Busca

Bateria antiaérea israelense dispara contra foguetes lançados de Gaza. (Photo by AFP/Said Khatib) Bateria antiaérea israelense dispara contra foguetes lançados de Gaza. (Photo by AFP/Said Khatib)  (AFP or licensors)

Gallagher: dois Estados, única solução para o conflito na Terra Santa

Em Marselha, o secretário para as Relações com os Estados reitera a posição da Santa Sé durante uma conferência com o corpo consular, representantes das comunidades orientais e da Igreja local.

L'Osservatore Romano

Ouça e compartilhe

«Uma solução de dois Estados, a única via de resolver este conflito sem fim, para que israelenses e palestinos possam finalmente viver em paz e segurança». A posição da Santa Sé em relação à dramática situação na Terra Santa foi reiterada em Marselha na manhã sexta-feira, 2, pelo arcebispo Paul Richard Gallagher. O secretário para as Relações com os Estados e as Organizações Internacionais participou de uma conferência na Basílica de Notre-Dame-de-la-Garde com o corpo consular, representantes das comunidades orientais, sacerdotes, diáconos e chefes dos serviços arquidiocesanos da Igreja local, guiada pelo cardeal Jean-Marc Aveline.

Antes de responder às perguntas dos presentes, o prelado proferiu uma palestra sobre a diplomacia da Santa Sé no atual contexto. Relançando as preocupações manifestadas em diversas ocasiões pelo Papa Francisco, falou do Médio Oriente dilacerado pelas divisões, do sofrimento dos povos iraquiano e sírio e dos refugiados na Jordânia e no Líbano; da «expansão do conflito da Federação Russa na Ucrânia, depois de quase dois anos de guerra e centenas de milhares de vítimas inocentes»; das tensas relações entre a Armênia e o Azerbaijão no sul do Cáucaso, com o drama dos deslocados em Nagorno-Karabakh; «as fortes tensões nas Américas, em particular entre a Venezuela e a Guiana, no Peru e na Nicarágua, onde mesmo que não haja uma guerra aberta», existem «fenômenos de polarização que enfraquecem as instituições democráticas»; e do «continente africano, atingido por múltiplas crises humanitárias devidas ao terrorismo internacional (particularmente no Sahel), por problemas sociopolíticos complexos e pelos efeitos devastadores das alterações climáticas, bem como pelas consequências dos golpes de estado militares e alguns resultados de eleições caracterizadas pela corrupção, intimidação e violência", com os consequentes fenômenos migratórios, também no centro da visita realizada pelo Pontífice a Marselha em setembro passado, para a conclusão dos "Rencontres Méditerranéennes".

Fazendo a pergunta durante a palestra sobre o que a diplomacia pode fazer face às tragédias deste mundo, o arcebispo Gallagher reconstruiu a história da ação da Santa Sé, que por meio da rede de representações pontifícias mantém relações com 184 países, o primeiro dos quais foi precisamente o reino de França no século XV. Os seus «objetivos fundamentais e imutáveis ​​– comuns aos vários pontificados – são a defesa da liberdade de culto e da liberdade religiosa; a promoção de uma visão ética das grandes questões que preocupam a humanidade; a defesa da dignidade e dos direitos fundamentais; a promoção da reconciliação, da paz e do desenvolvimento integral da pessoa».

Sobretudo, acrescentou, trata-se de “trabalhar pela paz, uma palavra frágil e ao mesmo tempo exigente, em um momento histórico em que ela está cada vez mais ameaçada, enfraquecida e parcialmente perdida”. Gallagher definiu-a como uma "diplomacia atípica", "livre de qualquer ambição política, econômica ou militar", que ao longo do tempo "tem conseguido transformar a sua singularidade numa força, e a sua voz numa bússola que guia as consciências através das tragédias deste mundo".

Em termos concretos - continuou na sua palestra -, «a nossa ação consiste em tecer redes; promover o diálogo entre os beligerantes, sejam eles quem forem; contribuir para a resolução de conflitos geopolíticos sem humilhar os vencidos, para alcançar uma paz duradoura; lutar pela eliminação da pobreza; invocar uma política de desarmamento, uma transição ecológica, proteger a dignidade humana para poupar o sofrimento das populações”. Na consciência de que «esta ética de vida baseada em princípios morais e esta “cultura do encontro” entre as pessoas requer muita paciência, capacidade de escuta, discrição e confiança».

Elencando “os sinais de esperança dos últimos meses, que demonstram” que a diplomacia não está “inativa”, citou a recente nomeação de um representante pontifício residente em Hanói, graças também à colaboração da Igreja do Vietnã; a ratificação do Acordo suplementar entre a Santa Sé e o Cazaquistão, que facilita a presença de agentes pastorais no país da Ásia Central; o centenário das relações diplomáticas com a República do Panamá, o 70º das relações com a República Islâmica do Irã, o 60º das relações com a República da Coreia e o 50º das relações com a Austrália.

E a tudo isto - comentou - «soma-se obviamente a mediação de influência exercida diretamente pelo Papa», dado que «a diplomacia da Santa Sé prevê também a intervenção direta do Pontífice», quer durante as audiências no Vaticano com Chefes de Estado e de Governo e a outras personalidades públicas, como durante as Viagens Apostólicas, mais recentemente as da Mongólia, da República Democrática do Congo e do Sudão do Sul, como da Hungria. Por fim, “outro âmbito é o compromisso da Igreja no diálogo inter-religioso” como autêntico “caminho de paz”.

O dia em Marselha do secretário para as Relações com os Estados e as Organizações Internacionais começou de manhã cedo na Basílica de São Vítor, onde terminou a tradicional procissão da festa da Apresentação do Senhor. Há séculos, a cidade mediterrânea, por ocasião das “Candlemas”, renovou este rito de piedade popular, acordando-se às 6 ao som dos sinos: depois da chegada do Evangelho por mar ao Porto Velho, uma procissão orante segue até os restos monumentais da antiga Abadia de Saint-Victor, para a celebração da Missa na cripta.

Na homilia de hoje, o arcebispo Gallagher transmitiu aos presentes “o agradecimento e o encorajamento do Papa Francisco”, que “no passado mês de setembro ficou profundamente tocado pelo calor de vossa acolhida, pela coragem com que enfrentais dia após dia os desafios e as adversidades e pela sua dedicação a uma civilização de encontro com Deus e com os outros”.

E precisamente “festa do encontro” é o nome com que no Oriente nasceu a festa da Apresentação. Reconstruindo a sua história, o celebrante centrou-se nos “personagens principais” deste encontro no templo de Jerusalém – a Virgem Maria, José, o menino Jesus e os idosos Simeão e Ana – como testemunhas de esperança. Tal como Marselha, a arquidiocese e a cidade que com os seus habitantes representam um “mosaico de esperança”, acolhendo os numerosos migrantes que aqui chegam em busca de um futuro melhor. E a este respeito, o prelado sugeriu invocar «a força do Senhor, recordando a antiga antífona da festa de hoje: “O velho carregava o menino, mas o menino sustentava o velho” (Senex puerum portabat, puer autem senem regebat) » .

O rito terminou com a bênção das velas verdes, que recordam a cor do manto da Virgem, e das "navettes", biscoitos aromatizados com flores de laranjeira e com o característico formato de barco, que segundo a tradição simbolizam a chegada à Provença das três santas Marias, discípulas de Cristo.

Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui

02 fevereiro 2024, 15:30