Busca

Catequista Manuel Kapattiwa, e a esposa Senhora Maria Adelaide Loja, Anchilo (Nampula, Moçambique) Catequista Manuel Kapattiwa, e a esposa Senhora Maria Adelaide Loja, Anchilo (Nampula, Moçambique) 

Manuel Kapattiwa: “Catequistas ajudam na construção da Igreja local”, em Moçambique

“É grande a importância do Catequista na evangelização, e em particular, no crescimento da Igreja local, na criação dos ministérios nas Comunidades e mesmo na descoberta e vivência da própria vocação na Igreja”: disse em entrevista à Rádio Vaticano, o Catequista Manuel Kapattiwa, formado no Centro Catequetético Paulo VI de Anchilo, na Arquidiocese de Nampula, Norte de Moçambique.

P. Bernardo Suate – Cidade do Vaticano

Criado em 1969 pelo então Arcebispo de Nampula, D. Manuel Vieira Pinto, o Centro Catequetético – previsto para beneficiar as Dioceses de Nampula, Lichinga e Pemba - foi desde cedo destinado à formação de catequistas e suas famílias, para uma pastoral encarnada no povo e mais voltada a uma maior participação activa dos fiéis leigos na vida da Igreja.

Oiça aqui a entrevista integral com M. Kapattiwa e partilhe

Em entrevista à Rádio Vaticano, Manuel Kapattiwa, um dos primeiros participantes (juntamente com a esposa), nos cursos de dois anos organizados pelo Centro, sublinhou que os participantes deviam ser “Catequistas a templo pleno” para as suas respectivas Dioceses e Paróquias.

Catequistas “a tempo pleno” ao serviço da Diocese de da Paróquia

“O trabalho do Catequista a Tempo Pleno era velar pela vida da caatequese na Província (Diocese) inteira e na Paróquia onde fosse enviado, pois era, de facto, a Paróquia que te enviava para o Centro, e você ia fazer o trabalho das Comunidades daquela Paróquia”.  O grupo de Kapattiwa, era constituído por Catequistas de todas as Paróquias da Arquidiocese de Nampula, e ainda por aqueles vindos das dioceses vizinhas de Pemba, da Zambézia (Quelimane) e também da Diocese de Lichinga – 17 famílias de catequistas vindas de quatro Dioceses ao todo, enfatizou.

Manuel Kapattiwa falou sobretudo do trabalho dos catequistas após o período de formação: Mesmo durante as férias, os catequistas estavam em missão, reiterou, pois “as nossas férias não eram ‘férias sentadas’, eram férias apenas para o Centro”. Nas férias o catequista, de facto, regressava à sua Diocese e Paróquia, e trabalhava nas Comunidades, dando catequese e animando os Catequistas das Comunidades, para melhorar a sua Catequese.

Catequistas na tradução da Palavra de Deus

“Portanto, percorríamos toda a Diocese ajudando os outros Catequistas” – enfatizou Kapattiwa, acrescentando que, depois do Curso, ele mesmo trabalhou nas Dioceses de Pemba, Quelimane e outras Dioceses, ajudando na tradução da Bíblia em Macua (uma das principais actividades do Centro de Anchilo era, na verdade, a tradução dos textos bíblicos), e na preparação da I Assembleia Nacional da Pastoral (que se realizou na Beira, em 1977).

Catequistas na I Assembleia Nacional de Pastoral

Este importante evento da Igreja em Moçambique, a I Assembleia de Pastoral da Beira, contou também com a participação dos Catequistas, cujo papel foi fundamental nos debates sobre a “Igreja da Base”, a Igreja Doméstica e a “Igreja Ministerial”, admitiu o nosso entrevistado, para quem a I Assmbleia Nacional da Pastoral teve muitos e bons frutos: “Vimos muitos frutos, e ainda hoje a nossa Diocese de Nampula, se formos a ver, é a Diocese que tem mais Padres (nativos)”.

E para o Catequista Kapattiwa a Igreja da Base, e a Igreja Ministerial, debatida na I Assembleia Nacional da Pastoral na Beira, ainda continua na Arquidiocese de Nampula e em Moçambique em geral, a julgar pelos vários Ministérios existentes nas Pequenas Comunidades, para a animação da Igreja, como o ministério do Ancião, os doentes, as famílias, os jovens e outros.

E sobre o trabalho dos Catequistas, e de como seria a Igreja sem a figura do Catequista, Manuel Kapattiwa deu um balanço positivo: “A importância do Catequista na evangelização é muito grande, pois é ele que ajuda no crescimento da Igreja, na criação dos Ministérios … mesmo na descoberta do caminho daqueles que são chamados para a vida sacerdotal e a vida religiosa”.

Dificuldades e desafios do Catequista

À pergunta sobre as dificuldades e desafios enfrentados enquanto Catequista, Manuel Kapattiwa mencionou as difíceis condições em que viviamo os Catequistas no “tempo da Frelimo 1”, pois quando tomaram o poder no País, disse, “introduziram na nossa terra a ‘não existência de Deus’, e então nesse tempo do “Deus não existe” foi tempo de maior trabalho para nós Catequistas, porque as Autoridades nos estavam a pôr na cadeia, por causa de estarmos a testemunhar a existência de Deus”.

Havia, na verdade, grandes dificuldades, entre ameaças, prisões e torturas chegando alguns a enfrentar o martírio. Mas graças a Deus, houve Catequistas corajosos que, apesar das ameaças e muito sofrimento, levaram sempre para frente o caminho da evangelização. Agora a situação mudou, “porque mesmo aqueles que não aceitavam a existência de Deus, agora já estão a aceitar” – confirmou Kapattiwa.

Tanto é verdade que alguns dos Catequistas formados no Centro Catequético Paulo VI de Anchilo “abandonaram e agora estão aí metidos nos seus trabalhos, outros estão envolvidos na procura do dinheiro, para a questão da sobrevivência ou em busca de melhores oportunidades …”, mas um bom número continua a trabalhar.

No entanto, Manuel Kapattiwa pensa que ultimamente há menos reuniões de Catequistas, pelo menos não há tantas como no tempo do Arcebispo D. Manuel. “E é nos encontros onde a gente aprende mais, e ganha coragem para enfrentar os problemas da Igreja, problemas da sociedade, problemas políticos”, sublinha Manuel, chamando as Autoridades eclesiais a sempre darem relevo ao papel do Catequista na Igreja.

“Mais encontros, sozinho nada se pode fazer”

Na verdade, “é importante podermos reunir com os Catequistas que ainda continuam a trabalhar, para meditarmos e reflectirmos sobre a Igreja ministerial e sobre a missão da Igreja, porque é nos encontros onde a pessoa se torna corajosa, se torna inteligente e sábia, mas sozinho nada se pode fazer” – concluiu Manuel Kapattiwa.

De recordar que o Centro Catequético Paulo VI de Anchilo, que recentemente completou 50 anos desde a sua criação, iniciou os seus Cursos em 1970 para, entre outras actividades, preparar leigos comprometidos com a construção da Igreja local, na tradução da Palavra de Deus nas línguas locais, na reorganização da catequese e do caminho catecumenal, na consolidação das Pequenas Comunidades cristãs, e sempre em diálogo com a cultura circunstante. Coordenado durante vários anos por uma Equipa intercongregacional, a gestão do Centro está agora a passar dos Missionários Combonianos para os Padres Diocesanos da Arquidiocese de Nampula. 

Mais informações sobre o Centro Catequético Paulo VI de Anchilo no site da Revista “Vida Nova” e no link https://vidanova.org.mz/2020/07/15/centro-catequetico-paulo-vi-do-anchilo/

Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui

22 junho 2021, 13:09