Protesto em Yangon contra o golpe militar Protesto em Yangon contra o golpe militar 

Líder católico birmanês: apelamos à mediação da Santa Sé

O diretor do jornal católico birmanês, que lançou o apelo ao Papa e à Santa Sé, conta que uma jovem de 19 anos foi assassinada quinta-feira, em Mandalay.

Vatican News

“Neste momento de sofrimento e repressão em Mianmar, fazemos um premente apelo ao Papa Francisco, para que a Santa Sé nos ajude e desempenhe um papel de mediação para melhorar a situação no país”: é o que afirma à Agência Fides Joseph Kung Za Hmung, líder leigo católico, diretor do jornal "Gloria News", primeiro jornal católico on-line de Mianmar. Ele espera que este apelo possa ser compartilhado também pelos dirigentes das comunidades católicas, bispos, sacerdotes e religiosos, que muito ajudam e dão assistência aos manifestantes.

O líder acrescenta: “Recordamos, com alegria e emoção, a visita que o Papa Francisco fez a Mianmar em novembro de 2017. O então General Min Aung Hlaing, atual chefe da junta militar, o visitou na residência do Arcebispado de Yangon. Soubemos que, naquele dia, o Santo Padre exortou o general a se responsabilizar por uma paz e democracia sustentáveis ​​em Mianmar. Hoje, enquanto vemos morrer tantos jovens, acreditamos que a ação mediadora da Santa Sé possa ajudar a acabar com a violência e restaurar a paz e a reconciliação".

O diretor do jornal católico birmanês disse à Fides que uma jovem de 19 anos foi assassinada na quinta-feira, 4, em Mandalay: “Kyal Sin, filha de uma família chinesa de Mandalay, morreu por um disparo de franco-atiradores do exército, enquanto participava de uma manifestação pacífica. Além de ser nosso anjo, é considerada uma heroína e uma mártir da liberdade. Por isso, se tornará um símbolo de muitos jovens, que lutam as ruas e continuam a protestar. Antes de morrer, Kyal havia escrito em uma carta: 'Tenho medo, mas lutaremos pela nossa liberdade. Não deixaremos de lutar’. Ela era uma jovem corajosa. Participaram do seu enterro, na última quinta-feira, em Mandalay, mais de duas mil pessoas, a maioria jovem, de todas as religiões".

 

O líder Joseph Kung explica à Agência Fides que "o movimento de protesto e desobediência civil, apesar da repressão do exército, continua com sua manifestação pacífica. Os jovens organizam protestos, mas o exército tenta dispersá-los, com todos os meios, até mesmo atirando e matando. Trata-se de um movimento de gente simples, que não tem uma liderança oficial”.

Segundo a Agência Fides, em Mandalay, também as Irmãs de São José da Aparição saíram às ruas para ajudar e dar assistência aos manifestantes espancados e feridos. Falando à imprensa, as Irmãs disseram estar "entristecidas pela morte de jovens inocentes e indefesos. O que nos incita é a compaixão”.

Desde o início dos protestos, as religiosas passarama a visitar os familiares das vítimas, levando consolação e conforto para aliviar seu sofrimento: “Nossas orações por eles são importantes, mesmo se forem budistas. Desta forma, demonstramos a nossa solidariedade e reforçamos o vínculo humano e espiritual”.

 

As religiosas expressaram sua empatia e solidariedade ao rezar durante o velório de Ko Min Min, de 36 anos, morto nos últimos dias em Mandalay, enquanto a polícia atirava contra a multidão, tentando acabar com o protesto. Elas também choraram e rezaram com a família de outra jovem vítima, Wai Yan Htun, de 16 anos, também baleada por um franco atirador.

Os fiéis birmaneses recordaram e apreciaram as palavras do Papa Francisco, durante a Audiência Geral de 3 de março passado: “Chegam-nos ainda tristes notícias de confrontos sangrentos em Mianmar, com perdas de vidas. Desejo chamar a atenção das autoridades envolvidas, para que o diálogo possa prevalecer sobre a repressão e a harmonia sobre a discórdia. Dirijo também um apelo à Comunidade internacional, para que as aspirações do povo de Mianmar não sejam sufocadas pela violência. Que seja concedida aos jovens daquela amada terra a esperança de um futuro, para que o ódio e a injustiça deixem espaço ao encontro e à reconciliação. Recordo, por fim, meu desejo expresso há um mês: que o caminho da democracia em Mianmar, empreendido nos últimos anos, possa ser retomado como o gesto concreto da libertação de diversos líderes políticos presos”.

Dos 54 milhões de habitantes em Mianmar os cristãos são apenas 6%, dos quais cerca de 650 mil católicos. Eles se uniram aos manifestantes desde o início do golpe, em 1° de fevereiro, com o espírito de não violência e de resistência pacífica contra as injustiças.

Agência Fides - PA

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06 março 2021, 07:00