Grupo de deslocados num campo de reassentamento, em Cabo Delgado (Moçambique) Grupo de deslocados num campo de reassentamento, em Cabo Delgado (Moçambique) 

Em Cabo Delgado a crise humanitária se agrava cada vez mais, alerta D. Juliasse

A crise humanitária em Cabo Delgado (Moçambique) se agrava cada vez mais, as coisas não estão resolvidas em Cabo Delgado e a insegurança continua – é o alerta lançado pelo Administrado apostólico de Pemba, D. António Juliasse, em entrevista à Rádio Vaticana, comentando a recente Declaração dos líderes religiosos de Cabo Delgado.

P. Bernardo Suate – Cidade do Vaticano

Comentando a recente Declaração dos Líderes religiosos de Cabo Delgado sobre a Religião como parte da solução ao conflito na Província, Dom Juliasse reiterou que se tem falado da crise humanitária de Cabo Delgado, mas que, nos últimos meses, existe um certo esquecimento, pois são poucos os meios de comunicação que falam daquilo que se vive em Cabo Delgado. Há sensação de que o problema de Cabo Delgado está resolvido, mas não é verdade, denunciou o Prelado.

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Cabo Delgado continua a ter 800 mil deslocados, prosseguiu D. Juliasse, e ainda tem um grande movimento de deslocados, os novos deslocados que saem de algumas aldeias em busca de abrigo em outros lugares. E o Administrador apostólico de Pemba citou o exemplo da aldeia Nova Zambézia, próximo de Macomia, que no 1° de janeiro deste ano foi atacada, 3 pessoas foram mortas e uma pessoa ficou gravemente ferida, observou ainda D. Juliasse, acrescentando que a era muito grande e não tinha sido atacada antes porque o povo da própria aldeia fazia a autodefesa contra esta violência. Mas agora, com o recente ataque, surgiu um novo grupo de deslocados que está em busca de abrigo nos familiares ou outra parte.

Violência do terrorismo veio agravar crise humanitária

Neste momento, em todos os Distritos da parte Centro e Sul da Província de Cabo Delgado há deslocados, e também há deslocados em grande número que estão a sair da zona Norte da vizinha Província do Niassa para a parte central e sul de Cabo Delgado – disse ainda D. Juliasse.

Então a violência que nós vivemos cá deste terrorismo veio agravar, portanto, a crise humanitária aqui em Cabo Delgado, juntando-se aos outros factores que já existiam antes, como a pobreza, a exclusão, a falta de escolas em vários sítios – todos estes factores ficaram agravados com esta situação de terrorismo, observou o Prelado.

Mensagem de paz e esperança

O nosso Natal deve levar a todos a mensagem de esperança, mas uma esperança que nos aparece, e que é possível ser descortinada, encontrada e vivida, num ambiente de despojamento – enfatizou o Administrador de Pemba, convidando todos a contemplar o presépio e o Menino, o Filho de Deus, que nasce despojado.

Para D. Juliasse, é necessário contemplar o Menino de Belém para compreendermos de que lado Deus nos chama, como filhos de Deus, e para não nos perdermos. Porque “o sofrimento que temos em Cabo Delgado é tão grande que se não visualizarmos isso podemos nos perder: da violência do terrorismo podemos chegar a outras violências” – advertiu de novo o Prelado, notando que já existem, de facto, tensões nos campos de reassentamento, entre os que chegam e os que já estão lá, e também tensões entre os vários grupos étnicos que se encontram no mesmo acampamento de reassentamento.

Então, Aquele que veio na pobreza e humildade, apesar de toda esta situação em que vivemos, nos mostra o caminho da paz, e temos de acolher o Menino Jesus assim, experimentando o sofrimento, mas sem descuidarmos o nosso compromisso maior da nossa vida cristã, que é de termos presente o amor ao próximo, insistiu D. Juliasse.

Crise humanitária se agrava cada vez mais

A crise humanitária aqui é grande, e quero aproveitar este momento, enquanto nós nos alegramos por este acontecimento único no início deste ano, aqui em Cabo Delgado, esta Declaração dos líderes inter-religiosos, para também dizer a todo o mundo que a crise humanitária em Cabo Delgado se agrava cada vez mais, foi o alerta lançado por D. António Juliasse, que igualmente ressaltou que “as coisas não estão resolvidas em Cabo Delgado, e a insegurança continua, há mortes que estão a acontecer, e os deslocados continuam portanto nos campos de reassentamento. O Prelado também informou que praticamente não há retorno de deslocados, ou seja, que “são poucos os que regressam, pois as guias para poderem regressar são muito dificultadas, não existe segurança, e é sempre preciso o acompanhamento militar, que nem sempre está disponível”.

“Não se pode esquecer esta situação, depois será muito tarde”

A situação permanece, portanto, como era antes, e vai-se agravando cada vez mais, reiterou D. Juliasse, porque se começa a passar fome e o PAM já não tem capacidade para poder dar alimentação a todos os deslocados como tinha inicialmente planificado, pois o número cresceu bastante. E também a Caritas Diocesana e o Fundo de Emergência fazem o máximo para socorrer pelo menos aqueles que realmente estão em situações muito difíceis.

Daí o apelo de D. Juliasse: “A mensagem que eu posso deixar aqui é que não se pode esquecer mais esta situação, e não se pode deixar Cabo Delgado para si e para a sua gente: depois será muito tarde”. E o Bispo concluiu agradecendo a “todas as pessoas que contribuem no mundo inteiro para socorrer esta crise humanitária que temos cá em Cabo Delgado”.

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07 janeiro 2022, 08:54