Padre Sérgio Torres, Secretário da Pastoral da Arquidiocese de Braga, Portugal Padre Sérgio Torres, Secretário da Pastoral da Arquidiocese de Braga, Portugal 

Pastoral na pandemia: ir para além do domingo

O padre Sérgio Torres, Secretário da Pastoral na Arquidiocese de Braga reflete sobre o acompanhamento que se deve dar às famílias neste tempo especial de pandemia. Assinala ainda que na sua diocese no próximo ano pastoral haverá um foco no tema da caridade.

Rui Saraiva

A pandemia do novo coronavírus está para ficar, segundo apontam os mais recentes números e informações das autoridades sanitárias. As comunidades paroquiais e as dioceses estão a tentar acorrer a quem necessita de ajuda e, ao mesmo tempo, procuram retomar as celebrações comunitárias e as atividades pastorais.

Na reportagem do jornalista João Pedro Quesado para a publicação Igreja Viva, em Portugal, o padre Sérgio Torres, Secretário da Pastoral da Arquidiocese de Braga recorda as dificuldades do confinamento e lança ideias para o futuro. Começa por assinalar a sua própria experiência com a catequese das crianças em tempo de pandemia.

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“Eu posso falar pela minha, por aquilo que pedi aos catequistas para fazer. Percebi que não é fácil. Porque não estavamos preparados.”

“Houve pessoas que quiseram aceitar aquela proposta a partir do Secretariado Nacional de Educação Cristã e das publicações que fazia no Youtube, a catequese semanal que era colocada. Tentamos também, através de uma plataforma, fazer um encontro com várias crianças, mas percebemos que é muito difícil.”

“Se já é difícil na missa prender a atenção delas e que elas se concentrem, neste mundo das redes sociais…Pegar no que fazemos no templo e passar para as redes sociais... Se eu ficar constantemente apenas a falar como numa homilia, as crianças não conseguem. Dispersam de imediato. É muito difícil.

“Como nós não tínhamos nada preparado para habitar este mundo, eu diria que fizemos bem o que foi possível fazer. Neste momento estamos num período de reflexão para perceber o que será possível fazer no próximo ano, se será possível fazer catequese presencial com grupos mais pequenos, caso contrário, não será fácil, particularmente com as crianças. No caso dos jovens, é mais fácil um bocadinho, mas também percebemos, através dos pais, do cansaço. E isso nós próprios sentimos. Eu cheguei a ter dias em que passei quase sete horas nisto, com as aulas do seminário, com uma conferência no Zoom, e de facto isto torna-se muito cansativo, exige muito mais esforço de concentração.”

“Mas sei que houve muita gente que usou isto para fazer encontros de pequenos grupos, só para manter o contacto, para reunir ou para orar. Mas tanto há gente que aparece como há gente que desapareceu, como aconteceu com as eucaristias. Eu creio que é um bocado prematuro estar a fazer uma leitura que nos ajude a perceber um bocadinho em que tempo é que estamos. Alguns podem dizer que as pessoas se desabituaram da missa e já não querem mais, o que é possível. Não sei. Aquilo que eu sinto neste momento é que estamos ainda no meio do nevoeiro, que é muito cedo e estas coisas levam muito tempo para mudar.”

O padre Sérgio Torres assinala a importância de uma pastoral que vá para além do domingo e sublinha que o grande desafio é o de dar maturidade às pessoas.

“Um grande desafio que nós agora percebemos que está diante de nós é o de dar uma maturidade maior às nossas pessoas. A partir do momento em que as igrejas fecharam, eu senti, pelo menos, que as pessoas, na maior parte, ficou sem ferramentas. Do género, ‘e agora, o que é que eu faço? quem é que me ajuda a crescer na fé?’. Por outras palavras, passa por termos cristãos mais adultos.”

“Cristãos que, sozinhos, sabem encontrar recursos, sabem rezar por eles próprios. Além disso, isto ajuda-nos a pensar de que maneira é que nós podemos ter uma pastoral que vá para além do domingo.”

“As pessoas vêm à missa ao domingo mas e depois, durante a semana? O domingo é um parêntesis que se abre na vida das pessoas e fecha-se logo no final da celebração? E durante a semana, como é que eu conduzo a minha vida cristã? Como é que eu o procuro, com que ferramentas? Eu acho que a maior parte das pessoas se sentiu descalça.”

“De que forma é que podemos ajudar as pessoas em casa.”

“As pessoas entregam as crianças nas paróquias para sermos nós os 'treinadores' na fé. Mas esse curto tempo não permite que eles cresçam (na fé). São os pais que o têm que fazer. Não estou a falar de os pais darem sessões de catequese.”

“A vida familiar acompanha a educação cristã, mas para isso temos que ajudar as famílias a fazê-lo. Temos que dar ferramentas às pessoas. Nem todos vão querer, claro, isso já é assim. Mas há muita gente que quer e a esses nós temos obrigação de alimentar convenientemente.”

Sobre o próximo ano pastoral o padre Sérgio Torres salienta que na Arquidiocese de Braga haverá um foco na caridade.

“O programa do próximo ano pastoral pretende focar-se na questão da caridade. Nós estamos a seguir o ritmo das virtudes – a fé, esperança e caridade – e achamos que seria de todo oportuno e pertinente mantermos esse ritmo, completar este ciclo. Por isso, haverá uma acentuação muito forte da questão da caridade, começando por aquilo que é a nossa inspiração. Nós vamos apoiar-nos bastante na dinâmica da parábola do bom samaritano e, por isso, vamos trabalhar muito esta questão da capacidade de ver – porque é assim que a parábola começa, com alguém que viu e sentiu o friozinho na sua barriga e que deixou que a dor do outro o afligisse e, a partir daí, começou a actuar. O programa pastoral vai trabalhar muito nesta lógica de um coração que sabe ver, de um amor que sabe olhar e que se sabe deixar compadecer pela dor dos outros, pelo sofrimento que vemos diante de nós, e a partir daí começa a actuar. Tentaremos desdobrá-lo ao longo dos próximos três anos para tentar que esta dinâmica da vida pastoral – que não é só a questão da pastoral social, há muita outra forma de caridade, de atenção ao próximo, a quem está sozinho e precisa de uma palavra, a casais, até, que estejam em sofrimento por variadas razões, a quem sofre com doenças mentais... Há um leque enorme de perspectivas que se podem abrir e que vão ser trabalhadas, assim esperamos, ao longo destes três anos na nossa diocese.”

A pastoral na pandemia é o atual grande desafio para as paroquias e dioceses na ajuda solidária e no acompanhamento das comunidades. Aqui ficou a reflexão do padre Sérgio Torres, Secretário da Pastoral da Arquidiocese de Braga, em Portugal, na reportagem do jornalista João Pedro Quesado.

Laudetur Iesus Christus

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23 julho 2020, 09:57