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FEx-Presidente da Zambia, Kenneth Kaunda FEx-Presidente da Zambia, Kenneth Kaunda 

Faleceu aos 97 anos o primeiro presidente da Zambia independente, Kenneth Kaunda

O presidente fundador da Zambia, Kenneth Kaunda, faleceu aos 97 anos, nesta quinta-feira, 17, vítima de pneumonia, segundo fontes governamentais do País.

Paul Samasumo – Cidade do Vaticano

A morte do presidente fundador da Zambia foi confirmada pelo Secretário do Gabinete da Zambia, Dr. Simon Miti, na capital zambiana, Lusaka.

O Dr. Kaunda morreu na quinta-feira. Houve especulações de que ele pode ter morrido de Covid-19 devido a uma terceira onda que agora está a devastar a Zambia. No entanto, o Governo disse que Kaunda testou negativo para Covid-19 e que teria morrido de pneumonia.

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Vários Chefes de Estado e de Governo em África prestaram homenagem ao Dr. Kaunda, descrito por muitos como um líder e um estadista carismático. O Presidente da Zambia, Edgar Lungu, declarou 21 dias de luto nacional, enquanto o vizinho Botswana declarou 7 dias.

Último fundador da OUA sobrevivente, estadista e libertador

O Dr. Kaunda governou a Zambia de 1964 a 1991, quando concedeu a derrota ao Movimento para a Democracia Multipartidária. Ao admitir e aceitar a derrota nas urnas, a acção de Kaunda o distinguiu de outros líderes africanos. Ele abriu um precedente que muitos líderes africanos ainda lutam para imitar. O Continente está repleto de eleições presidenciais contestadas.

Kaunda foi o último fundador sobrevivente da Organização da Unidade Africana (OUA), agora conhecida como União Africana (UA). Kaunda era um pan-africanista dedicado, comprometido com o fim do domínio colonial em África. E desempenhou um papel crucial na libertação dos Países da África Austral.

Como presidente do grupo dos seis Chefes de Estado da Linha de Frente em África, o Dr. Kaunda galvanizou estes países a se oporem ao regime de Ian Smith na Rodésia (Zimbabwe), o apartheid na África do Sul e vários outros Países da África Austral ainda sob o domínio colonial.

O empenho do Dr. Kaunda na luta de libertação, especialmente na região da África Austral, teve um grande custo económico para a Zambia. Contudo, foi um sacrifício que Kaunda disse repetidamente que valia a pena fazer porque a Zambia não poderia ser livre até que toda a África Austral fosse libertada. O movimento de libertação da África do Sul e outros movimentos foram beneficiários da benevolência de Kaunda. O Congresso Nacional Africano da África do Sul, por exemplo, tinha a sua sede em Lusaka, na Zambia.

Nos primeiros anos

O Dr. Kaunda liderou a luta da libertação até que a Rodésia do Norte alcançou a independência política do governo britânico em 24 de outubro de 1964, e o País foi recebeu o nome da Zambia. Carinhosamente conhecido ao longo da sua vida como “KK”, Kaunda serviu como Presidente da Zambia durante 27 anos antes de ser derrotado nas eleições de outubro de 1991, depois da reintrodução da política multipartidária.

Nascido como Kenneth David Buchizya Kaunda em 28 de abril de 1924, no norte da Zambia na Missão Lubwa, perto de Chinsali, o pai de Kaunda, David Julizya Kaunda, foi professor e missionário ordenado da Igreja da Escócia. Na verdade, o pai e a mãe de Kaunda eram professores. O pai de Kaunda estabeleceu-se na Zambia em 1904, vindo da então Nyassalândia (agora Malawi).

Luta pela independência da Zambia

Kaunda foi um professor que decidiu ingressar na política no início dos anos 1950, como membro do Congresso Nacional Africano da Rodésia do Norte. Mais tarde, ele se separou para formar em outubro de 1958 o Congresso Nacional Africano da Zambia (ZANC). Por causa do seu dinamismo, o ZANC foi banido em março de 1959 pelo governo colonial britânico. No entanto, numa coalizão com o seu rival, o novo partido de Kaunda, o Partido Unido para a Independência Nacional (UNIP) e o partido do Congresso Nacional Africano (ANC) de Harry Mwaanga Nkumbula, juntos fizeram campanha e lutaram para finalmente alcançar a independência do Governo britânico em outubro de 1964 .

Kaunda na Zambia independente

Como Presidente da nova Zambia, Kaunda procurou unir o País sob o lema “Uma Zambia Uma Nação” e através de nomeações para posições nacionais naquilo que veio a ser conhecido como 'equilíbrio tribal'. A Zambia tem 73 tribos étnicas, a maior parte das quais pertencentes ao grupo linguístico Bantu.

Pouco depois de outubro de 1964, o governo do Dr. Kaunda envolveu-se em ambiciosos projectos de desenvolvimento nacional construindo escolas, hospitais e estradas. Estes projectos foram interrompidos pelo aumento dos preços do petróleo, pela queda dos preços do cobre no mercado internacional e pelo aumento da dívida internacional da Zambia. O cobre foi por muitas décadas a principal fonte de divisas para a Zambia. O governo de Kaunda nacionalizou a indústria mineira e a economia ficou altamente centralizada, o que resultou no aumento do custo de vida. E quando os Estados de partido único eram comuns na África daquela época, a Zambia também seguiu o exemplo até que o clamor público e os protestos levaram à reintrodução do multipartidarismo, em 1991.

Kaunda: A Igreja e o Humanismo

Sendo filho de um reverendo, Kaunda foi sempre uma pessoa religiosa e manteve boas relações com a Igreja. Ele encorajava a liberdade de culto e, durante o seu governo, as igrejas prosperaram. Em parte, isso aconteceu porque as igrejas estavam, na verdade, ajudando a agenda de desenvolvimento do Governo de fornecer educação e assistência médica aos cidadãos.

Geralmente Kaunda gozava de relações harmoniosas com várias denominações no País. O seu governo introduziu a filosofia do Humanismo que promovia a centralidade da pessoa humana em todas as actividades. A filosofia do Humanismo de Kaunda para a Zambia, tingida de socialismo, foi inicialmente bem recebida pelos cidadãos mas, com o colapso da economia do País, o Humanismo foi abandonado quando Kaunda perdeu o poder em 1991.

Pai da Nação

Depois de deixar o cargo, Kaunda tornou-se activista anti-SIDA através da sua Fundação Kenneth Kaunda, Ccrianças para a África. Ele perdeu um dos seus filhos por SIDA. No crepúsculo da sua vida, o Dr. Kaunda foi procurado activamente para palestras, conselhos e inspiração por várias organizações cívicas e não governamentais na Zambia, em África e mais além. Com a sua morte, Kaunda será para sempre carinhosamente recordado e conhecido como "o Pai da Nação".

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18 junho 2021, 10:29