronta obediência a Deus quando o anjo, também em sonho, lhe ordenou de fugir para o Egito para salvar o menino, e sem questionar tomou o menino e sua mãe e se dirigiu para o Egito (Mt 2,13-15). Pela terceira vez obedeceu a vontade de Deus escutando a comunicação do anjo e voltou para Israel (Mt 2,19-21). Por fim, pela quarta vez, advertido em sonhos tomou a decisão de morar em Nazaré estabelecendo-se nesse lugarejo com Jesus e Maria (Mt 2,21-14).

Esses relatos nos dão conta da obediência efetiva de José e, como afirmou Isolani, “A grandeza desta obediência diz muito mais em relação à dignidade de São José, do quanto o engenho humano possa imaginar” (Summa de donis St. Joseph). O que significou a sua obediência quando o anjo em lhe comunicou em sonhos? O Papa Paulo VI nos responde: “Significou que José era guiado e aconselhado em seu íntimo pelo mensageiro celeste e o seu comportamento cotidiano era movido por um arcano diálogo que indicava o que fazer - ‘José, não tema, faça isso, vá, volte!’. Então, o que vemos em nosso querido e modesto personagem? Vemos uma estupenda docilidade, uma prontidão excepcional de obediência e execução. Ele não discute, não titubeia, não reivindica direito ou aspirações. Lança-se a si mesmo na obediência à palavra que lhe é dirigida; sabe que a sua vida se desenvolverá como um drama, mas que se transfigura em um nível de pureza e de sublimidade extraordinárias...” (Omelia del 19 marzo, 1968).

São José, guiado pelos sonhos, torna-se dessa maneira o modelo de obediência para toda a Igreja, e, portanto, para cada um de nós, com aquela atitude de “religiosa escuta da Palavra de Deus”, ou seja, de absoluta disponibilidade em servir fielmente a vontade salvífica de Deus revelada em Jesus. Esse aspecto da disponibilidade de São José na obediência não passou desapercebido a São João Paulo II quando explicitou em sua exortação apostólica Redemptoris Custos que “Já no início da redenção humana, encontramos encarnado o modelo de obediência, depois de Maria, justamente em José, aquele que se distingue pelo fiel cumprimento dos comandos de Deus” (Exortação Apostólica Redemptoris Custos, 30).

Nenhuma palavra sua nos é lembrada nos evangelhos os quais relatam apenas o seu comportamento, a sua conduta, o que ele fez, e tudo em silencioso escondimento e em perfeita obediência. São José nos ensina a docilidade da escuta, a prontidão na execução, a fidelidade à vontade de Deus. Deus lhe determina o que fazer e ele obedece, não desilude a vontade divina e justamente porque ele soube obedecer é que foi também obedecido pelo próprio Filho de Deus.

José colocou muita docilidade em sua obediência, pois talvez poderia ter podido fazer valer, nas circunstâncias em que foi lhe pedido de obedecer, as dificuldades para atender ao pedido de Deus diante dos desafios que essa comportava, mas ao invés não, pois ele simplesmente obedeceu prontamente. Certamente poderia ter encontrado motivos para pedir explicações ao anjo que lhe comunicava a vontade de Deus ao seu respeito, mas bastou-lhe saber que a ordem era proveniente do alto, porque o fundamento da obediência estava na autoridade de quem lhe pedia e não em sua aprovação e lhe bastou para executar prontamente a vontade divina.

Ao obedecer a palavra de Deus, José entregou a sua própria vida a um projeto que ia além dele mesmo, e aqui está a sua justiça que buscou responder a vontade de Deus, e por isso, por meio de sua obediência iniciou para ele uma nova vida com perspectivas profundas como esposo de Maria como pai de Jesus e como ministro da nossa salvação. Sua obediência foi fruto de sua profunda humildade, pois sem essa virtude não se podia obedecer, e assim ele reconheceu em si o nada de sua própria pessoa e o tudo de Deus e aceitou, portanto, escutar e praticar as exigências da obediência que lhe era pedida, seja para o seu próprio bem que para o bem daqueles que seriam beneficiados.

É preciso que tenhamos em consideração que a obediência de José não foi passiva, consequência da fragilidade de sua personalidade, mas consequência de sua fé e de sua responsabilidade. Foi uma obediência no exercício de sua liberdade, uma obediência por amor, uma obediência que exigiu dele colocar em ação o seu pensamento, o seu querer, pois pensou como poderia ficar com sua esposa (diante da santidade dela), pensou como seria o exercício de sua paternidade em relação ao Filho de Deus, pensou como seria a sua responsabilidade em buscar um lugar para sua esposa dar à luz em Belém; pensou em como chegar até o Egito com o menino e sua mãe e em como lá viver e trabalhar para alimentar a sua família; pensou em como voltar para a sua terra e se estabelecer nela não correndo o risco das maldades de Arquelau para o Menino Jesus; pensou em fim, em obedecer a vontade de Deus expressa na tradição de ir à Jerusalém levando consigo Jesus adolescente e depois educando-o na casa de Nazaré. Portanto, nas diversas circunstâncias de sua vida José manifestou uma obediência operante, não deixando de raciocinar no exercício de suas responsabilidades. Não somos livres simplesmente porque temos a capacidade de escolher, mas somos livres porque com o exercício de nossa liberdade podemos amar.

O atributo de justo que o evangelista dá a São José, ou seja, de santo, é porque a sua justiça está ligada à sua fé, à sua docilidade e obediência à vontade de Deus, e justamente por isso ele se tornou o esposo da Virgem Maria, o pai de Jesus e o protetor da Igreja. Santo Tomás ressalta que dentre as virtudes de São José presentes nos evangelhos está a sua justiça (Mt 1,19) e nesta se vê a sua sabedoria pelo fato dele pensar e agir, mas a virtude que mais se destaca nele, segundo Tomás, é a sua incondicional obediência expressa no serviço desempenhado no mistério da encarnação.

De fato, para o Papa Paulo VI São José é o introdutor ao evangelho das bem-aventuranças e exemplo de pronta obediência na aceitação e no cumprimento da vontade de Deus. A obediência de José foi admirável, por isso o Papa Francisco realça nessa sua carta apostólica Patris corde que “Em todas as circunstâncias da sua vida, José soube pronunciar o seu “fiat”, como Maria na Anunciação e Jesus no Getsêmani” e complementa afirmando que Jesus “Ao longo da vida oculta em Nazaré, na escola de José, aprendeu a fazer a vontade do Pai. Tal vontade torna-se o seu alimento diário. Mesmo no momento mais difícil da sua vida, vivido no Getsêmani, preferiu que se cum­prisse a vontade do Pai, e não a sua, fazen­do-se “obediente até à morte de cruz”. (nº 3). José, exemplo de fidelidade no cumprimento da vontade de Deus deixa-nos transparecer o grande exemplo de obediência de Jesus ao Pai Celeste.

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17 junho 2021, 14:30