Papa Francisco durante a missa de imposição das cinzas, nesta quarta-feira Papa Francisco durante a missa de imposição das cinzas, nesta quarta-feira 

“Voltar ao Senhor de todo o coração e com toda a nossa vida”

O Santo Padre recorda na sua Mensagem que “Deus na sua providência oferece-nos a Quaresma” para “voltar ao Senhor de todo o coração e com toda a nossa vida”.

Rui Saraiva - Porto

Partindo da frase do Evangelho de S. Mateus “Porque se multiplicará a iniquidade, vai resfriar o amor de muitos” (Mt 24,12), o Santo Padre recorda na sua Mensagem que “Deus na sua providência oferece-nos a Quaresma” para “voltar ao Senhor de todo o coração e com toda a nossa vida”.

Falsos profetas

Jesus, no texto de Mateus, “anuncia uma grande tribulação e descreve a situação em que poderia encontrar-se a comunidade dos crentes” – escreve o Papa – tudo devido a “falsos profetas” enganadores que quase apagam dos corações “o amor que é o centro de todo o Evangelho”.

Os falsos profetas podem ser “encantadores de serpentes” que se aproveitam das “emoções humanas para escravizar as pessoas” – afirma o Santo Padre recordando que muitos “homens e mulheres vivem fascinados pela ilusão do dinheiro, quando este, na realidade, os torna escravos do lucro ou de interesses mesquinhos”.

“Soluções simples e imediatas para todas as aflições” é o que oferecem profetas “charlatães” propondo “remédios que se mostram completamente ineficazes”, em particular, aos jovens em forma de “droga, de relações passageiras, de lucros fáceis mas desonestos” – escreve Francisco chamando a atenção para os perigos de uma “vida completamente virtual” na qual estes falsos profetas “oferecem coisas sem valor, tiram aquilo que é mais precioso como a dignidade, a liberdade e a capacidade de amar”.

“Discernir” é o modo proposto pelo Papa para que “cada um de nós” verifique “se está ameaçado pelas mentiras destes “falsos profetas”. Porque “é preciso aprender a não se deter no nível imediato, superficial, mas reconhecer o que deixa dentro de nós um rasto bom e mais duradouro, porque vem de Deus e visa verdadeiramente o nosso bem” – afirma.

Amor que se torna frio

Francisco recorda no seu texto para a Quaresma a ‘Divina Comédia’ de Dante Alighieri que descreve o Inferno com “o diabo sentado num trono de gelo”. Com esta imagem do gelo e do frio o Papa apresenta sinais reveladores do apagamento do amor em cada um de nós. Um amor que se torna frio e que “corre o risco de se apagar em nós”.

A ganância do dinheiro e a recusa de Deus são sinais concretos de um privilegiar da “violência” sobre aqueles que “são considerados uma ameaça para as nossas certezas” – diz o Papa: o bebé recém-nascido, a pessoa idosa doente, o hóspede de passagem, o estrangeiro, “mas também o próximo que não corresponde às nossas expectativas”.

Abate-se também sobre “a criação” esta frieza do amor – lembra o Santo Padre: “a terra está envenenada por resíduos lançados por negligência e por interesses; os mares, também eles poluídos, devem infelizmente guardar os despojos de tantos náufragos das migrações forçadas; os céus – que, nos desígnios de Deus, cantam a sua glória – são sulcados por máquinas que fazem chover instrumentos de morte” – afirma Francisco.

E também nas nossas comunidades o amor está frio porque nelas prolifera o egoísmo, “o pessimismo estéril” e “a mentalidade mundana que induz a ocupar-se apenas do que dá nas vistas, reduzindo assim o ardor missionário” – escreve o Papa.

Agir na Quaresma

Para agir sobre esta frieza que se abate sobre nós, o Santo Padre propõe em “tempo de Quaresma” o “remédio doce da oração, da esmola e do jejum” oferecido pela “Igreja, nossa mãe e mestra”.

Com a oração podemos “descobrir as mentiras secretas” que nos enganam e encontrar “consolação em Deus”. Ele é nosso Pai e quer para nós a vida” – escreve Francisco.

A esmola é libertadora da ganância e “ajuda-nos a descobrir que o outro é nosso irmão: aquilo que possuo, nunca é só meu” – frisa o Papa assumindo um desejo: ”como gostaria que a esmola se tornasse um verdadeiro estilo de vida para todos”. Francisco recorda, a este propósito, a recolha de coletas “a favor das Igrejas e populações em dificuldade”, mas também lembra a importância de estarmos atentos a “cada irmão que nos pede ajuda”.

Finalmente, o jejum, tem a força de desarmar a nossa violência “constituindo uma importante ocasião de crescimento” – escreve o Papa sublinhando que o jejum “permite-nos experimentar o que sentem quantos não possuem sequer o mínimo necessário”.

A luz da Páscoa

Na sua Mensagem o Santo Padre convida, em particular, “os membros da Igreja, a empreenderem com ardor o caminho da Quaresma, apoiados na esmola, no jejum e na oração” e recorda que Deus “sempre nos dá novas ocasiões, para podermos recomeçar a amar”.

Francisco propõe a iniciativa «24 horas para o Senhor» como uma “ocasião propícia” para “celebrar o sacramento da Reconciliação num contexto de adoração eucarística”. Agendada para os dias 9 e 10 de março, o Papa pede que “em cada diocese” esteja aberta “pelo menos um igreja” durante 24 horas consecutivas “oferecendo a possibilidade de adoração e da confissão sacramental”.

O Papa Francisco no final da sua Mensagem assinala que na noite de Páscoa um «lume novo» aceso no “círio pascal” “expulsará a escuridão e iluminará a assembleia litúrgica”. É a “luz de Cristo, gloriosamente ressuscitado” que dissipa “as trevas” inflamando o nosso coração de fé, esperança e amor” – declara o Santo Padre pedindo que não nos esqueçamos de rezar por ele.

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Reflexão sobre a mensagem do Papa para a Quaresma deste ano

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15 fevereiro 2018, 16:21