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Curso dos Bispos: a dinâmica humana e espiritual da formação permanente dos presbíteros

Curso anual para os bispos do Brasil, organizado pela Arquidiocese do Rio de Janeiro, realizou na ultima semana de janeiro a sua 29ª edição.

Cidade do Vaticano – Padre Arnaldo Rodrigues e Carlos Moili

Ouça a reportagem

Todos os anos, a Arquidiocese do Rio de Janeiro organiza no Centro de Estudos do Sumaré um curso para os Bispos do Brasil. Na sua 29ª edição, o tema do ano de 2020 foi “A dinâmica humana e espiritual da formação permanente dos presbíteros”, baseada na Ratio Fundamentalis”, publicados no dia 8 de dezembro de 2016 pela Congregação para o Clero, e a “Ratio Nacionalis”, aprovada pela Assembleia Geral dos Bispos do Brasil  e publicada no dia 12 de outubro de 2019, como Documento nº 110 da CNBB

Segundo Dom Orani Joao Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro e anfitrião, “O curso não é uma assembleia para decisões, mas um tempo em que os bispos aproveitam o período de férias para descansar, rezar e partilhar, num clima de muita fraternidade. Os temas de cada ano são relacionados com a vida da Igreja, quando conferencistas de renome internacional e também do nosso país nos ajudam a pensar e ver como aplicar o conteúdo em nossas dioceses”.

História

O curso que começou com Dom Eugenio de Araujo Sales, é organizado por Dom Karl Josef Romer, bispo emérito da Arquidiocese do Rio. Em sua primeira edição, o curso contou com a presença do então Cardeal Joseph Ratzinger.

Dom Orani agradeceu a Dom Romer e também a Dom Joel Portela, bispo auxiliar do Rio e secretário-geral da CNBB, pela organização e condução do curso. E contou um pouco do curso ao longo dos seus 30 anos de história:

“O Curso dos Bispos tem uma história a serviço da Igreja nos seus 30 anos de existência, embora estejamos realizando a 29ª edição. Não houve curso em 1991, devido à proximidade do curso anterior e, em 2007, devido à Conferência de Aparecida. Neste período, levando em consideração a presença, em média, de cem bispos em cada um, o curso já reuniu 2.900 bispos, embora muitos tenham participado várias vezes.

“Dedicamos esta edição a Dom Eugenio, ele que foi o idealizador e incentivador do curso, neste ano em que celebramos o centenário de seu nascimento.”

Neste ano de 2020, o curso contou com a presença de 119 participantes, sendo 66 arcebispos e bispos titulares de dioceses, bispos auxiliares e eméritos e vigários episcopais do Rio.

Tema

Segundo Dom Joel Portela, após a publicação da “Ratio Fundamentalis”, a Conferência Episcopal do Brasil foi a primeira a fazer as diretrizes em âmbito nacional, a “Ratio Nacionalis” ou o Documento 110 da CNBB. Ele recordou que a formação permanente é um processo muito amplo, eminentemente catecumenal, e que os dois documentos contemplam com destaque o princípio antropológico.

“Dois princípios que sempre estiveram presentes na vida da Igreja, mas que agora sobressaíram nesses dois documentos. A formação é um processo que deve percorrer a vida toda. Não é apenas o tempo de seminário, que é intenso, mas é um tempo curto, levando em consideração que se exerce o sacerdócio, em média, por 60 anos. A formação começa do nascer e vai até o último suspiro. A pessoa humana é mais importante do que qualquer concretização. Antes de ser seminarista ou padre, é um ser humano”

Conferencistas

Dom Jorge Carlos Patrón Wong

Participaram como conferencistas Dom Jorge Carlos Patrón Wong, arcebispo e secretário da Congregação para o Clero, em Roma.

Na sua primeira conferência, abordou “O discipulado como processo de configuração com o Cristo Bom Pastor - sobre a formação e o acompanhamento nos seminários”. Na segunda conferência, “Espiritualidade, vida e ministério do presbitério diocesano junto ao povo de Deus e ao lado do seu bispo”, ele fez um resgate de elementos da espiritualidade cristã, comuns a todos os batizados, que estão na base da espiritualidade episcopal e sacerdotal, e que constituem passos na caminhada até o chamado de Deus. Por fim na terceira conferência, Dom Jorge Patrón abordou sobre “O processo de acompanhamento dos sacerdotes durante a formação permanente”, que tem um caráter eminentemente comunitário e se desenvolve com a colaboração de um inteiro presbitério e seu pastor.  

Dom Jaime Spengler

Dom Jaime Spengler, Arcebispo de Porto Alegre, vice-presidente da CNBB e membro da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, apresentou o processo de elaboração do Documento 110 da CNBB em três tópicos: o histórico, os elementos a serem considerados na sua aplicação e considerações gerais sobre formação.

Padre Stanislaw Morgalla

Padre Stanislaw Morgalla, professor da Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, também diretor do Centro de St. Peter Favre, para formadores do Sacerdócio e da Vida Consagrada, fez três conferências durante o curso.

Na primeira conferência, “Antropologia da vocação cristã”, abordou o paradoxo da vida cristã no seu contexto antropológico, espiritual e aspectos psicológicos. Na conferência “Celibato e obediência do sacerdote, em meio aos desafios da vida cotidiana”, refletiu sobre o modo de viver a afetividade (sexualidade), em virtude da opção vocacional. Na terceira conferência, “A formação inicial e permanente, uma realidade unitária”, disse que não é possível separar a formação permanente do presbítero da sua formação inicial

Luciana Campos - Saúde emocional do presbítero

Na sua conferência, “O esgotamento existencial dos presbíteros: causas e pistas para ação das dioceses na prevenção e tratamento”, a psicóloga Luciana Campos, professora no Seminário São José, em Niterói, e autora de vários livros sobre o assunto, partilhou sua experiência no atendimento a sacerdotes de todo o Brasil.

“A Síndrome de Burnout é o esgotamento emocional, psíquico e laboral oriundo pelo excesso de trabalho. As pessoas em geral não imaginam que os sacerdotes são acometidos por esses problemas, por isso a importância de dar visibilidade à temática”, disse. A psicóloga contou que procura ajudar os sacerdotes a serem menos centralizadores, aprenderem a delegar e confiarem nos outros, porque é impossível uma pessoa só dar conta de tudo. “Preparado para ser pastor 24 horas por dia, o sacerdote é sugado todo tempo e se dá desmedidamente, até que começa a sentir os efeitos dessa doação desacerbada. Muitas vezes, ele começa a se sentir frustrado, irritado e perdido a ponto de se isolar, a ter crise de fé e de questionar a própria vocação”.

Segundo Luciana Campos, a Síndrome de Burnout é uma doença silenciosa e, para não deixar que ela se instale, é preciso mudanças, ter uma agenda com horários específicos. “Precisa fazer parte da agenda momentos de descanso, lazer e, principalmente, de socialização. Se faz necessária a socialização com seus pares para discutir sobre problemas comuns e caminhos para o resgate da saúde emocional”, disse a psicóloga.

Segundo Dom Orani, o sacerdote também tem suas necessidades e limitações, e às vezes acaba se irritando e ficando tenso com algumas situações que enfrenta e, por isso, a necessidade de alguém que compreenda e ajude o sacerdote a dar passos.“Só seremos perfeitos no céu. Enquanto estamos aqui, precisamos nos ajudar mutuamente. Por isso, a necessidade de rezar, compreender e acompanhar a vida e a missão do sacerdote, e neste aspecto, a comunidade paroquial pode ajudar a transformar a realidade”, disse o arcebispo.

Padre Luiz Fernando Ribeiro - Direção espiritual

A última conferência do curso, “A escuta e a direção espiritual como partes da formação permanente dos novos e dos atuais presbíteros”, foi apresentada pelo padre Luiz Fernando Ribeiro Santana, mestre em teologia, pertencente ao clero do Rio de Janeiro e professor na PUC-Rio.

Trabalhando por quase três décadas na direção espiritual de leigos, religiosos e, de modo particular, com presbíteros, padre Luiz Fernando afirmou que a direção espiritual é parte integrante da formação permanente. “É importante redescobrir o valor da direção espiritual na formação permanente dos presbíteros, sobretudo, na dimensão da escuta. Tem sido um desafio e um treinamento de colocar-se disponível no acolhimento, em cada encontro inteiramente único”

Guido Schäffer - Servo de Deus

No dia 29 de janeiro, na programação do curso, os bispos visitaram o túmulo do Servo de Deus Guido Schäffer, instalado na Paróquia Nossa Senhora da Paz, em Ipanema. Durante a visita, que foi concluída com a Oração de Vésperas, presidida pelo arcebispo de Pouso Alegre (MG), Dom José Luiz Majella Delgado, os bispos ouviram o testemunho de Nazareth Schäffer, mãe do Servo de Deus, que foi médico e seminarista, e o andamento do processo feito pelo delegado arquidiocesano para a causa dos santos, Dom Roberto Lopes, OSB.

2021

O próximo curso dos Bispos acontecerá  de 25 a 29 de janeiro de 2021, também no Sumaré, cujo tema será em torno da catequese. Um dos conferencistas será o presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, no Vaticano, Dom Rino Fisichella.

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05 fevereiro 2020, 12:29