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Ustas Abubacar Djaló, Imame de Mansoa (Guiné-Bissau) Ustas Abubacar Djaló, Imame de Mansoa (Guiné-Bissau) 

Guiné-Bissau. Faleceu Abubacar Djaló, parceiro da Igreja na construção da paz

Morreu, vítima de Covid-19, líder da Associação dos muçulmanos da Guiné-Bissau, amigo e parceiro incontornável da Igreja católica guineense no processo da construção da paz e diálogo inter-religioso.

Casimiro Jorge Cajucam – Rádio Sol Mansi, Guiné-Bissau

O presidente da União Nacional dos Imames da Guiné-Bissau, Ustas Abubacar Djaló, depois de vários dias de luta contra a Covid-19, acabou por morrer na madrugada de quinta-feira (19/08) em Bissau, dia também em que foi sepultado, na sua terra natal em Mansoa, a 60 km a norte da capital Bissau, onde até a data da sua morte era imame da mesquita local.

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Abubacar Djaló era grande parceiro da Igreja católica na Guiné-Bissau nos trabalhos da promoção da paz e tolerância religiosa. Representava símbolo da união entre os muçulmanos e cristãos na Guiné-Bissau e fazia ponte entre a comunidade muçulmana guineense e a católica. Em várias ocasiões foi convidado pelo Bispo Emérito, Dom José Camnate Na Bissing, para participar nos eventos da Igreja Católica, como também convidou o Bispo a tomar parte na cerimónia muçulmanas. 

Colaborador com a Rádio Sol Mansi

O defunto tinha um espaço radiofónico na estação emissora católica da Guiné-Bissau, Rádio Sol Mansi, o programa intitulado “Voz de Islão”, divulgado todas as quintas-feiras das 22 às 22h30. No período do mês de jejum era-lhe cedido outro espaço para apresentação do programa “Tribuna Islâmica”, três vezes por semana.

Igreja unida à família e à Comunidade muçulmana

Entretanto, a Igreja católica da Guiné-Bissau reagiu à morte Aladje de Abubacar Djaló afirmando “ter recebido a notícia com grande tristeza. Na nota, os administradores diocesanos dizem que a comunidade católica tem uma ligação “muito” grande com o falecido líder Islâmico, e portanto sente-se unida neste momento de grande dor com a família do falecido e com toda a comunidade muçulmana de Mansoa e da Guiné.

Homem de paz e diálogo fraterno

“O seu desejo de paz é conhecido, o seu trabalho para o diálogo fraterno entre as religiões nunca poderá ser esquecido. Desde o início da Rádio Sol Mansi ele esteve presente com o programa mais antigo da nossa Rádio: “A Voz do Islão”. Esta presença fiel até os seus os últimos dias foi um sinal da sua grande fé no único Deus e do seu desejo que as religiões fossem ao serviço da paz e do bem para todos”, lê-se ainda na mesma nota da Igreja Católica da Guiné-Bissau.

Em sua carta de condolência enviada à família muçulmana, os dois administradores diocesanos da Guiné-Bissau lembram o papel do Ustas em relação à colaboração entre a Rádio Sol Mansi e a Rádio Escola Corânica de Mansoa que ficou na história da Guiné e foi apresentada como exemplo altamente positivo em vários lugares do mundo e nos meios de comunicação social da Europa e da América.

A Igreja enfatiza ainda que para os alunos do Liceu Pastori em Bafatá, em Junho deste ano, o falecido Ustas deu uma valiosa palestra sobre o valor do diálogo entre os fiéis de diferentes religiões, falando do grande documento “A fraternidade humana. Em prol da paz mundial e da convivência comum” assinado pelo Papa Francisco e o Grande Imame de Al-Azhar Ahmed Al-Tayyib em 2019.

Ustas alertou jovens sobre o perigo do fanatismo

Segundo o mesmo documento oficial, neste encontro o Ustas alertou os jovens sobre os perigos dos fanatismos religiosos que estão alastrando no mundo e na nossa sub-região, e condenou a instrumentalização da religião por fins políticos, apostando ao contrário à verdadeira busca de Deus e ao paciente trabalho de diálogo e fraternidade entre crentes das diferentes religiões.

Por fim, a Igreja roga que Deus grande e misericordioso conceda o descanso eterno e a vida eterna a este grande homem, irmão e amigo, com o grande desejo que o seu exemplo e compromisso para difundir a fé em Deus e promover a paz e o diálogo possa ser seguido pelos fiéis de todas as religiões presentes na Guiné Bissau.

Testemunho do P. Davide Sciocco, 1° director da RSM

A nossa reportagem  falou com o fundador e antigo Diretor da Rádio Sol Mansi (RSM), Padre Davide Sciocco, quem começou a estabelecer essa relação de proximidade com o agora falecido, traça aqui alguns testemunhos do malogrado Ustas Abubacar Djaló, e diz que a sua morte representa uma grande perda para o País…

“Ele convidou-me para o lançamento da primeira pedra para a construção da escola corânica e a Igreja Católica da Guiné-Bissau”, concluiu afirmando que “realizaram vários encontros conjuntos para os jovens sobre diversos problemas no mundo e na Guiné-Bissau. Era um homem de grande abertura que não aceitava qualquer forma de extremismo e radicalismo”, sublinhou.

Eleito presidente da União de Imames da Guiné-Bissau a 7 de julho de 2013, imame de Mansoa, como era chamado, é casado e pai de 09 filhos, nasceu no dia 02 de janeiro de 1964, em Mansoa, região de Oio, norte de Guiné-Bissau. Fundou a primeira estação emissora islâmica na Guiné-Bissau denominada Rádio Escola Corânica de Mansoa (RECOM) que teve um papel preponderante na consolidação do islão no País e actualmente com uma parceira louvável com a Rádio Sol Mansi da Igreja católica do País, que em cada ano forma os jornalistas da RECOM.

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20 agosto 2021, 10:53