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Em pleno regime talibã, para as mulheres era impossível frequentar a escola Em pleno regime talibã, para as mulheres era impossível frequentar a escola 

Mulheres são futuro do Afeganistão

Para que uma planta cresça é sempre necessário, em primeiro lugar, uma semente: as mulheres que hoje podem mudar o país são poucas, mas elas existem. E isso é o que conta, afirma o religioso barnabida, Pe. Moretti, missionário durante 17 anos no país da Ásia Central

Cidade do Vaticano

São ativas e muito determinadas, têm uma visão positiva sobre o futuro de seu país, uma mentalidade mais aberta e construtiva do que a dos homens: “Sim, hoje devemos ter grandes esperanças sobre o papel que as mulheres podem ter no futuro do Afeganistão”, explica ao jornal vaticano “L’Osservatore Romano” o religioso barnabita Pe. Giuseppe Moretti, missionário durante 17 anos no país da Ásia Central.

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Pe. Moretti é um profundo conhecedor da realidade de uma das maiores e cruciais repúblicas islâmicas para os equilíbrios geopolíticos daquela área do mundo. Por isso, representa um interlocutor ideal para entender o papel das mulheres na sociedade afegã e o que podem realmente fazer para o renascimento de seu país.

Até 1979, Afeganistão em tempos de paz

“Conheci o Afeganistão em tempos de paz. Até 1979, portanto, antes da invasão da União Soviética, as mulheres tinham as mesmas liberdades que têm entre nós, vestiam como se veste no Ocidente, realizavam os mais variados tipos de trabalhos, podiam frequentar livremente as escolas de todas as ordens e graus.”

“Do conflito com a URSS em diante, as coisas foram piorando gradualmente, até que chegou a mudança mais brusca. Recordo ainda aquele dia de 1992 em que os mujaheddins, os combatentes islâmicos, entraram na capital Cabul.”

Restrições impensáveis até pouco tempo atrás

“Imediatamente impuseram o véu a todas as mulheres, mais uma série de restrições impensáveis até poucos anos antes”, recorda o missionário italiano. Teve início um período sombrio para o país, em que as mulheres foram privadas de suas liberdades mais elementares e da dignidade pessoal.

De 1994 a 2002, a embaixada italiana em Cabul ficou fechada. E como a igreja de Pe. Moretti estava dentro da embaixada, o missionário barnabita foi obrigado a voltar para a Itália.

Uma vez retornado ao Afeganistão, conta ele, “pude ver concretamente as consequências que aquela profunda mudança imposta pelos talibãs trouxe consigo. Em pleno regime, era impossível para as mulheres frequentar a escola e realizar as atividades que para nós ocidentais são as mais comuns”.

Pequenos e graduais sinais de mudança

Depois, porém, ao longo dos anos – observa o sacerdote –, se registraram pequenos e graduais sinais de mudança: voltou a ser possível ter acesso à instrução, até mesmo à universidade, foi permitido praticar esporte. A única coisa sobre a qual não se transige é sobre o uso do véu islâmico (a burca, ndr).

“Hoje, nas grandes cidades as coisas estão consideravelmente melhor, mas não se pode esquecer que nos pequenos centros, nos vilarejos e nas zonas rurais tudo permaneceu como antes para as mulheres.”

Acreditar na força das mulheres

O missionário sempre acreditou “na força das mulheres no Afeganistão. Agora, parecem ter finalmente tomado consciência de sua dignidade. Na escola, as salas femininas são mais abertas à modernização. Tempos atrás, uma oficial de alta patente do exército canadense foi autorizada a levar seu testemunho a uma escola feminina em Cabul. Quando perguntou às estudantes se gostariam de se tornar uma oficial do exército, teve como resposta um sim unânime e entusiasta.

“Isso prova – ressalta Pe. Moretti – que as mulheres afegãs sonham tornar-se médicas, professoras, desempenhar papeis até pouco tempo atrás inimagináveis para elas. Percebe-se claramente uma vontade de ser determinantes para a evolução do país. Devemos ter grandes esperanças sobre o papel que podem ter no futuro do Afeganistão.”

Os sinais de abertura e mudança chegam justamente do universo feminino: “Nós as vimos participar das Olimpíadas, estão presentes nos movimentos internacionais, vemos vários sinais tangíveis de uma mudança em curso, embora muito lentamente e gradual, para a sociedade afegã. Hoje, no Afeganistão há mulheres deputadas, jornalistas, professoras”.

Situação política atual

Na realidade, a situação política atual não é muito animadora. “As próximas eleições se realizarão no terceiro trimestre e no momento cerca de 50% do país está nas mãos dos talibãs. Se eles chegarem ao poder o processo de emancipação das mulheres será decididamente mais difícil”, afirma o barnabita.

Mulheres, sementes de esperança para o país

É difícil, portanto, que se queimem etapas: Seria equivocado imaginar porventura algum progresso revolucionário e em breve tempo. Mas para que uma planta cresça é sempre necessário, em primeiro lugar, uma semente: as mulheres que hoje podem mudar o país são poucas, mas elas existem. E isso é o que conta.

E fora das grandes cidades, nas zonas rurais onde a situação é ainda muito atrasada, o que se pode esperar? “Já seria muito se se começasse a aceitar que as meninas possam ir à escola ou praticar esporte”, conclui Pe. Moretti.

(“L’Osservatore Romano)

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05 abril 2019, 15:25