1565194920866.jpg

Bispos indianos pedem "esforço de paz e reconciliação" para Caxemira

Com uma medida aprovada pela Câmara Baixa do Parlamento indiano, a Índia revogou o "status especial" da Caxemira garantido pela Constituição de 1947, que passa a ser um "território da união". A medida gerou protestos e a região foi isolada. Governo paquistanês reafirmou seu "apoio político, diplomático e moral" à causa da Caxemira e seu "inalienável direito à autodeterminação".

Cidade do Vaticano

"A situação na Caxemira é delicada e exige um esforço de todos, pela paz e a reconciliação, para que não degenere em conflito: hoje acompanhamos  a situação com a nossa oração. Expressamos a nossa proximidade ao povo da Caxemira, que novamente vive dias de tensão e sofrimento. Com esperança de uma evolução pacífica dos acontecimentos, rezamos pela paz na Caxemira e em toda a Índia".

Este foi o sentimento expresso por Dom Theodore Mascarenhas, bispo auxiliar de Ranchi - e que recentemente concluiu seu mandato como secretário geral da Conferência Episcopal da Índia – ao comentar à Agência Fides a atual situação reinante na Caxemira, e que causa grande preocupação e atrai a atenção também da comunidade católica da Índia.

Câmara Baixa

 

Com uma medida aprovada pela Câmara Baixa do Parlamento indiano, a Índia revogou o "status especial" da Caxemira garantido pela Constituição de 1947. A região no noroeste da Índia, o único Estado indiano com maioria muçulmana (68% população local de 14,5 milhões de habitantes), passará a ser um "território da União", isto é, administrado pelo governo federal, por meio de um representante do executivo.

Risco de radicalização 

 

A decisão gerou protestos e distúrbios no território, que com a medida perde a sua autonomia. Segundo declarou à Agência Fides padre Shaiju Chacko, porta-voz da Diocese de Jammu-Srinagar - única católica na Caxemira - "a decisão poderia gerar um ulterior sentimento de distância e de alienação entre a população local e o governo central, aumentando a "instabilidade interna e os riscos de radicalização violenta, especialmente entre os jovens",  em uma área em que grupos jihadistas e extremistas já organizaram atentados no passado.

Desordens e protestos

 

No Estado, foram registradas desordens e protestos e as forças de segurança indianas  - o governo enviou 50.000 novos soldados, além dos 60.000 já existentes -  prenderam mais de 500 pessoas, para evitar riscos de outras manifestações de rua e possíveis ataques terroristas.

Dada a tensão elevada, cerca de 20 mil entre peregrinos e turistas foram retirados da Caxemira, que está isolada de contatos externos. Em um clima social de muita tensão e instabilidade, observa padre Shaiju Chacko, "a Igreja convida à prudência, a não de deixar levar por tendências violentas e manter a calma. Continuamos a trabalhar, em nível pastoral e social, pelo bem da população. Pedimos ao governo de Nova Délhi um gesto de confiança e de reconciliação em relação à população local, que já sofreu demais".

A condenação do Paquistão

 

Enquanto isso, com uma nota oficial do Ministério das Relações Exteriores, o Paquistão "condena e rejeita fortemente" a decisão da Índia, classificando-a  como "um passo unilateral inaceitável". Ademais, Islamabad reafirma seu "apoio político, diplomático e moral" à causa da Caxemira e seu "inalienável direito à autodeterminação".

Território já foi palco de cinco guerras entre Índia e Paquistão, países com arsenal nuclear
Território já foi palco de cinco guerras entre Índia e Paquistão, países com arsenal nuclear

Caxemira disputada entre Índia e Paquistão

 

A região da Caxemira,  localizada ao extremo noroeste do subcontinente indiano, é disputada principalmente pela Índia e Paquistão, mas também pela China.

A Índia reivindica a totalidade do antigo Estado principesco dogra  (da Dinastia Droga) de Jammu e Caxemira e atualmente administra cerca de 43% da região, incluindo a maior parte de Jammu, Caxemira, Ladakh (incluindo o glaciar de Siachen).

A alegação da Índia é contestada pelo Paquistão, que controla cerca de 37% da Caxemira, principalmente a chamada Caxemira Livre (Azad Kashmir) e as regiões setentrionais de Gilgit e Baltistão.  A China, por sua vez, controla 20% da Caxemira, incluindo Aksai Chin que ocupou na sequência da breve guerra sino-indiana de 1962 e da área do Trans-Caracórum, também conhecida como o vale de Shaksgam, que foi cedida pelo Paquistão em 1963.

A posição oficial da Índia é que Caxemira é uma "parte integrante" da Índia, enquanto a posição oficial do Paquistão é que a Caxemira é um território disputado cujo status definitivo poderá ser determinado somente pelo povo da Caxemira. Alguns grupos caxemires alegam que a Caxemira deve ser independente da Índia e do Paquistão.

A disputa pelo território já provocou três guerras entre a Índia e o Paquistão: em 1947, 1965, 1971, 1999 e 2001–2002.

Índia e China, por sua vez, enfrentaram-se uma vez em 1962, pelo controle de Aksai Chin, bem como pelo nordeste do estado indiano de Arunachal Pradesh.

A Índia e o Paquistão também se envolveram em diversas escaramuças no glaciar de Siachen.

Desde a década de 1990, o Estado indiano de Jammu e Caxemira tem sido afetado por confrontos entre caxemires separatistas, incluindo militantes que a Índia alega serem apoiadas pelo Paquistão e as Forças Armadas do Paquistão, o que causaram milhares de mortos.

(Com Agência Fides)

Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui

08 agosto 2019, 13:18