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Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre em visita redação brasileira do Vatican News Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre em visita redação brasileira do Vatican News 

Dom Jaime Spengler: Desafiados ao diálogo

O autêntico diálogo é um itinerário de busca e iluminação, de gestação e de libertação. Ele se caracteriza pela serenidade de duas pessoas que procuram a verdade.

Dom Jaime Spengler, arcebispo metropolitano de Porto Alegre e primeiro vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

Os cristãos são chamados a viver coerentemente o amor a Deus e o amor ao próximo. O tempo da Quaresma representa uma oportunidade privilegiada para avaliar a intensidade do exercício do amor. Não é suficiente cultivar uma formalidade marcada por esteticismos; é necessário que o exercício seja intenso e metódico. Por isso, a Igreja do Brasil exorta suas comunidades a cultivar o diálogo com Deus e entre pessoas que se reconhecem como tal, qual exercício de amor.

O diálogo pressupõe capacidade de silenciar para colher aquilo que o outro está querendo expressar. Sem silêncio e capacidade de escuta, o diálogo é impossível. Diálogo é distinto de discussão. Na discussão, se parte de diferentes posições, eliminam-se as diferenças, para que, ao final, se alcance unanimidade numa posição comum, aceita por todos que nela participam.

O diálogo implica disposição para movimentar a própria posição, ceder, dar lugar, questionar a si mesmo, vivificar as próprias palavras e conceitos. Para dinamizar espaços de diálogo, é necessário, por vezes, abandonar a própria posição e fixação das palavras para se dispor à atitude do servo inútil, isto é, daquele que não faz reivindicação da sua posição, defesa dos próprios conceitos, mas se dispõe a realizar o caminho, e se abre para acolher a Verdade, não simplesmente como gostaria que ela fosse, mas como a vida mostra e ensina.

O autêntico diálogo é um itinerário de busca e iluminação, de gestação e de libertação. Ele se caracteriza pela serenidade de duas pessoas que procuram a verdade. Pode também ter a peculiaridade da verdade que se coloca como a luz, e a mentira que se opõem; é o encontro-desencontro entre a oferta e a rejeição da vida. Este é o caminho da fé, como se pode colher em vários relatos evangélicos.

Para quem se empenha em testemunhar a fé no cotidiano, a pergunta que sustenta toda forma de diálogo traz a marca da antropologia cristã: o que está em questão mata ou vivifica o ser humano?

Numa sociedade em que se verifica a deterioração da ética, a exacerbação do individualismo sem conteúdo e a autorreferencialidade, o enfraquecimento dos valores espirituais e do sentido de responsabilidade, se impõe a necessidade de espaços de diálogo para superação dessas situações, sobretudo para resgatar a importância de Deus no convívio social e da dignidade do outro.

Exasperações, exacerbações e polarizações não conduzem a lugar algum. Elas são as armas para alimentar controvérsias e contraposições, cujo único objetivo é desqualificar e eliminar o outro.

A Quaresma, através de suas práticas tradicionais do jejum, da esmola e da oração, oferece uma oportunidade para o resgate da importância do diálogo, qual caminho para a construção de uma sociedade justa e fraterna.

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22 fevereiro 2021, 13:52