A inefabilidade do sacro: um frade brasileiro na Bienal de Veneza

Pela primeira vez na história da Bienal, um frade é convidado a participar da mostra. No Pavilhão da cidade de Veneza, Fr. Sidival Fila expõe “Gólgota”, uma síntese narrativa do mistério pascal.

Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano

Quando a religião encontra a arte o resultado é visível em milhares de obras-primas mundo afora: a arte sacra é um patrimônio da humanidade.

Mas um religioso, neste caso um frade franciscano, que é convidado para expor na Bienal de Veneza é algo inédito e a edição 2019 traz esta peculiaridade: o brasileiro Fr. Sidival Fila apresenta “Gólgota”, uma síntese narrativa do mistério pascal.

Trabalhada em tecido antigo – que é a sua característica, – a obra é composta por oito elementos, sendo o elemento central um crucifixo “fortemente figurativo e representativo”, sem necessariamente referências ligadas à liturgia.

“A minha ideia é representar um evento histórico, no qual Jesus – ‘homem-Deus’ – foi crucificado. De um lado tem essa imagem figurada, o resto é completamente abstração, para dar espaço a uma espiritualidade que não seja explícita, mas implícita.”

“Gólgota” está exposta no Pavilhão da cidade de Veneza da Bienal e pode ser admirada até 24 de novembro.

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No coração de Roma

A exposição na Bienal é apenas uma etapa de uma longa e bem-sucedida carreira internacional.

Fr. Sidigal é natural de Arapongas, no norte do Paraná, onde desde a adolescência manifestou interesse pelas artes plásticas. Em 1985 se transferiu para a Itália, para aprofundar o estudo da pintura e da escultura. Depois por cerca de cinco anos, sentiu a vocação à vida religiosa e abandonou todos seus projetos pessoais para ingressar na Ordem dos Frades Menores de São Francisco de Assis.

Por quase dezoito anos não se dedicou à arte. Em 1999, foi ordenado sacerdote em Roma, onde exerceu o seu ministério no hospital e na prisão, entre outros lugares. Gradualmente, através de pequenos trabalhos de restauração, se reaproximou ao mundo da arte. Em 2006, começou a pintar aprimorando um estilo pessoal sob o influxo da “Action Painting”, da arte informal europeia e do espacialismo.

Museus Vaticanos

O frade paranaense cria obras de grande intensidade e rigor formal, todas realizadas graças à recuperação de materiais pobres ou obsoletos: papel, madeira, tecidos antigos, diversos metais, gesso. Desde então, em seu currículo constam exposições em inúmeras cidades dentro e fora da Europa.

Em 2010, foi convidado a participar com uma obra na exposição em homenagem ao Papa Bento XVI por ocasião do sexagésimo do seu sacerdócio, junto a importantes arquitetos internacionais, entre os quais Oscar Nieymaier, Calatrava, Portuguese, Mario Bota e Renzo Piano, compositores como Moricone e artistas plásticos El Anatsui, Jannis Kounelis, Agostino Bonaluni e outros. Sua obra está presente também na coleção de arte contemporânea dos Museus Vaticanos.

Seu ateliê fica no Convento São Bonaventura, no Paladino em Roma, onde reside e é superior e reitor da Igreja.

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12 junho 2019, 10:26