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Ataques contra igrejas deixam mortos e feridos em Mianmar

Contemporaneamente à repressão aos protestos contra o golpe militar de 1° de fevereiro em várias cidades do país, os militares de Mianmar abriram um novo front ao combater supostos grupos rebeldes, principalmente nas regiões de fronteira, como com a Tailândia, obrigando a população civil a abandonar esses territórios conflagrados. No Estado de Kayah. igrejas acabaram sendo alvejadas por disparos de morteiro, causando vítimas.

Vatican News

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Na noite de domingo, 23, soldados do exército birmanês (Tatamadaw) atacaram com artilharia o povoado de Kayan Tharyar, a 7 km de Loikaw, capital do Estado de Kayah, com o objetivo de atingir supostos grupos rebeldes. Um dos projéteis de morteiro atingiu a igreja católica da localidade, matando pelo menos duas mulheres e ferindo vários outros deslocados que haviam buscado refúgio no templo. 

Os habitantes do povoado acreditavam que a igreja paroquial seria um local seguro para se abrigar dos disparos, mas muitos acabaram encontrando a morte, contam os jesuítas de Mianmar à Agência Fides. Também a Catedral do Sagrado Coração de Pekhon (cerca de quinze quilômetros de Loikaw) foi atingida por projéteis de artilharia. Os mortos nesses dois ataques seriam de ao menos quatro, sem falar nos feridos.

Os jesuítas de Mianmar condenaram de forma veemente esses "crimes odiosos”, exigindo que "os militares birmaneses sejam responsabilizados. Os militares - escrevem ainda os religiosos - devem cessar imediatamente os ataques contra civis e igrejas”. As bombas atingiram as igrejas e as reduziram a escombros, com imagens que recordam um cenário de guerra.

 

O Estado de Kayah, onde 75% dos habitantes pertence a minorias étnicas, é o Estado birmanês com a maior porcentagem de cristãos. A presença católica nesta região teve início no final do século XIX com a chegada dos primeiros missionários do Pontifício Instituto para as Missões Estrangeiras (PIME). Hoje existem mais de 90.000 católicos em Kayah, entre cerca de 355.000 habitantes do Estado.

E as manifestações contra o golpe militar de 1º de fevereiro deixaram, até 23 de maio, ao menos 818 mortos. Várias vítimas foram registradas na cidade de Mindat, que está sitiada desde que os militares se recusaram a libertar sete manifestantes em 24 de abril. A população local reage como pode, também disparando contra os militares ou lançando coquetéis molotov.

Os militares também já começam a contar mortos e feridos em suas fileiras. Em 17 de maio, meios de comunicação do governo disseram que foguetes de 107 mm foram usados ​​para atacar a base aérea de Taungoo e sua unidade militar em Bago (norte de Yangon): a notícia mostra como o nível do conflito está aumentando. Analistas temem que a situação possa degenerar em uma guerra civil.

 

Em declarações à Agência Fides, o sacerdote birmanês dos Missionários da Caridade residente na Itália, padre Maurice Moe Haung, afirmou que “a tarefa hoje dos fiéis católicos em Mianmar é cada vez mais difícil. Existem inocentes indefesos que vivem uma tragédia sem precedentes e as pessoas tentam se defender com armas artesanais. Há um uso desproporcional da força armada que alimenta a espiral de violência. Hoje nos unimos ao Papa para dizer mais uma vez: basta de violência!”

A revolta contra a Junta Militar continua a inflamar o centro e a periferia: os protestos continuam a atingir as cidades, 30 das quais estão sob toque de recolher das 20 às 4 da manhã, enquanto em Yangon e Mandalay, epicentros da rebelião, o toque de recolher tem início duas horas antes. As áreas rurais não estão menos isentas de violência, prisões, ataques militares.

Enquanto isso, a Junta declarou que vai dissolver a Liga Nacional para a Democracia (NLD) por fraude eleitoral e tomar medidas contra os "traidores" que fraudaram a votação de novembro, da qual o partido de Aung San Suu Kyi teve uma vitória arrasadora.

Por sua vez, o governo clandestino formado no exterior parece, em vez disso, disposto a dar "cidadania" também à minoria Rohingya. A pedido dos EUA, o novo Executivo planeja fornecer carteira de identidade para a minoria expulsa de Mianmar e teria dado a Maung Zarni - um conhecido ativista da causa Rohingya - um papel no Ministério da Cooperação Internacional.

Com Agência Fides

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25 maio 2021, 07:00