Procissão de Santo Amaro - (Foto de arquivo) Procissão de Santo Amaro - (Foto de arquivo) 

Festa de Santo Amaro: 288 anos de fé e devoção

Uma tradição de 288 anos de Festa de Santo Amaro na Baixada Campista e em tempo de Pandemia realizada com todos os protocolos Sanitários e com programação restrita. O Bispo Diocesano de Campos (RJ) Dom Roberto Francisco Ferreira Paz destaca a valorização do sentimento religioso e místico da devoção ao santo. Devotos percorrem na madrugada do dia 15 de janeiro o Caminho de Santo Amaro para agradecer os inúmeros benefícios pela intercessão do Padroeiro da Baixada Campista.

Ricardo Gomes – Diocese de Campos

No dia 15 de janeiro todos os caminhos levam ao Distrito de Santo Amaro. A Festa é um legado dos Monges Beneditinos com três séculos de presença na região. Um legado de fé e de devoção construído desde 1648, com a chegada do Frei Fernando e a construção coletiva preservada pelos devotos que a cada ano aumentam e a festa religiosa já faz parte do calendário oficial do Estado do Rio de Janeiro. Fé e tradição se encontram e dialogam com as expressões devocionais populares.

Devoção e fé no Santo expressos nas promessas e nos testemunhos das graças alcançadas. Edith de Souza Machado, 88 anos recorda de sua juventude na igreja. Cantava as ladainhas e nesta fé criou os filhos. Hoje em sua residência dedica todo seu tempo a oração e acompanhando as missas e oração do terço pela televisão. Um exemplo de fé e de devoção no Padroeiro da Baixada Campista.

Dom Roberto visita devota
Dom Roberto visita devota

"Saudades de minha juventude. Desde nova cantava nas festas e era a ladainha em latim. Um tempo que deixou muita saudade e nesta fé que criei minhas filhas que continuaram também participando das festas e hoje não tenho como ir à igreja de meu Glorioso Santo Amaro, mas continuo a minha fé. Acordo cedo e rezo o terço pela televisão e a noite as missas", conta Edith.

Maria da Conceição Ramos, 93 anos tem uma história de fé desde a infância na localidade de Pindobas, Município de Quissamã, RJ. E após o casamento passou a morar no Distrito de Santo Amaro e passou a se envolver com a realização da cavalhada, espetáculo que acontece no dia 15 de janeiro. A devoção da infância e a alegria de por cinco décadas dar a sua contribuição a tradição em Campos dos Goytacazes.

"Muitas recordações. Meu pai festejava nosso Amaro Santo e quando cheguei a Campos vim morar aqui em Santo Amaro. Logo que cheguei Dona Rizete pediu que fizesse as roupas para o esposo correr a cavalhada. Desde esse dia que assumi este compromisso de preparar as roupas e os enfeites dos cavalos. Hoje aos 93 anos minha alegria é receber os amigos que me visitam no dia da festa. Este é o dia mais feliz de minha vida", declara Maria da Conceição.

Promessas
Promessas

Festa representa a memória religiosa e social

Para a Historiadora Rafaela Machado a celebração do dia de Santo Amaro está entre os eventos de maior significado não só para a Baixada Campista, como também para toda a cidade. As festividades que envolvem o dia deste santo fazem parte não apenas do calendário oficial de eventos da cidade, como representam um símbolo que carrega intensos significados para a região e seus moradores. É possível afirmar que a festa de Santo Amaro costumava dar o tom do iniciar de ano para os campistas, seja com as romarias, com as missas ou com a tão tradicional Cavalhada. Nesse sentido, é importante inserir as festividades no processo histórico de formação histórico-cultural da Baixada Campista, seus hábitos e costumes, bem como ter em mente o caráter definidor de valorização da identidade regional que se liga a tal evento.

"O dia de Santo Amaro é vivido com orgulho e zelo entre os que habitam na localidade, tornando ainda mais carregado de significado a força com que se manifestam a fé dos campistas e a intensa dedicação dos que realizam a tão esperada Cavalhada. Parte do calendário oficial de eventos da cidade, ocasião singular e com relevante sentido para a Baixada, o dia de Santo Amaro e todas as celebrações que este carrega, devem estar acompanhados do real entendimento de toda a força e simbolismo para a história local. Fé, história e cultura se misturam nesse dia de forma a confirmar que o povo campista e, em especial, a Baixada Campista, são absolutamente ricos em significados e sentidos. Nossa memória, nossa história e nossa cultura habitam também em Santo Amaro", destaca Rafaela.

Festa de Santo Amaro: Tradição dos Monges Beneditinos

Três séculos de presença em Campos e Região, os Monges beneditinos construíram um legado de espiritualidade e de devoção a Santo Amaro.

Presentes em Campos desde 1648, os Monges Beneditinos construíram um legado de fé e evangelizaram os moradores da Baixada Campista. Do Mosteiro construído na localidade de São Bento irradiaram a fé católica para toda região. Um legado marcado pela presença na educação, cultura e fé. E uma importante contribuição é a Devoção a Santo Amaro, reconhecido como um importante patrimônio da cidade de Campos com projeção nacional.

A Igreja foi construída em 1733-36, uma capela em taipa que em 1939 já não comportava o numero de devotos e já estava precisando de reformas. A antiga edificação recebeu paredes de tijolos sendo mantida a edificação original. Em 1854 a igreja foi ampliada e com um numero expressivo de devotos. Já se expandia a devoção ao santo.  De Campos a festa se tornava expressão para todo o Brasil se tornando uma das maiores festas do calendário religioso da Diocese de Campos.

Promessas
Promessas

Em 1789 a Igreja de Santo Amaro recebia a imagem, obra do mestre escultor e entalhador Frei Domingos da Conceição Silva. A imagem estava no altar da Igreja Abacial do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro. E a imagem originaria da devoção é atribuída ao mestre Agostinho de Jesus, religioso do Mosteiro de São Bento da Bahia.

Devotos e Romeiros. Os séculos se passaram e iniciava o tradicional Caminho de Fé percorrido na madrugada de dia 15 de janeiro. Um percurso que começa na Praça do Santíssimo Salvador e passa por igrejas centenárias, chegando ao Distrito de Santo Amaro. Um caminho de fé, devoção e de espiritualidade. A cada ano aumenta o numero de peregrinos que fazem o percurso. Cansados, mas a sensação de gratidão por graças alcançadas ao longo dos anos. Historias contadas e que registram a fé em Santo Amaro.

Os registros dessa fé e devoção marcadas com as expressões da religiosidade popular registradas durante todo o ano. Caminha de joelhos ate o altar, fotos e os bilhetes depositados juntamente com representações em cera retratando a parte do corpo que obteve a graça da cura. Mas as promessas ao santo continuam com pedidos de saúde, conquistas de emprego, aquisição da casa própria.

Testemunhos e recordações no registro e na memória coletiva dos moradores que recordam as múltiplas historias e de personagens que ajudaram na construção do Memorial da Baixada Campista. Rosemary de Fátima de Souza recorda do tempo de juventude que viveu na Igreja de Santo Amaro. As ladainhas cantadas nas festas em latim. Ao órgão Milton Neves, compositor do tradicional Hino de Santo Amaro, em reverência ao Glorioso Pai Santo Amaro.

Recorda a presença do Monge Alemão, Dom Bonifácio Plum, que prepara as cantoras e sempre estava atento as pronuncias do latim.

"Lembro de Antonia de Adão, Lecy de Souza, Edith Machado, Célia Neves, Anésia, Eliane Machado da época de Dom Bonifácio e o organista Milton Neves. As procissões com anjos, organizadas por Dona Luzia, a Banda de Musica e recordo de Domingos Matilde, o fogueteiro Amaro Balbino", recorda.

Dom Roberto

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15 janeiro 2021, 14:22