Presidente Nicolas Maduro começa novo mandato Presidente Nicolas Maduro começa novo mandato 

Venezuela: “Querer manter a todo custo o poder é pecado que grita aos céus!”

A Conferência Episcopal Venezuelana (CEV), reunida para a 111ª Assembléia Ordinária, falou sobre a pretensão de um novo mandato presidencial de Nicolas Maduro. Afima a conferência: “é ilegitimo!”

Cidade do Vaticano

No dia 9 de janeiro, o Cardeal Dom Baltazar Porras Cardozo, Arcebispo de Mérida e Administrador Apostólico de Caracas, Dom Raúl Biord, Arcebispo de La Guaira e 2º Vice-Presidente da CEV e de Dom Freddy Jesús Fuenmayor Suárez, bispos de Los Teques, em nome da Conferência Episcopal Venezuelana enviaram uma exortação a todo o povo venzuelano sobre a atual situação do pais e sobre a pretensão de Nicolas Maduro de exercer mais um mandato presidencial. Segundo a Conferência Episcopal, este ato, “é ilegitimo”.

“Recebemos o ano de 2019, com a confiança depositada em Deus, como uma boa oportunidade para a mudança que o país está clamando: a recuperação do Estado de Direito de acordo com a Constituição e a reconstrução da sociedade venezuelana, com dignidade, liberdade e justiça para todos.”

A conferência  ressaltou da importancia de questionar-se sobre o significado ético da situação que vive o pais. “Nossas avaliações nascem de uma avaliação moral da dignidade humana violada, do bem comum desrespeitado e a verdade manipulada”.
Relembrando São Oscar Arnulfo Romero, profeta e martir da América:

“se houver um conflito entre o governo e o Igreja, não é porque a Igreja se opõe, mas porque o conflito já está estabelecido entre o governo e o povo, e a Igreja defende o povo" (Homilia de 21-10-1979)”

Ressalta que “todo poder humano é provisório e se legitima se em seu exercício produz um bem estar coletivo, com especial atencao aos pobres e excluidos, alcançando assim uma coexistência saudável na pluralidade e na diferença”.

Sobre a atual situacão do Governo, destaca com grande ênfase e preocupação:

“O povo venezuelano vive uma situação dramática e extremamente grave pela falta de respeito com seus direitos e a sua qualidade de vida, mergulhados no aumento da pobreza sem ninguém a quem recorrer. É um pecado que clama ao céu querer manter-se a todo custo no poder e pretender prolongar o fracasso e a ineficiência das últimas décadas: é moralmente inaceitável! Deus não quer que o povo sofra pela submissão à injustiça. Urge, porém, assumir o clamor popular de uma mudança, de um concerto para uma esperada transição procurado pela grande maioria.”

Sobre a pretensão de Nicolas Maduro em assumir a presidencia da Venezuela, os bispos recordam a exortação feita no ano passado, 11/07/2018, sobre a ilegitimidade da mesma: “Como assinalamos em nossa Exortação de 11 de julho de 2018, reiteramos que na convocação de 20 de Maio (para eleger o Presidente da República) foi ilegítima, como também a Assembleia Nacional Constituinte imposta pelo poder executivo". Vivemos em um regime de fato sem respeito as garantias previstas na Constituição e nos princípios de dignidade do povo. (Não tenhais medo, Eu estou convosco, n. 6).

Portanto, a pretensão de iniciar um novo mandato presidencial em 10 de janeiro de 2019 é ilegítimo por sua origem, e abre uma porta para o desconhecimeto do governo porque lhe falta o sustento democrático na justiça e no direito”. Nesta crise política, social e económica, a Assembleia Nacional, eleita com a liberdade de voto do povo venezuelano, é atualmente o único órgão de poder público com o poder de legitimidade para exercer soberanamente os seus poderes.”

O Cardeal Pietro Parolin, em 1/12/2016, pediu a restituição o quanto antes a Assembleia Nacional o papel previsto na Constituição. "O voto de confiança de que o povo venezuelano lhe conferiu deve ser recompensado com o cumprimento dos deveres dos deputados elaborando as leis de que o país precisa para restabelecer a democracia e o regresso à decência e à honestidade na administração dos fundos públicos", afirmou o Cardeal. 

Por fim, exorta ao povo de não serem meros espectadores daquilo que acontece no país: “nós somos cidadãos e, como tal, atores de primeira classe. A defesa da liberdade custou muito sangue e muito sofrimento, para ver de longe o que a maioria rejeita: políticas de fome, perseguição política, repressão militar e policial, presos políticos, tortura, corrupção, ineficiência e ineficácia na gestão pública. Como cidadãos e como instituições é a nossa vez assumir as nossas responsabilidades para melhorar a situação actual e recuperar o país com seus valores e potencialidades. Isto requer a articulação de todos os sectores sociais, promovendo a criatividade e a proatividade de muitas pessoas na busca de soluções”.

Concluindo a mensagam, a conferencia agradece a todas as pessoas, instituições, igrejas e governos internacionais que tentam colaborar com o pais, de modo especial agradecem ao Papa Francisco, pela aproximação e preocupação com a Venezuela, e recordam as palavras do Santo Padre no encontro com os membros do Corpo Diplomatico credenciado junto ao Vaticano:

“Desejo à amada Venezuela que se encontrem formas institucionais e pacíficas de resolver as crises políticas, sociais e económicas, formas que permitam ajudar especialmente aqueles que foram afectados pelas tensões destes anos e oferecer a todo o povo venezuelano um horizonte de esperança e de paz.”

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10 janeiro 2019, 11:50