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Cristãos cingaleses voltam às Igrejas, um mês após atentados de Páscoa

No Domingo de Páscoa, ataques terroristas chocaram não somente o Sri Lanka, mas o mundo inteiro. Uma verdadeira atrocidade que matou 253 pessoas, deixou mais de 500 feridas, dezenas de crianças órfãs, sem falar nos traumas à comunidade cristã do país. Atentados que minam a convivência pacífica existente até então. Ademais, os festejos pelos 10 anos do fim da Guerra Civil no país foram discretos, em um país ainda abalado e com feridas abertas.

Cidade do Vaticano

"Não esperávamos, foi um ataque completamente inesperado”, diz padre Srila Fonseca, que ainda traz as marcas dos atentados no Domingo de Páscoa no Sri Lanka, como uma cicatriz na testa.

Esforço para evitar a vingança

 

No dia 21  de abril ele havia celebrado Missa na Igreja de São Sebastião em Negombo, onde é pároco. Um homem-bomba se explodiu matando 130 pessoas, entre as quais 25 crianças. O país está em choque desde então. Um mês mais tarde, ele tenta curar seus ferimentos físicos e psicológico, para "evitar vingança", dizem os sacerdotes, explicando que os muçulmanos não devem ser todos identificados com essas facções terroristas.

Mas as tensões existem, ainda que os párocos estejam atentos para evitar confrontos diretos. Os cristãos, por outro lado, sempre foram nesta terra, ponte entre povos de diferentes etnias, línguas, culturas, entre cingaleses e tâmeis

Em Colombo, padre Jule Raj Fernando, reitor do santuário de Santo Antônio onde cem pessoas foram mortas, e responsável pela Caritas Sri Lanka, diz que agora "a coisa mais é importante dar ajuda psicológica àqueles que foram afetados, especialmente às muitas crianças que foram atingidas com os ataques, ou pessoalmente ou porque viram um pai morrer ou ficar ferido".

No encontro com jornalistas que acompanham o missão no Sri Lanka de Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), ele pede para não serem esquecidos.  

Nas duas igrejas afetadas há sinais das explosões, mas foram colocadas em segurança com uma rede de andaimes e a Igreja local espera poder reabri-las em alguns meses. O governo está ajudando as restaurações. As pessoas, neste meio tempo, vão para a Igreja de São Sebastião em Negombo, a "pequena Roma", com seus 70% de católicos, quando no país não chegam a 10% (80% budistas e cerca de 10% muçulmanos) e no Santuário de Santo Antônio, em Colombo, mesmo que ali ainda não possam ser celebradas Missas.

Cristãos voltam ao local dos ataques para rezar

 

Neste domingo, grupos e famílias foram até lá para fazer ao menos uma oração. As duas igrejas são protegidas por militares. Suas estruturas arquitetônicas, com uma dúzia de aberturas em ambos os lados, para circular o ar devido às temperaturas muito altas, as tornam por um lado acolhedoras, mas ao mesmo tempo suscetíveis a novos ataques.

No  Santuário de Santo Antônio em Colombo, tão querido para cristãos em todo o país, especialmente os mais pobres, foi celebrada uma Missa neste domingo em uma sala da canônica, no segundo andar, ao lado de estátuas de diversas dimensões do Santo de Pádua (ou de Lisboa), salvas das explosões.

Eram muitas as crianças, adolescentes e jovens que participaram das celebrações, apesar das estreitas medidas de segurança; 176 deles são órfãos de pelo menos um dos pais, mortos devido aos ataques de fundamentalistas islâmicos.

Ajuda à Igreja que Sofre

 

 "Aqui, há quatro semanas – disse o diretor da AIS-Itália, Alessandro Monteduro - aconteceram ataques bárbaros que chocaram o mundo. Nossa presença no Sri Lanka quer testemunhar fisicamente a proximidade, mas também queremos entender melhor como podemos continuar ajudando esta terra."

De janeiro deste ano até a Páscoa,  a Fundação de direito Pontifício AIS/Itália já havia financiado projetos no Sri Lanka no valor de 112 mil euros. Os ataques levarão a novas realizações, de acordo com as necessidades das comunidades cristãs locais.

"Encontramos uma comunidade traumatizada que precisa do apoio de todos. O instrumento é mostrar solidariedade às minorias perseguidas. É a coisa que mais incomoda terroristas", conclui o diretor da fundação pontifícia.

Discretas comemorações pelos dez anos do fim da guerra civil 

 

As autoridades do Sri Lanka comemoraram de forma discreta neste domingo o décimo aniversário do final da guerra civil não-contínua, que envolveu principalmente o governo do Sri Lanka e os "Tigres da Libertação do Tamil Eelam" (TLLE), estes últimos conhecidos como "Tigres do Tâmil", organização armada separatista que lutava pela criação de um Estado independente, que seria chamado de Tamil Eelam, que está localizado ao norte e ao leste da ilha do Sri Lanka. O conflito martirizou o país asiático por 26 anos, de 1983 a 2009, matando 70 mil pessoas, segundo dados oficiais,

Ao contrário de anos anteriores, não houve desfiles militares ou grandes eventos e a única cerimônia organizada pelo Governo teve lugar neste domingo, um dia após o aniversário celebradono dia 18 de maio, tendo coincidido com a festa budista do Vesak.

A comemoração ocorreu também um mês após os sangrentos ataques a várias igrejas e hotéis de luxo no país, atribuídos ao grupo radical islâmico local National Thowheed Jamath, mas  reivindicadas pelo autoproclamado Estado islâmico,  como referido neste domingo pelo presidente do país, Maithripala

"Fomos forçados a enfrentar um tipo completamente diferente de terrorismo global após 30 anos de guerra no país. Temos paz no país novamente depois de terem sido presos ou mortos em combate os indivíduos envolvidos neste terrorismo no país durante a última mês", disse o mandatário.

Por ordem do governo, todos os locais de culto, moradia, delegacias de polícia e acampamentos militares deveriam acender uma "lâmpada de paz" no final da tarde em memória de soldados e policiais mortos nas três décadas de conflito.

Enquanto as autoridades recordavam as baixas militares da guerra, a comunidade tâmil o fez no dia anterior em seu principal bastião, a Província do Norte, onde se reuniu entre fortes medidas de segurança.

O memorial da praia Vellamullivaikal, onde foi travada a última batalha entre o exército e os Tigres Tâmeis, acolheu no sábado vizinhos, estudantes e familiares dos mortos e desaparecidos durante a guerra civil.

No ato, a organização do Fórum para a Memória Mullivaikkal, focada em encontrar soluções para os tâmeis desaparecidos e a ocupação de suas terras pelo Exército, pediu o apoio da comunidade internacional para obter justiça depois do "genocídio" contra esta minoria.

(Com Agências Ansa e Efe)

 

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19 maio 2019, 19:54