Papa Francisco no Memorial da Paz em Hiroshima Papa Francisco no Memorial da Paz em Hiroshima 

Não à violência e às armas nucleares, apelos do Papa na visita à Tailândia e ao Japão

A 32ª Viagem Apostólica do pontificado de Francisco decorreu de 19 a 26 de novembro deste ano de 2019.

Rui Saraiva – Porto

Na audiência geral desta semana o Papa denunciou a hipocrisia de quem fala de paz, mas constrói e vende armas. Esta declaração de Francisco foi proferida a propósito da sua reflexão sobre a visita ao Japão nos últimos dias onde rezou pelas vítimas da guerra e pediu paz e a abolição das armas nucleares.

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Recordaremos os passos da visita do Santo Padre ao Japão mais à frente. Para já iniciemos pela Tailândia, primeira etapa da 32ª Viagem Apostólica de Francisco.

Destacamos o discurso às autoridades da Tailândia no qual lembrou as vítimas de violência, abuso e de exploração. Foi em Bangkok, na quinta-feira 21 de novembro, na sede do Governo da Tailândia.

Um país aonde os missionários portugueses chegaram em 1567.

Vítimas de violência, abuso e exploração

No seu discurso o Papa começou por assinalar os desafios globais do mundo que “envolvem toda a família humana” e exigem esforços “em prol da justiça internacional e da solidariedade entre os povos”.

Francisco saudou as “antigas tradições espirituais e culturais” da Tailândia, “nação multicultural e caraterizada pela diversidade” e lembrou a criação neste país de uma Comissão Ético-Social:

“Congratulo-me com a iniciativa de criar uma «Comissão Ético-Social», na qual convidastes a participar as religiões tradicionais do país a fim de acolher as suas contribuições e manter viva a memória espiritual do vosso povo”.

“Esta terra tem como nome liberdade” – recordou o Papa afirmando a necessidade de serem superadas as desigualdades através do acesso à saúde, ao trabalho, à educação:

“… é necessário trabalhar para que as pessoas e as comunidades possam ter acesso à educação, a um trabalho digno, à assistência sanitária, e assim alcançar os níveis mínimos indispensáveis de sustentabilidade que tornem possível um desenvolvimento humano integral”.

Espaço no discurso do Papa para falar sobre a crise migratória, apontando que cada nação deve “proteger a dignidade e os direitos dos migrantes e refugiados, que enfrentam perigos, incertezas e exploração”.

“Não se trata apenas de migrantes, trata-se também da fisionomia que queremos dar às nossas sociedades”.

Muito importante a referência de Francisco às vítimas de escravidão e abuso, especialmente as mulheres e as crianças:

“… penso nas mulheres e nas crianças de hoje que são particularmente feridas, violentadas e expostas a todas as formas de exploração, escravidão, violência e abuso”.

No final do seu discurso o Papa assinalou que as sociedades precisam de “artesãos da hospitalidade” que “cuidem do desenvolvimento integral dos povos”.

“… hoje mais do que nunca as nossas sociedades precisam de artesãos da hospitalidade, homens e mulheres que cuidem do desenvolvimento integral de todos os povos, no seio duma família humana que se empenhe a viver na justiça, solidariedade e harmonia fraterna”.

Abolir as armas nucleares

De 23 a 26 de novembro o Papa visitou o Japão. Um país que foi evangelizado por S. Francisco Xavier no século XVI a pedido da Coroa Portuguesa.

No Japão foi muito importante o momento vivido pelo Papa em Nagasaki. No domingo 24 de novembro, Francisco prestou homenagem às vítimas das bombas nucleares durante a Segunda Guerra Mundial. O Santo Padre esteve no Hipocentro da Bomba Atómica no interior do Memorial da Paz da cidade nipónica tendo-se recolhido num breve momento de oração.

No seu discurso, o Papa sublinhou o horror do sofrimento causado pelas armas nucleares, como documentam recentes “descobertas na Catedral de Nagasaki”.

Francisco afirmou que a posse de armas “não é a melhor resposta” para a paz e estabilidade internacional que não se constroem através do “medo” – assinalou.

O Santo Padre ergue a sua voz “contra a corrida aos armamentos” e apelou a um futuro de paz que “requer a participação de todos: as pessoas, as religiões, a sociedade civil, os Estados que possuem armas nucleares e os que não as possuem, os setores militares e privados, e as organizações internacionais” – disse o Papa.

Francisco referiu o perigo das novas tecnologias de armamento e declarou a necessidade de se romper com a desconfiança que prevalece na política internacional:

“É necessário romper a dinâmica de desconfiança que prevalece atualmente e que faz correr o risco de se chegar ao desmantelamento da arquitetura internacional de controlo dos armamentos. Estamos a assistir a uma erosão do multilateralismo, agravada ainda mais com o desenvolvimento das novas tecnologias das armas; esta abordagem é bastante incoerente no contexto atual caraterizado pela interconexão e constitui uma situação que requer atenção urgente e dedicação por parte de todos os líderes”.

Francisco afirmou o empenho da Igreja Católica na promoção da paz, recordou o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares e o apelo dos bispos do Japão em julho passado sobre a abolição das armas nucleares. Reafirmou a força da oração, da “busca incansável de promover acordos” e de insistir no “diálogo” como autênticas “armas” pela paz. E pediu aos líderes políticos para não se esquecerem de que as armas nucleares não defendem das ameaças à segurança:

“Que a oração, a busca incansável de promover acordos, a insistência no diálogo sejam as «armas» em que deponhamos a nossa confiança e também a fonte de inspiração dos esforços para construir um mundo de justiça e solidariedade que forneça reais garantias para a paz. Com a convicção de que é possível e necessário um mundo sem armas nucleares, peço aos líderes políticos para não se esquecerem de que as mesmas não nos defendem das ameaças à segurança nacional e internacional do nosso tempo”.

No final do seu discurso, o Papa Francisco propôs a Oração de S. Francisco de Assis “pelo triunfo duma cultura da vida, da reconciliação e da fraternidade”.

Ainda no domingo 24 de novembro o Papa participou num Encontro pela Paz em Hiroshima. No Memorial pela Paz, o Santo Padre afirmou: “Nunca mais a guerra, nunca mais o fragor das armas, nunca mais tanto sofrimento!”

No voo de regresso ao Vaticano, na tradicional conferência de imprensa, o Papa voltou a condenar o uso de armas nucleares declarando-o “imoral” e considerando que deve ser “introduzida no Catecismo da Igreja Católica” não apenas a proibição do “uso” mas também a “posse” de armas nucleares.

Laudetur Iesus Christus

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28 novembro 2019, 11:53