Irmã Bernardeta Sika, religiosa e enfermeira da Congregação de S. José de Cluny Irmã Bernardeta Sika, religiosa e enfermeira da Congregação de S. José de Cluny 

Angola. “Darmos vida para que o outro tenha vida”, a Irmã Bernardeta Sika

De Angola à Guiné-Bissau, com etapa atual em Portugal, a religiosa e enfermeira da Congregação de S. José de Cluny, partilha o seu testemunho de vida. O som é da Agência Ecclesia, a entrevista é de Sónia Neves.

Rui Saraiva

Neste mês de outubro missionário, a Agência Ecclesia tem vindo a publicar várias entrevistas, na rubrica “Conversas Além-fronteiras”, um espaço de conversação online que divulga as missões desenvolvidas em diferentes pontos do mundo.

Numa conversa conduzida por Sónia Neves, jornalista da Agência Ecclesia, apresentamos o testemunho da irmã Bernardeta Sika, enfermeira angolana que esteve em missão na Guiné-Bissau.

Nas palavras da irmã Bernardeta, concretas e plenas de boa disposição, intuímos uma vocação perfumada pelo amor ao serviço.

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“Para a juventude, para o povo e para o batizado, eu só digo que vale a pena darmos vida para que o outro tenha vida. Em missão. E seja de que modo for, como consagrada, ou como leiga, ou mesmo solteira, o importante é termos essa vontade de fazer com que o outro conheça Jesus Cristo na vida e opte por uma vida melhor” – afirmou.

Dar vida em missão

Num percurso preparado para servir os outros como enfermeira, a irmã Bernardeta estava já colocada para rumar ao Uige, no norte de Angola, mas, na sua consciência amadureceu uma inquietação antiga: ajudar os que sofrem. E, assim, decidiu ser religiosa.

“Ainda era menina e estava com aquela ideia de querer ajudar alguém que sofresse mais do que eu. Porque a minha família foi também muito sofredora. Estava estudando. Acabei os estudos muito bem. Fiz a colocação e era para ir para o Uige já como enfermeira. Mas veio-me a ideia de querer ser madre. Se as irmãs europeias que vieram, fazem trabalho e se sacrificam pelos meus, e porque não eu?” – perguntou a irmã Bernardeta a si mesma.

Com a decisão já tomada, abraçou a vocação religiosa desenvolvendo os seus estudos.

“Fui para o convento para o noviciado. Depois da formação, em 1972, professei. A madre provincial procurou colocar-me imediatamente numa maternidade no sul de Angola onde estive uns 5 anos. Depois fui para uma outra maternidade 12 anos e para uma outra no norte, um ano e meio e assim sucessivamente” – sublinhou.

Na Guiné-Bissau ajudando grávidas e crianças

No percurso da irmã Bernardeta estava reservada a missão de rumar à Guiné-Bissau onde esteve 16 anos. Ali chegada para fundar a presença da Congregação de S. José de Cluny naquele país lusófono.

“Estive 16 anos, desde 1993. Fui com o intuito de fazer a fundação da primeira presença nossa na Guiné-Bissau. A adaptação foi um pouco difícil. Chegando lá começamos a introduzir-nos no trabalho conforme a norma pastoral da diocese, na qual cada missionário antes de fazer a sua ação fica um mês de experiência e de estudo da língua, usos e costumes na Cúria diocesana. Depois desta formação somos lançadas ao terreno. Eu assumi um grupo de pastoral que já tinha sido iniciado pelas irmãs da Imaculada” – disse a religiosa.

Na sua missão na Guiné-Bissau, a irmã Bernardeta dedicou-se com especial cuidado ao trabalho com as grávidas, as crianças desnutridas, os orfãos e os gémeos.

“O meu dia-a-dia, sendo enfermeira, era mais cuidar dos doentes. E tomei como prioridade principal cuidar da grávida, crianças desnutridas, orfãos e gémeos. Isto porque notei que no país havia um pouco de desacordo com as mulheres grávidas. Sofriam muito desprezo. Havia muito desprezo, sobretudo, quando fossem mulheres grávidas de dois bebés. E além disso os deficientes também estavam em risco. Então optei por fazer uma caminhada com um grupo formando líderes. Começamos a formar só as senhoras para podermos lançar a obra nas aldeias. Porque lá, tradicionalmente, a senhora é obrigada a não avançar com a gravidez de gémeos ou teria de falecer uma para ficar só uma criança, por causa do controle da natalidade, eu seguia essa gravidez até ao parto e depois um deles ficava com ele até aos seis anos e depois poderia ser adotado” – revelou a irmã Bernardeta à Agência Ecclesia.

Portugal, país de missão

Depois da missão na Guiné-Bissau, a religiosa teve uma breve passagem por Angola, onde pensou ficar, mas em 2011 foi convidada a ir para Portugal.

“Em Portugal sigo de perto as irmãs que estão doentes, ainda dou pastoral catequética e litúrgica, visito os doentes e dou uma ajuda na enfermagem em coordenação com o centro de saúde, vim num espirito de disponibilidade e obediência”.

A irmã Bernardeta Sika da Congregação de S. José de Cluny apresentando o seu testemunho missionário na rubrica “Conversas Além-fronteiras” da Agência Ecclesia, num trabalho de Sónia Neves.

Na sua mensagem para o Dia Mundial das Missões neste ano de 2020, que se assinalou no passado dia 18 de outubro, o Papa Francisco afirma que missão “não é um programa”, mas “Cristo que faz sair a Igreja de si mesma”. É “Igreja em saída”.

Laudetur Iesus Christus

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22 outubro 2020, 10:23