Apoio da família ajuda Maria da Conceição Ramos, 90 anos neste momento de incertezas Apoio da família ajuda Maria da Conceição Ramos, 90 anos neste momento de incertezas 

Diocese de Campos: pandemia e os efeitos na saúde mental

A perda do irmão está atormentando a dona de casa Rita Tostes Mota. As preocupações com o avanço da doença, o medo de contaminação e saber do destino do irmão que foi vitima da Covid-19. O caso trouxe sérias consequências à vida da dona de casa. E são muitos os casos dos efeitos da pandemia na vida de pessoas que vivem o isolamento social.

Ricardo Gomes – Diocese de Campos

O avanço da pandemia em regiões na zona rural de Campos (RJ) e as primeiras vitimas da Covid-19 vem preocupando moradores de regiões pouco habitadas. Em Campos a região do Garrafão é um lugar tranquilo e com poucos moradores. Neste local o pecuarista Carlos Bernardo Tostes resolveu se refugiar para evitar o contato com o vírus. Mas a história teve um desfecho trágico. Recebendo visitas de familiares contraiu o vírus e acabou morrendo. Essa poderia ser uma das muitas historias, mas o efeito abalou toda a família e a irmã, Rita Tostes Mota está sofrendo os efeitos dessa perda. Abalada evita receber visitas e esta isolada em sua residência com medo. Esta é uma das muitas histórias.

“Nunca pensei que meu irmão saudável fosse ser vitima dessa doença. Parecia que estava se despedindo. Uns dias antes estava com ele acompanhando no preparo da terra. E já planejando preparar a festa de Nossa Senhora do Carmo. Ele era aquele irmão que estava comigo em todas as horas, mesmo aqueles momentos que alguém da nossa família precisava de ajuda”, disse Rita.

Além dos medos a preocupação passa pela experiência e vivencia religiosa. Saber o destino de uma pessoa que morre de forma prematura e que poderia ser evitada. Qual destino e será que após a morte a pessoa vai encontrar familiares falecidos. Questões que suscitam neste momento de dor. Rita Tostes achou na oração um refugio pela perda. Esse exemplo é de muitas famílias neste momento da perda de um familiar.

Maria da Graça Bairral Neves residente no Município de Aperibé relata que no inicio o isolamento foi complicado, mas atividades domesticas associadas a fé foram ajudando a vivenciar a atual situação. Em casa cuida das plantas, acompanha pelas redes sociais as noticias e ocupa o tempo preparando pães caseiros que vende e distribui a famílias de idosos, profissionais da segurança. E sente o isolamento social.

“Não tenho tempo para depressão e no inicio foi muito difícil. Hoje procuro ocupar meu tempo com as atividades domésticas já que estou sem empregada. Não sinto solidão, e antes rezava um terço, hoje rezo o rosário, acompanho o terço da misericórdia e as missas pelas redes sociais já que não posso participar das missas presenciais por ser do grupo de risco. Meu tempo é todo ocupado e faço pães caseiros que levo as pessoas em casa, idosos em isolamento social”, conta.

Maria da Graça supera o isolamento reunindo a família para partilhar o pão caseiro que distribui aos idosos na comunidade
Maria da Graça supera o isolamento reunindo a família para partilhar o pão caseiro que distribui aos idosos na comunidade

Dois casos que apresentam os efeitos da pandemia nas pessoas em isolamento social. As respostas a todas as situações representam um problema que se agrava. Ficar em casa e em isolamento social pode ser necessário uma resposta da igreja. Como ajudar as pessoas neste momento de incertezas. Dom Roberto Francisco Ferreira Paz, bispo de Campos e Referencial Nacional da Pastoral da Saúde dá dicas de como vivenciar esse tempo em que a sociedade vive apreensiva diante de um vírus com alto poder de letalidade.

“A Igreja através das suas pastorais deve trabalhar muito a comunicação interpessoal e a  comunicação não violenta visando vencer bloqueios e fechamentos que destroem a autoestima e levam a depressão. Desenvolver uma educação afetiva despertando a escuta, empatia e compreensão promovendo uma autêntica cultura do Encontro e do Diálogo. Ajudar práticas e rituais que propiciem um crescimento na espiritualidade e confiança, abrindo para a oração e meditação tanto pessoal como familiar. A atenção a estes aspectos: comunicacional, afetivo e espiritual prepararão as famílias para superar conflitos, perdas e medos fortalecendo a resiliência pessoal e familiar”, relata Dom Roberto.

A Psicóloga Renata da Cunha Ladeira  Almeida dá dicas para evitar os efeitos na saúde mental. Aceitar a realidade e as condições apresentadas neste momento de isolamento social não significa aceitar, mas tentar se adaptar.

“Precisamos aceitar o que não podemos mudar, mas perceber a realidade que não significa achar que esse momento seja bom. Isso pode ajudar a manter a nossa saúde mental E a partir daí criar estratégias funcionais para lidar com todas as emoções pertinentes deste momento, ou seja, nessa situação de isolamento social e de pandemia é normal que estejamos com medos, angustias e incertezas e tudo isso pode causar um mal estar e um desconforto emocional. O que acontece é que muitas vezes a expectativa de resolver problemas e situações eu acabo me envolvendo em outro ainda maior e vai se tornando uma roda gigante de problemas”, aponta Renata.

Para a psicóloga esse momento vira intolerância se a pessoa apelar para estratégias nada funcionais e para o uso abusivo de substancias para aliviar a situação que causa medos e incertezas. Apresenta algumas dicas que auxiliam a conviver com esse período com mais tranquilidade.

“São atitudes simples. Manter a rotina diária é uma opção e com autenticidade e em contato com pessoas de alto astral e com atividades que sejam prazerosas sem muita cobrança. É fundamental nunca se comparar a outras pessoas com exercícios físicos e relaxamento respiratório e tirar sempre um tempo para descansar e relaxar”, observa.

Apoio familiar na superação do isolamento

Aos 92 anos, Maria da Conceição Ramos sente o apoio da família. A filha Rita de Cássia Soares e o esposo Isalmar Soares se mudaram para ajudar a mãe neste tempo de isolamento social. Acolhida e cuidado ajudam a diminuir os efeitos deste tempo de medos e incertezas. A idosa sente o conforto e fala que esta tranquila mesmo com as ameaças da Covid.

“Vendo a situação de minha mãe aos 92 anos de idade a solução foi ficar com ela. E neste tempo que os idosos sentem a solidão temos de estar juntos cuidando e mostrando nosso amor e como são importantes. Minha mãe é muito forte, mas precisa de saber que não está só”, disse Rita de Cássia.

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13 agosto 2020, 11:48