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D. António Augusto: encontrar modalidades locais para que o espírito do Sínodo permaneça

O bispo auxiliar do Porto e Presidente da Comissão Episcopal para as Vocações e Ministérios em Portugal reflete sobre a XV Assembleia do Sínodo dos Bispos na qual participou.

Rui Saraiva – Porto

D. António Augusto Azevedo, bispo auxiliar do Porto e Presidente da Comissão Episcopal para as Vocações e Ministérios esteve na XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos. Juntamente com D. Joaquim Mendes, bispo auxiliar de Lisboa e Presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família, D. António Augusto representou a Igreja Católica em Portugal e viveu intensamente o Sínodo sobre os jovens, a fé e o discernimento vocacional, pela primeira vez como padre sinodal.

Em entrevista faz uma leitura do andamento dos trabalhos e das conclusões deste grande acontecimento eclesial ocorrido no passado mês de outubro no Vaticano.

Ouça a entrevista!

P: Que significado teve para si ser pela primeira vez padre sinodal?

R: Um Sínodo é uma experiência única e eu tive a graça, em nome da Conferência Episcopal, de participar deste Sínodo. E é uma graça, desde logo, porque se tem a oportunidade de experimentar uma dimensão importante inerente ao ministério episcopal que é a dimensão da colegialidade: esta proximidade com o Papa Francisco e esta consciência de pertencer a um colégio episcopal. Ou seja, aquilo que nós acreditamos e dizemos em teoria e que num Sínodo pode-se experimentar de maneira muito real e concreta, na proximidade com o Papa e com os bispos de todo o mundo. Em segundo lugar, é uma experiência importante porque nos debruçamos sobre uma temática sobre a qual o Papa quer ouvir a Igreja e concretamente os bispos. Portanto, essa reflexão com toda a Igreja sobre algo que é importante para a sua missão permitiu levar o nosso contributo em comunhão com os contributos das igrejas de todo o mundo.

P: Falou no Papa… Como é que o viu, como é que o sentiu? Como é que ele esteve durante este mês?

R: Bom, este mês correspondeu à fase de celebração do Sínodo, tinha havido uma fase preparatória e haverá agora uma fase de aplicação. Nesta fase em que estivemos reunidos em Roma o Papa Francisco surpreendeu pela proximidade. Foi muito afável, muito próximo, com sinais muito bonitos. Desde logo, por estar a receber todas as pessoas, por estar disponível para conversar com toda a gente. Essa proximidade, de que o Papa tantas vezes tem falado, nós podemos testemunhar que ele próprio a vive. E também impressionou pela sua capacidade de escuta. Durante grande parte dos dias, pelo menos na assembleia plenária, o Papa esteve quase sempre presente e numa atitude de escuta. Escuta atenta e interessada. 

P: Foi um ambiente muito participado entre os padres sinodais? Como sentiu o ambiente durante estas semanas?

R: O ambiente foi sempre muito bom. De grande comunhão e também de grande alegria. Sem tensões ou crispações. Pelo contrário de grande diálogo, proximidade e sobretudo de interesse. Interesse em partilhar experiências e em sentir melhor outras realidades de outras igrejas que vivem, de facto, momentos mais difíceis. Este Sínodo teve também a graça de coincidir com a canonização de S. Paulo VI e de S. Óscar Romero. E esse foi um momento de grande vivência de todos os presentes.

P: Depois no trabalho concreto, os círculos menores, como é que correu esse trabalho que desta vez também teve língua oficial portuguesa?

R: Os círculos menores são um momento muito interessante do Sínodo. Pela primeira vez tivemos um círculo de língua portuguesa que, para além de nós, representantes de Portugal, reuniu vários bispos do Brasil, também de Cabo Verde, de Moçambique e Angola. E foi muito interessante porque foi quase um espaço de lusofonia, com todas as diferenças que existem de umas igrejas para as outras, mas foi bom o encontro, o conhecimento pessoal, conhecer as diferenças e perceber o interesse comum de se encontrar pontos de comunhão, princípios que nos unissem a todos sobre a temática dos jovens, da fé e do discernimento vocacional.

P: Como é que nos pode descrever a participação dos jovens?

R: Eu acho que foi uma presença muito positiva. Não só pelo tom de alegria, de manifestação, de presença na sala mas também pelos testemunhos que levaram, pois cada um teve a oportunidade de falar sobre a sua experiência pessoal e da sua experiência enquanto cristão empenhado nas várias realidades, movimentos e países. E foi importante essa presença que permitiu em todos os momentos ir aferindo a sensibilidade dos jovens que não tem que ser igual à sensibilidade dos bispos, mas foi bom ir percebendo em cada momento o feedback e sensibilidade que eles tinham para os diversos problemas.

P: No fim do Sínodo temos um documento final na mão. O que dizer deste documento? Como é que poderá ser aplicado?

R: O documento final é um documento que reproduz o produto do trabalho que é feito, da reflexão que é feita, dos contributos que são apresentados, sempre tendo como guião o instrumentum laboris. Portanto, não é um trabalho feito sem qualquer rumo, pelo contrário é um trabalho orientado a partir do instrumentum laboris. Neste documento final, quem esteve no Sínodo, percebe que estão aí a grande maioria das ideias e dos contributos e isso é importante. Evidentemente que não se pode esperar tudo de um documento final, sobretudo aquilo que ele não pretende nem pode dar. Ou seja, o que ele não pretende nem pode dar são receitas muito concretas, muito determinadas, porque essa parte do trabalho corresponde agora à terceira fase que é a fase da aplicação e sobre variadíssimos pontos o documento remete para o trabalho das igrejas locais. Recomenda sínodos, encontros e decisões das igrejas locais.

P: O documento final fala sobretudo de um manter a escuta aos jovens. Podemos dizer em síntese que esta é uma primeira linha de orientação para aquilo que as igrejas locais possam vir a desenvolver?

R: Continuar à escuta e continuar o processo de discernimento e de acompanhamento, obviamente que tudo isso remete para lógicas de percurso e não para lógicas acabadas ou fechadas. Isto é, seria um erro de perspetiva estar a encarar tudo isto como um fechar de um ciclo ou de uma fase. É apenas o passar para uma nova fase com estas mesmas atitudes, de continuar à escuta, de continuar atento e de continuar a discernir, numa realidade dos jovens que está sempre em mutação. Portanto, a escuta é sempre indispensável.

P: No Angelus no final do Sínodo o Santo Padre diz que mais importante do que o documento final é o estilo sinodal. O que é que o Papa Francisco quis dizer com isto?

R: O Papa quis significar o que disse na palavra de encerramento do Sínodo quando disse que o importante é este estilo sinodal. Um estilo que passa pela escuta e pela capacidade das pessoas, grupos e igrejas locais se reunirem, estarem juntas e juntos encontrarem caminhos de futuro. Importa aqui que ao conteúdo se associe também a forma. Só é possível apanhar o estilo deste Sínodo estando permanentemente com os jovens. Os jovens estiveram presentes na primeira fase, marcaram presença na segunda e eu acho que é indispensável que continuem a estar presentes no resto do processo. Isto é, é preciso encontrar modalidades locais para que o espírito do Sínodo permaneça. Ou seja, e o Papa também no Angelus referiu: os frutos e esta colheita, será tanto mais fecunda, mais positiva e o vinho será tanto melhor quanto também os jovens participem deste processo. Eu diria: um estilo sinodal, proposto aos pastores, proposto às comunidades, às estruturas, mas sempre com a presença dos jovens.

D. António Augusto Azevedo participou na XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos que decorreu no Vaticano de 3 a 28 de outubro sobre os jovens, a fé e o discernimento vocacional.

O bispo auxiliar do Porto partilhou connosco em entrevista a sua leitura sobre o andamento dos trabalhos e as conclusões apresentadas. Como o próprio referiu, agora é o tempo da aplicação do Sínodo nas igrejas locais sempre com a presença dos jovens.

Laudetur Iesus Christus

 

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07 novembro 2018, 11:29