Patriarca Kirill no encontro de Primazes das Igrejas Ortodoxas em Istambul Patriarca Kirill no encontro de Primazes das Igrejas Ortodoxas em Istambul 

Último apelo de Kirill a Bartolomeu sobre autocefalia da Igreja Ortodoxa da Ucrânia

Em 6 de janeiro, durante a celebração da "santa Teofania", o patriarca de Constantinopla Bartolomeu I entregará ao metropolita Epiphanius o pergaminho de reconhecimento da autocefalia da Igreja Ortodoxa da Ucrânia. O patriarca Kirill fez um último apelo a Bartolomeu para não reconhecer a nova Igreja, para "salvaguardar a unidade da ortodoxia”.

Cidade do Vaticano

"Não é tarde demais para parar". Com esta afirmação, o patriarca de Moscou e de toda a Rússia Kirill, conclui a longa carta enviada na segunda-feira ao patriarca ecumênico Bartolomeu, arcebispo de Constantinopla, onde tratou da recente criação da nova "Igreja Ortodoxa autocéfala da Ucrânia".

Kirill: criação da Igreja Ortodoxa da Ucrânia é ilegítima

 

O Patriarcado de Moscou considera a criação de tal entidade totalmente ilegítima e nula porque - reitera-  "o atual processo, politizado, de unificação forçada está longe das normas e do espírito dos sagrados cânones". É por isso que Kirill expressa "dor, espanto e indignação pelas ações anti-canônicas" que levaram, no dia 15 de dezembro na Catedral de Santa Sofia de Kiev, à realização do "Concílio de unificação" e a consequente eleição do metropolita de Perejaslav e Belaja Tserkov, Epiphanius (Dumenko),  “Primaz da nova Igreja Ortodoxa Autocéfala da Ucrânia”.

Kirill recorda que na presidência do Concílio, além do metropolita Emmanuel - representante de Constantinopla - havia um leigo - o presidente da República da Ucrânia Petro Poroshenko - e sobretudo os líderes da "Igreja Ortodoxa Ucraniana - Patriarcado de Kiev" , Filaret (Denisenko), e da "Igreja Ortodoxa ucraniana Autocéfala”, Macario (Maletych), considerados pelos ortodoxos russos como cismáticos, diferentemente do Metropolita Onófrio, primaz da "Igreja Ortodoxa ucraniana - Patriarcado de Moscou," a única "canônica", de acordo com o Patriarcado liderado por Kirill.

 

Ademais, apenas dois dos noventa bispos desta Igreja participaram do encontro de unificação, circunstância que levou Kirill afirmar a Bartolomeu: "Seus conselheiros haviam assegurado que o episcopado da Igreja Ortodoxa Ucraniana (canônica) estava pronto a apoiar o projeto político das autoridades de Kiev, que um número considerável de bispos canônicos esperavam somente por sua bênção para separar-se de sua Igreja. Repetidamente avisei a você - escreve Kirill dirigindo-se diretamente a Bartolomeu – de ter sido enganado. Em suas decisões, você se refere à vontade do povo ortodoxo ucraniano", mas “foi a vontade da esmagadora maioria do clero e leigos, o verdadeiro povo eclesiástico da Ucrânia, que impeliu o episcopado da Igreja Ortodoxa Ucraniana (canônica) a não responder aos seus convites e de se recusar a participar do "Concílio de unificação" do cisma ucraniano".

O patriarca de Moscou – em vista de 6 de janeiro, Solenidade da Teofania, dia em que Bartolomeu fará a entrega no Fanar “do tomos de constituição da nova Igreja autocéfala irmã” – faz então uma tentativa extrema, pedindo ao arcebispo de Constantinopla para reconsiderar as próprias decisões, para “salvaguardar a unidade da ortodoxia.”

Revogação do vínculo jurídico da carta de 1686

 

O  processo teve início oficialmente em 11 de outubro, quando por meio de uma nota divulgada ao final do Sínodo do Patriarcado Ecumênico,  era anunciado o desejo de Bartolomeu de proceder à concessão de autocefalia da Igreja da Ucrânia, de restabelecer o stauropegion do patriarca ecumênico em Kiev e de reintegrar canonicamente ao seu grau hierárquico ou sacerdotal Filaret Denisenko e Macario Maletych e os fiéis das suas Igrejas. Em resposta, poucos dias mais tarde, Moscou rompeu a comunhão eucarística com Constantinopla.

Com o comunicado de 11 de outubro, Bartolomeu “revogou o vínculo jurídico” da carta sinodal de 1686, com a qual Constantinopla, “pelas circunstâncias da época”, concedia ao patriarca de Moscou o direito de ordenar o metropolita de Kiev, eleito pela Assembleia  clérico-laical da sua diocese, que todavia “teria comemorado o patriarca ecumênico em todas as celebrações da Divina Liturgia, proclamando e afirmando a sua dependência canônica da Igreja mãe de Constantinopla”.

Kirill reivindica validade do documento

 

Na carta de 31 de dezembro, Kirill refere-se de forma peremptória àquele documento, reivindicando a sua validade. O Patriarcado de Moscou, de fato, baseia-se neste documento para reivindicar sua “jurisdição” sobre a autoridade de Kiev: “Vocês estão tentando reinterpretar o significado do conjunto dos documentos assinados em 1686 pelo seu predecessor, o patriarca Dionisio IV e pelo sacro sínodo da Igreja de Constantinopla. A matéria de tais documentos históricos não provocou desacordos entre as nossas duas Igrejas por centenas de ano. E agora vocês falam em “revogar” a carta patriarcal e sinodal, porque ‘as circunstâncias mudaram’”.

Entrega do tomos de reconhecimento

 

O apelo de Kirill a Bartolomeu, parece todavia superado pelos fatos. Uma nota da sacra diocese ortodoxa da Itália e Malta (submetida à jurisdição canônica do Patriarcado ecumênico) informa que “o metropolita de Kiev e de toda a Ucrânia Epiphanius” estará em Istambul na manhã do sábado, 5 de janeiro, para visitar o patriarca Bartolomeu.

Naquele dia, Epiphanius tomará parte no Te Deum na Igreja  patriarcal e após será recebido na Sala do Trono, onde haverá a “sagrada cerimônia de proclamação, com a assinatura do tomos de autocefalia da santíssima Igreja da Ucrânia”. Também estará presente o presidente ucraniano Poroshenko.

Domingo, 6 de janeiro, para a solene festa da santa Teofania, o metropolita Epiphanius concelebrará com o patriarca Bartolomeu que, após a leitura do Evangelho, entregará a ele oficialmente o pergaminho de autocefalia.

(Giovanni Zavatta – Osservatore Romano)

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03 janeiro 2019, 10:42