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Arcebispo Cristobal Lopez Romero saúda fiéis subsaarianos, antes da Missa dominical na Catedral de São Pedro, em Rabat Arcebispo Cristobal Lopez Romero saúda fiéis subsaarianos, antes da Missa dominical na Catedral de São Pedro, em Rabat 

Aqui não somos perfeitos, mas caminhamos juntos, diz bispo no Marrocos

Bispo da Catedral de São Pedro e arcebispo da capital marroquina Rabat desde março de 2018, Dom Cristobal Lopez Romero conhece a terra marroquina desde o início do ano 2000. Nesta entrevista, ele retorna à questão da convivência com o islamismo no Reino marroquino e fala sobre a originalidade de um instituto que reúne no Marrocos, cristãos e protestantes.

Arcebispo de Rabat desde março de 2018, Dom Cristobal Lopez Romero conhece o Marrocos desde o início do ano 2000. Nesta entrevista ao jornal "Afrique Tribune", o prelado fala sobre o islamismo marroquino, a situação do diálogo inter-religioso no país norte-africano, os frutos da recente visita do Papa Francisco e a experiência positiva do “Institut Al Mowafaqa”, fundado em 2012 por iniciativa do arcebispo emérito de Rabat, Dom Vincent Landel e do pastor evangélico Samuel Amedro, para responder à necessidade de formar animadores pastorais leigos preparados, mas também para favorecer a promoção do diálogo com a comunidade muçulmana marroquina:

Qual a sua opinião sobre a prática no Marrocos de um Islã aberto e tolerante e sobre a garantia da prática do culto no Reino?

“Um olhar muito positivo. O Islã que eu conheci no Marrocos é realmente um Islã aberto e tolerante. Quanto à liberdade de culto, é total para nós cristãos; vivemos a nossa fé pacificamente e a nossa integração no seio da comunidade e dos marroquinos é impecável.

Justamente, como vocês vivem o diálogo inter-religioso diário defendido pelo Marrocos? Existem realmente relações de respeito e confiança entre comunidades de crenças diferentes?

É na vida cotidiana, nas relações interpessoais de amizade e de vizinhança, no trabalho conjunto pelas grandes causas do mundo que nós, muçulmanos e cristãos do Marrocos, fazemos do diálogo inter-religioso uma realidade.  O mútuo conhecimento, as relações de amizade, de confiança e de respeito, a estima pelo outro e a fraternidade crescem a cada dia. Claro, isso não diz respeito a toda a população, mas eu acredito que a atitude positiva em relação ao outro está se difundindo cada vez mais, e o preconceito está diminuindo mais e mais.

Dom Cristobal Lopez Romero  com Papa Francisco
Dom Cristobal Lopez Romero com Papa Francisco

Que leitura o senhor faz da visita, nos dias 30 e 31 de março, do Santo Padre Francisco ao Marrocos?

Um evento extraordinário, tanto para a Igreja, como para o país e o mundo. A presença do Papa Francisco e seu encontro com Sua Majestade o Rei e seu povo, bem como com a comunidade cristã, levou o diálogo inter-religioso para uma nova etapa: já podemos deixar de lado conceitos como a coexistência e a tolerância, que são positivos, mas muito estreitos, para começar a melhor nos conhecer, nos respeitar e nos apreciar mutuamente; esse será o caminho que nos levará à fraternidade universal. Para nós, cristãos, a visita do Papa representou uma confirmação da direção tomada em nosso trabalho pastoral e um encorajamento para continuar e avançar corajosamente.

A criação do Instituto Al Mowafaqa, do qual o senhor é co-presidente, seria uma das experiências mais originais do mundo em termos de reunir comunidades religiosas. Por que esta escolha do Marrocos precisamente?

Sim, é verdade. Eu penso que se trata de uma experiência única no mundo: um Instituto ao mesmo tempo protestante e católico, enraizado e inserido em um ambiente muçulmano. Este instituto não escolheu o Marrocos. Não, ele nasceu no Marrocos, ele saiu dessa terra marroquina como uma resposta às necessidades de formação das Igrejas cristãs para seus fiéis. E ele é fruto da amizade de dois pastores, o arcebispo Vicente e o pastor Samuel, e da boas relações entre a Igreja Católica e a Igreja Evangélica no Marrocos. Hoje, Al Mowafaqa nos oferece formação em teologia cristã e em islamologia, não como duas realidades separadas, mas como um diálogo permanente.

Na sua opinião, o Marrocos poderia alegar representar "um modelo" em matéria de gestão do religioso?

Absolutamente! É um modelo “exportável”. É altamente desejável que a experiência do Marrocos seja conhecida e imitada em outros lugares onde ainda existe uma atmosfera de confronto, de conflito e de competição. Aqui não somos perfeitos, mas caminhamos juntos, compartilhamos nossa fé, damos pequenos passos em direção à fraternidade. E é evidente que há muito mais o que nos une do que o que nos separa.

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03 agosto 2019, 15:00