Bispos da Conferência Episcopal Nacionaal do Congo - RDC (CENCO) Bispos da Conferência Episcopal Nacionaal do Congo - RDC (CENCO) 

RDC. Violência no leste do País. Apelo dos Bispos: "Não mateis os vossos irmãos!"

Há já vários anos que se verificam dramáticos confrontos e massacres entre vários grupos armados no Leste da República Democrática do Congo (RDC), e a Conferência Episcopal Nacional do País (CENCO) emitiu uma mensagem na qual exorta para o fim da violência: “Párem de matar os vossos irmãos! - imploram os prelados, dirigindo-se a todas as partes envolvidas - o seu sangue clama da terra”.

Cidade do Vaticano

Mais de 6 mil mortos em Beni a partir de 2013 e mais de 2 mil em Bunia só em 2020; 3 milhões de deslocados internos e 7.500 pessoas sequestradas; casas e aldeias queimadas, escolas e centros de saúde destruídos, edifícios administrativos saqueados; animais, campos e colheitas saqueados, são os números dramáticos do conflito que aflige a região do Kivu do Norte e do Ituri, no leste da República Democrática do Congo, onde há anos se verificam confrontos e massacres entre vários grupos armados. Por isso, o Comité Permanente da Conferência Episcopal Nacional do Congo (CENCO) emitiu uma mensagem na qual exorta para o fim da violência: “Párem de matar os vossos  irmãos! - imploram os prelados, dirigindo-se a todas as partes envolvidas - o seu sangue clama da terra”.

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O documento sublinha “a morte, a desolação e os deslocamentos” que a população local é obrigada a sofrer e recorda que, em meados de janeiro, uma delegação composta por membros do CENCO e da Aceac (Associação das Conferências Episcopais da África Central) realizou uma visita de solidariedade às dioceses de Goma, Butembo-Beni e Bunia, precisamente para “ouvir e confortar” os fiéis, levando “uma mensagem de paz e esperança e um apelo à unidade”. Nos próximos meses, porém, está prevista uma visita pastoral ao Kivu do Sul, onde a situação é igualmente preocupante.

Ponto por ponto, pois, o CENCO repercorre os encontros realizados no Kivu do Norte e em Ituri, procurando analisar "as causas profundas" do conflito que parece ser de vários tipos: no Kivu do Norte, o conflito é tanto "comunitário", ou seja, devido a “uma estratégia de ocupação das terras” e “à chegada repentina e massiva de populações de Uganda”; como "religioso", pois segundo alguns interlocutores dos Bispos está em acto uma espécie de "islamização da região" para fins políticos. Em Ituri, pelo contrário, a situação "é muito mais complexa", porque "a crise é recorrente e multifacetada": os grupos armados aqui presentes são mais de uma centena e muitas vezes são apoiados ou instrumentalizados por alguns líderes políticos; o exército regular estacionado na região, por outro lado, não tem nenhum poder, apesar de os Bispos reconhecerem "os grandes esforços feitos pelos militares regulares para conter massacres e saques".

A realidade é que os problemas são endêmicos, prosseggue o CENCO: os militares estão desmotivados, também por causa da baixa remuneração; o excessivo número de centros de comando dispersa as suas forças, em benefício do crime; o nível de infiltração de ex-rebeldes suspeitos de cumplicidade com o inimigo é alto; a corrupção de alguns oficiais que "se preocupam mais com os seus próprios negócios do que com as operações militares" é frequente; as fronteiras são "porosas" e facilitam a entrada de homens armados dos Países vizinhos. A única constante, sublinham os Bispos congoleses, é que a "vítima principal" de toda esta situação é a população, que "tem a sensação de ser abandonada" pelo Estado. As muitas promessas do governo sobre o rápido restabelecimento da paz, de facto, ficaram letra morta, enquanto a liderança política parece cada vez mais negativa, pois parece “fomentar os conflitos para deles tirar proveito, aproveitar a crise para saquear os recursos naturais do País e assistir impotente ao seu desmoronamento".

É também grave a situação do sistema judicial, afirmam os Bispos, já cada vez mais debilitado e esmagado pela impunidade, enquanto “os ex-carcerados voltam cometer a violência porque não conseguem ser reintegrados na comunidade civil”. O CENCO questiona, pois, o Monusco, a missão da Organização das Nações Unidas para a estabilização do País: apesar de ter em vista a reabertura de algumas das suas bases fechadas e acreditar na possibilidade de que a nação venha a sair da crise, contudo o Monusco é "acusado pela população de passividade e até mesmo de cumplicidade". “A sua presença é agora vista com suspeita e cepticismo - lê-se na mensagem episcopal - porque não conseguiu parar com os massacres, mesmo quando eles aconteceram a poucos metros das forças da ONU”.

Concluída esta análise capilar da qual se verifica que “no Leste da República Democrática do Congo é necessária uma conjugação de esforços a diversos níveis para ultrapassar uma realidade muito complexa”, os Bispos fazem algumas recomendações e esperam: uma reforma estrutural do governo; uma melhor gestão do exército, com a remoção de todos os oficiais coniventes; um reforço da logística para evitar os ataques dos milicianos e, assim, reduzir a perda de vidas humanas; o lançamento de uma operação militar em grande escala, sob a autoridade do Conselho de Segurança da ONU; o desarmamento e a reintegração social dos militares desmobilizados, para evitar que aumentem as fileiras dos milicianos; “a criação de um quadro de consulta permanente para a coesão e a paz no Leste do País, liderado por um Observatório científico multidisciplinar, e o envolvimento das lideranças locais na sensibilização para a coexistência pacífica”. Ao mesmo tempo, o CENCO pede que se desenvolvam “espaços de diálogo” nas zonas de conflito baseados na “promoção dos valores de cidadania”, juntamente com o desenvolvimento de “uma parceria bilateral e multilateral com os parceiros internacionais”.

«A guerra é a mãe de todas as misérias, atinge todas as esferas da sociedade e compromete o futuro dos nossos filhos - sublinham novamente os Bispos congoleses. Convidamos aos que se deixam levar pelo espectro da divisão a compreender que é pelo amor e pela unidade que o mal pode ser superado e a violência neutralizada”. Daí o convite a "um tempo de oração pela paz no Leste do País", porque o drama desta região "diz respeito a toda a nação". “Somos todos convidados a assumir as nossas responsabilidades e a fortalecer os nossos laços de solidariedade e fraternidade”, reiteram os prelados.

Por seu lado, o CENCO assegura o seu empenho “no acompanhamento do processo de construção da paz e da coesão social, na consolidação da fraternidade entre os povos e as comunidades, para que os inimigos se estendam a mão e os adversários aceitem percorrer juntos um trecho de estrada”. A mensagem termina com uma invocação à Virgem Maria, Rainha da Paz.

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10 abril 2021, 10:06