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Caravaggio, São Francisco em êxtase Caravaggio, São Francisco em êxtase 

Anna Maria Taigi. Cem anos da beatificação da mística trinitária

“O que mais impressiona é o contraste entre a grandeza dos dons recebidos e a humildade de sua figura, entre a extraordinariedade de sua experiência mística e a normalidade das dificuldades diárias”. Palavras do ministro-geral da Ordem da Santíssima Trindade, padre Gino Buccarrello

Vatican News

Na belíssima basílica romana de São Crisogno no bairro Trastevere, fica-se maravilhado pelo seu estilo barroco romano e com a cópia de uma obra de Guercino, “A glória de San Crisogno”. Assim como não passa inobservado o esplêndido pavimento original do ano 1100 aproximadamente. Porém, dentro desta linda basílica há um “tesouro escondido” que a torna importante e um lugar sagrado: a capela onde se encontram os restos mortais de Anna Maria Taigi, leiga trinitária e mística do século XVIII, beatificada por Bento XV 100 anos atrás, dia 30 de maio de 1920.

Dons sobrenaturais

Anna Maria Taigi, nasceu em Sena, em 29 de maio de 1769, mas a família mudou-se para Roma pouco depois. Mãe e doméstica da família Chigi, ela recebeu "dons singulares sobrenaturais de sabedoria, discernimento espiritual e profecia, especialmente sobre os graves problemas religiosos e políticos da época", descreve o abade francês Jean-Baptiste Chautard (1858-1935). Por causa destes dons sobrenaturais, bispos, cardeais, papas e estadistas recorreram a ela para obter conselhos. Até mesmo Marie Louise de Bourbon, da Espanha, que sofria de ataques epiléticos, recorreu a ela, e foi atendida: os ataques desapareceram.

Profecia

Mas em sua vida, Anna Maria tinha outro dom particular: o da profecia. Diz-se que uma noite, no início do ano de 1791, no primeiro período de sua experiência mística, enquanto estava sozinha em seu quarto, viu uma grande luz brilhando diante dela, como um sol, coberto por nuvens finas. Uma voz lhe disse: "É um espelho, aquele que te mostro, serve para te fazer entender o bem e o mal". Anna Maria sublinhou que "na imagem, havia uma figura sentada, de infinita dignidade e majestade, cuja cabeça estava voltada para o céu, como na imobilidade do êxtase; de sua testa saíam dois raios verticais de luz". Esta representação do sol era o símbolo da sabedoria. No sol, também viu a imagem de uma coroa de espinhos e uma cruz: era a encarnação de Cristo. Como símbolo, o sol era o divino, a Trindade. "As imagens fluíam deste sol, como pode ser visto em uma lanterna mágica", explicava a terciária trinitária. Durante meio século, Anna Maria Taigi viu os acontecimentos sociais e políticos de toda a Europa acontecerem naquele sol, particularmente os relativos às vicissitudes da Igreja.

A cem anos da sua beatificação, encontramos o ministro-geral da Ordem da Santíssima Trindade, padre Gino Buccarrello e com ele tentamos compreender melhor esta belíssima figura de santidade.

Anna Maria Taigi, terciária trinitária, mística, mãe de família, mulher simples. Uma figura extraordinária…

Padre Buccarrello: Pessoalmente, quando releio sua vida e medito no testemunho desta grande mulher de fé, o que mais me impressiona é o contraste que emerge entre a grandeza dos dons recebidos e a humildade de sua figura, entre a extraordinariedade de sua experiência mística e a normalidade das dificuldades diárias que era chamada a enfrentar no cuidado de uma família pobre e numerosa. Em sua vida, a Beata Anna Maria conseguiu sintetizar cada aspecto da fé sem descuidar de nada: dedicou-se à oração sem descuidar de seus compromissos na família. Chegou às alturas da contemplação e ao mesmo tempo soube curvar-se às necessidades dos pobres, dos doentes e dos excluídos. Conhecemos sua extraordinária experiência mística através dos escritos do padre Raffaele Natali (a beata não sabia escrever), um sacerdote de Macerata que morava na casa Taigi e era como um filho para a beata a quem ela contava suas visões. É óbvio que se deve saber lê-los e interpretá-los. Infelizmente, hoje há uma certa instrumentalização das visões da beata, a ponto de atribuir-lhe a profecia de certos acontecimentos dos nossos dias, dos quais não há vestígios nos escritos do padre Natali. Assim como, suas visões algumas vezes são interpretadas de forma pessimista, como presságios de destruição e não como um convite à conversão e à esperança.

O que Anna Maria Taigi pode dizer às famílias de hoje?

Padre Buccarrello: A beata tem muito a dizer! Ela viveu as mesmas dificuldades que muitas famílias enfrentam hoje. Entretanto, as restrições econômicas nunca a impediram de ser generosa com os pobres que batiam à sua porta e que nunca saíam de mãos vazias. Bento XV, por ocasião de sua beatificação, disse: "Embora sua vida fosse tão sobrenatural e escondida em Cristo, ela não era alheia ao seu tempo, ajudava muito ao próximo e a toda a comunidade. Ela era pobre, ainda assim tentava ajudar os indigentes; de fato, em várias calamidades públicas e privadas, inspirada do alto, se ofereceu como vítima da justiça divina, e com suas orações intermináveis ela se esforçou para remover os castigos daqueles que os mereciam”. Uma grande protagonista mística dos acontecimentos de seu tempo e profundamente comprometida com uma frente que é sempre atual: os pobres, os seus favoritos. A família é uma escola de vida e de amor, de um amor que não fica fechado em casa. A Beata lembra às famílias que a fidelidade não é uma peça de museu, um valor de outros tempos, mas a garantia de um amor que não conhece obstáculos e que é mais forte do que qualquer fragilidade humana.

E neste ano a Ordem Trinitária celebra o centenário de sua beatificação.

Padre Buccarrello: Uma extraordinária oportunidade para relançar a sua figura e torná-la cada vez mais conhecida. Seu exemplo de vida e sua santidade farão muito bem a tantas famílias e a tantos cristãos. Uma mulher simples, humilde, pobre, mas rica em fé e caridade pode ser um modelo para todos nós e um estímulo para percorrer o caminho da santidade. Intensifiquemos também nossa oração para que a Santíssima Trindade nos conceda em breve a graça de poder venerá-la como uma santa. Para poder pedir a sua canonização é necessário um milagre como prova de sua santidade. Nós só podemos rezar.

(L'Osservatore Romano)

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09 junho 2020, 09:47