Segundo a ONU, metade da população do Iêmen corre o risco de desnutrição Segundo a ONU, metade da população do Iêmen corre o risco de desnutrição 

Dom Hinder: o escândalo do Iêmen onde se morre de fome

As principais agências das Nações Unidas lançam mais um alarme sobre a situação do Iêmen. A denúncia de Dom Paul Hinder: deve-se abrir corredores humanitários seguros para que as ajudas possam chegar aos que as necessitam

Francesca Sabatinelli – Vatican News

Diminui cada vez mais o espaço necessário para evitar uma dramática carestia no Iêmen, o país mais pobre do mundo árabe, destruído por cinco anos de guerra, que ainda continua. A desnutrição atingiu níveis recorde, com milhões de pessoas, fala-se de 5 milhões, que serão afetadas nos primeiros seis meses de 2021. Os iemenitas enfrentarão uma crise alimentar sem precedentes, causada principalmente pelo conflito e agravada pelo coronavírus. Assim como pelo aumento recorde dos preços dos alimentos no sul do país e pelo embargo às importações de combustíveis que atingiu o norte. A tudo isso deve-se acrescentar as limitações na área de saúde e restrições nos deslocamentos.

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Carestia, milhões de crianças passando fome

Nos últimos meses, houve uma queda significativa na ajuda humanitária, pois o Iêmen recebeu menos de 50% do previsto solicitado pela ONU. São mais de 24 milhões de pessoas que dependem de alguma forma de assistência humanitária e a situação está se deteriorando drasticamente. "O mundo não pode ficar parado e ver o Iêmen passar fome e milhões de crianças e famílias vulneráveis passarem fome", explica a diretora geral do Unicef, Henrietta Fore, que adverte que ainda mais crianças morrerão sem uma ação urgente. "É um escândalo", denuncia Dom Paul Hinder, Vigário Apostólico do Sul da Arábia e Administrador Apostólico do Norte da Arábia, ao Vatican News:

Entrevista

Dom Hinder: As notícias são verdadeiras, mesmo se o país inteiro não esteja na mesma situação, depende um pouco das regiões e áreas de conflito. No entanto, há fome, há doenças, há insegurança, há movimentos internos, migração interna, com os consequentes problemas, há violência, que permanece, mesmo que se busque um caminho para a paz, que no entanto ainda está muito distante, mas pelo menos para um cessar-fogo

Alguns dias atrás o Papa falou da necessidade de assumir a dor do outro, de não cair na cultura da indiferença e de não ignorar aquela parte da humanidade cujos direitos são ignorados e violados. Este é o caso no Iêmen...

Dom Hinder: O Iêmen tem como vizinhos países muito ricos, mas o Iêmen é um país muito pobre, feito pobre, mantido pobre, e agora tem até fome. É um escândalo e só posso pedir às potências internacionais que façam todo o possível para reduzir pelo menos esta miséria, mesmo que não seja possível resolvê-la de um dia para o outro.

Quais são as crises mais urgentes no Iêmen que precisam de ação imediata?

Dom Hinder: Precisa-se de comida, precisa-se sobreviver, e depois há a questão da saúde. O problema, porém, é como conseguir ajuda para as pessoas, pois, antes de tudo, deve-se abrir corredores humanitários seguros para passar a ajuda vinda do exterior. Sem os corredores é difícil intervir, o mundo tem dinheiro, e há também muitas agências prontas para ajudar, mas o problema principal é como chegar aos lugares onde é necessário chegar. Sem a colaboração de ambas as partes envolvidas na guerra e das potências internacionais será difícil ter um resultado positivo.

Dom Hinder, estamos no tempo do Advento, nos aproximando do Natal, qual é a esperança dos cristãos iemenitas?

Dom Hinder: Eles simplesmente precisam da solidariedade mundial, mas não querem ser tratados separadamente, porque compartilham a miséria dos outros, talvez até um pouco menos do que alguns iemenitas que realmente estão, não há outra expressão, na miséria. Mas é claro que existe uma necessidade de oração e não devemos esquecê-los, não apenas na oração, mas também em nossa solidariedade.

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07 dezembro 2020, 09:18