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Sagrada Escritura Sagrada Escritura 

A verdade da Bíblia

É preciso prestar atenção ao conteúdo e à unidade da Bíblia inteira. Só assim pode-se encontrar a inerrância absoluta da Bíblia.

Luís Eugênio Sanábio e Souza -  Escritor

Desde os tempos apostólicos, a Igreja Católica crê e ensina que Deus é o autor da Sagrada Escritura ao inspirar seus autores humanos; age neles e por meio deles. Fornece assim a garantia de que seus escritos ensinem sem erro a verdade salvífica (Catecismo da Igreja Católica nº 136).  Em tempos mais recentes, os papas Leão XIII e Pio XII aprofundaram a questão da inerrância bíblica e da correta interpretação dos textos sagrados.

Na Bíblia, Deus fala ao homem à maneira dos homens e para descobrir a intenção dos autores sagrados, há que levar em conta as condições da época e da cultura deles, os chamados "gêneros literários" em uso naquele tempo, os modos, então correntes, de sentir, falar e narrar. Pois a verdade é apresentada e expressa de maneiras diferentes nos textos que são de vários modos históricos ou proféticos ou poéticos, ou nos demais gêneros de expressão. É preciso prestar atenção ao conteúdo e à unidade da Bíblia inteira.  Só assim pode-se encontrar a inerrância absoluta da Bíblia. Neste sentido, o papa emérito Bento XVI afirmou que “numa boa hermenêutica não é possível aplicar de modo mecânico o critério da inspiração ou da verdade absoluta, pinçando uma simples frase ou expressão. O plano em que é possível compreender a Sagrada Escritura como Palavra de Deus é o da unidade da história de Deus, numa totalidade em que os elementos individuais se iluminam reciprocamente e se abrem à compreensão” (Papa Bento XVI, Vaticano, 2 de Maio de 2011). 

Na relação entre religião e ciência, sempre que alguma divergência tem surgido, um estudo mais acurado tem mostrado que ou a posição científica em desacordo com a Bíblia não era verdadeira, ou então que o texto bíblico não estava sendo interpretado corretamente.  Na sua carta à Grã-duquesa mãe, da Toscana, Cristina de Lorena, o memorável cientista Galileu Galilei assim afirmou: “a Sagrada Escritura não pode nunca mentir, sob condição todavia de que seja penetrado o seu verdadeiro sentido, que — não julgo poder negar-se — está muitas vezes oculto e é diferentíssimo daquele que parece indicar o simples significado das palavras” (Edição nacional das obras de Galileu, vol. V, p. 315).

A Igreja Católica ensina que segundo uma antiga tradição, podemos distinguir dois sentidos da Escritura: o sentido literal e o sentido espiritual, sendo este último subdividido em sentido alegórico, moral e anagógico. A concordância profunda entre os quatro sentidos garante toda a sua riqueza à leitura viva da Escritura na Igreja. O sentido literal é o sentido significado pelas palavras da Escritura e descoberto pela exegese que segue as regras da correta interpretação. O sentido literal não deve ser confundido com o sentido  “literalista” ao qual aderem os fundamentalistas.

Quando se trata de um relato, o sentido literal não comporta necessariamente a afirmação de que os fatos contados tenham efetivamente acontecido, pois um relato pode não pertencer ao gênero histórico, mas ser um relato de caráter simbólico.  O sentido espiritual : graças à unidade do projeto de Deus, não somente o texto da Escritura, mas também as realidades e os acontecimentos de que ele fala, podem ser sinais.  1-  O sentido alegórico:  podemos adquirir uma compreensão mais profunda dos acontecimentos reconhecendo a significação deles em Cristo; assim, a travessia do Mar Vermelho é um sinal da vitória de Cristo, e também do Batismo. 2 - O sentido moral : os acontecimentos relatados na Escritura devem conduzir-nos a um justo agir. Eles foram escritos "para nossa instrução" (1Cor 10,11).   3- O sentido anagógico : podemos ver realidades e acontecimentos em sua significação eterna.

Anagogia é a elevação da alma para as coisas celestes.  Uma máxima medieval resume a significação dos quatro sentidos: “Littera gesta docet, quid credas allegoria, moralis quid agas, quo tendas anagogia” = “A letra ensina o que aconteceu; a alegoria, o que deves crer; a moral, o que deves fazer; a anagogia, para onde deves caminhar”.  "É dever dos exegetas esforçar-se, dentro dessas diretrizes, por entender e expor com maior aprofundamento o sentido da Sagrada Escritura, a fim de que, por seu trabalho como que preparatório, amadureça o julgamento da Igreja.  Pois todas estas coisas que concernem à maneira de interpretar a Escritura estão sujeitas, em última instância, ao juízo da Igreja, que exerce o divino ministério e mandato de guardar e interpretar a Palavra de Deus" (Concílio Vaticano II: DV, 12,3).

“Ego vero Evangelio non crederem, nisi me catholicae Ecclesiae commoveret auctoritas” =  “Eu não creria no Evangelho, se a isto não me levasse à autoridade da Igreja Católica" (disse Santo Agostinho, nascido no ano 354).

 

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29 outubro 2020, 09:57