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Arquitectura religiosa / Foto: João Lopes Cardoso Arquitectura religiosa / Foto: João Lopes Cardoso 

Arquitetura e Liturgia: a propósito de um congresso internacional

Decorreu no Seminário Maior da diocese do Porto o VI Congresso Internacional de Arquitetura Religiosa Contemporânea.

Rui Saraiva – Porto

“Arquiteturas para uma nova liturgia. Intervenções no património religioso depois do Concílio Vaticano II” foi o tema do VI Congresso Internacional de Arquitetura Religiosa Contemporânea que decorreu na Biblioteca do Seminário Maior da Diocese do Porto em Portugal entre os dias 10 e 12 de outubro.

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Numa organização conjunta do Observatório de Arquitetura Religiosa Contemporânea (OARC), do Centro de Estudos de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP) e do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa (CEHR), este encontro foi uma oportunidade  para revisitar e dialogar sobre a arquitetura, a liturgia e o património. Ou, como disse, o bispo do Porto, D. Manuel Linda, na sessão de abertura, um momento para procurar debater a necessidade de um “trabalho interdisciplinar” entre Arte, Teologia e Arquitetura.

Falamos com João Luís Marques do Centro de Estudos de Arquitetura e Urbanismo da FAUP que salientou ser objetivo deste evento colocar “os investigadores da área da arquitetura religiosa contemporânea a apresentarem as suas preocupações, nomeadamente, sobre a conservação do património”. Salientou a importância da definição de “critérios quando se faz projeto de intervenção em património religioso”.

O arquiteto João Luís Marques considera que a relação entre Teologia e Arquitetura é “frutífera” assinalando a importância da reflexão sobre o desafio da intervenção nas igrejas para que sejam “igrejas para o tempo de hoje”.

Precisamente, para ajudar na construção de uma igreja, esteve na diocese do Porto, em janeiro de 2018, o padre Marko Rupnik, jesuíta famoso pelas suas obras em mosaico ao serviço da liturgia.

O sacerdote esloveno é responsável pela decoração da Capela “Redemptoris Mater”, no Vaticano, pelos mosaicos na nova Basílica de Santo Padre Pio, em San Giovanni Rotondo, no sul de Itália, e em Portugal pelo extenso painel em mosaico da Basílica da Santíssima Trindade, em Fátima.

Quando esteve na diocese do Porto o padre Rupnik proferiu uma conferência sobre arte e liturgia e teve oportunidade de falar com os jornalistas. Recordamos aqui um excerto das suas palavras:

“Digamos que o divórcio entre a arte e a Igreja é muito doloroso. Paulo VI fez na Capela Sistina há tantas décadas atrás um discurso muito sofrido sobre este divórcio entre a arte e a Igreja. Um divórcio que fez danos a ambas. À arte, a Igreja ofereceu sempre a vida. Porque a Igreja oferecia aos artistas uma vida no Espírito, uma vida que permanece. E a arte e o artista oferecem à Igreja uma expressão desta vida como beleza.”

“Como qualquer coisa que é apelativa e que fascina. Que pertence só a este mundo. E este divórcio é muito doloroso porque hoje a arte arrisca-se a ser só uma questão de forma e de expressão. Mas a questão é: qual a vida que se comunica. E a Igreja tornou-se numa organização de projetos, de abstrações racionalistas, de moralismos. Tornamo-nos bons mas não somos belos. O mundo pode até aplaudir-nos, a nós católicos, dizendo que somos bons mas não nos segue. Porque não somos fascinantes.”

“A arte está sempre ligada à vida: à vida biológica, à vida psíquica e intelectual e à vida segundo Deus. E esta última integra as outras duas. Faz ver o homem na sua imagem definitiva, naquela que permanece. A arte só biológica, a vida só biológica não exprime todo o homem. Aquilo que permanece é o homem de Cristo.”

“A arte na liturgia é como a liturgia, nunca está completa. Porque da parte do homem nós apresentamos a oferta. Mas não está completa a oferta, tem que vir o Espírito Santo. E isto é muito belo, pois o homem não pode fazer de si mesmo uma obra completa, uma perfeição. É Deus quem aperfeiçoa, é Deus quem cumpre em nós aquilo que fica depois da morte. Não deve ser uma arte completa, porque pode fascinar mas aborrece. Tem que ser uma arte que convida, que nos faça curiosos, que não seja invasiva mas humilde.”

O padre Marko Rupnick propõe que a arte na liturgia seja convidativa, não invasiva e humilde.

No VI Congresso Internacional de Arquitetura Religiosa Contemporânea que decorreu na diocese do Porto estiveram especialistas de Espanha, Itália, Portugal, Brasil, Hungria, Croácia e Austrália.

Laudetur Iesus Christus

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17 outubro 2019, 09:18