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2020.02.05 Logo COMECE 2020.02.05 Logo COMECE  

Comece: há 40 anos acompanhando o caminho da União Europeia

A partir de 1950, depois de duas guerras mundiais, as nações se comprometeram a um processo de colaboração. Reconhecendo o alto valor do projeto europeu, os bispos dos países da Comunidade Europeia (UE) criaram, 40 anos atrás, a Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia (Comece). Entrevistas com dom Mariano Crociata, vice-presidente da Comece, e o secretário-geral, dom Manuel Enrique Barrios Prieto.

Fabio Colagande e Felipe Herrera-Espaliat – Cidade do Vaticano

A Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia (Comece) celebrou, em 3 de março, 40 anos de fundação. Instituída em 1980, com a aprovação da Santa Sé, a Comissão nasceu como instrumento de ligação entre as Conferências episcopais e a Comunidade Europeia.

Hoje, tem a tarefa de monitorar o processo político da União Europeia, informar e conscientizar os católicos europeus sobre o desenvolvimento de sua legislação, mantendo um diálogo regular com as instituições da União. Por ocasião desse aniversário, a Comece apresentou um novo logotipo e anunciou um evento que se realizará no próximo dia 25, em Bruxelas, nas vésperas de sua assembleia.

O vice-presidente da Comece, dom Mariano Crociata, conversou com Fabio Colagrande do Vatican News sobre o significado desse aniversário e sobre os desafios atuais.

Qual é o significado do aniversário dessa instituição que nasce para criar um elo entre os católicos e as instituições europeias?

Dom Crociata: O de retomar a missão inicial atualizada a uma atualidade que se apresenta em continuidade com as origens, com a época da fundação. Mas apresenta também características novas, situações também mais complexas e dificuldades no caminho da integração europeia.

Agora, qual é a relação entre os cidadãos europeus e a União? Pensamos nos muitos cidadãos católicos...

Dom Crociata: Viemos de anos em que se sentia uma fadiga, uma distância da parte dos cidadãos. Fenômenos políticos, nacionalismo de várias formas que se apresentaram em vários países, foram um sinal evidente: a Europa e as instituições europeias deram a imagem de não perceber as expectativas dos povos, as esperanças que os povos tinham colocado nesse processo de integração. E isso, com todos os excessos e as instrumentalizações ligadas a essa reação, a esses temores. Essas reações e essa sensibilidade não desapareceram totalmente: estamos numa fase sucessiva em que o Brexit foi uma laceração objetiva e grave da União Europeia, mas ao mesmo tempo foi uma sacudida forte, uma crise. Fez tomar consciência da importância de prosseguir no processo de integração. Portanto, um aniversário como esse significa, para a Comece,  incentivar e ajudar este processo. Um sinal se verifica no fato de que os bispos da Grã-Bretanha, ou seja, Inglaterra, Escócia e Países de Gales, permaneçam na Comece como observadores. Dentre outros aspectos, um momento para incentivar e ajudar o processo de integração europeia.

O Papa no domingo passado pediu para rezar pelos migrantes que fogem das guerras. São milhares de refugiados às portas da Europa, em fuga do conflito na Síria. Este é também um tema que as instituições europeias devem dar uma resposta unitária e concreta, inspirada nos princípios humanitários. Como a Comece, que completa 40 anos, caminha nessa direção?

Dom Crociata: O presidente da Comece, cardeal Jean-Claude Hollerich, no final do mês de janeiro escreveu junto com os cardeais Czerny e Krajewski, uma carta endereçada a todos os bispos e presidentes das Conferências Episcopais da União Europeia e da Europa. Nesse documento, as Igrejas são convidadas a serem promotoras do acolhimento dos refugiados, por causa da situação dramática que viviam e foram constatadas na ilha de Lesbos e outras ilhas gregas. Falava-se, naquela ocasião, de mais de 20 mil refugiados dentre os quais 1.100 menores. Agora, a situação se agravou porque a abertura das fronteiras da Turquia rumo à Europa abre uma nova perspectiva preocupante para as condições dos migrantes, dessas massas que transmigram e para os que são chamados a recebê-las. O apelo feito pelo cardeal Hollerich e outros purpurados às Igrejas é um sinal, uma maneira de dizer para a União Europeia que é uma exigência, um dever moral e uma tarefa política dar uma resposta a esse drama do nosso tempo.  A esperança é de que esse exemplo e solicitação, especialmente neste momento, encontrem uma resposta e uma atenção renovada em relação às tentativas que foram feitas, mas que são continuamente superadas pela evolução da realidade.

Comece, uma história entre balanços e desafios

“O balanço desses 40 anos de compromisso é muito positivo.” Foi o que disse a Felipe Herrera-Espaliat do Vatican News, o secretário-geral da Comece, dom Manuel Enrique Barrios Prieto:

Qual é o balanço geral desses 40 anos?

Dom Prieto: A Comece completa 40 anos. Foi fundada em março de 1980. Portanto, neste mês de março celebramos o seu quadragésimo aniversário. Acredito que o balanço seja positivo. A Comece foi criada 40 anos atrás para ser uma presença qualificada da Igreja católica, das Conferências episcopais da União Europeia em Bruxelas, a fim de apresentar, às instituições europeias, as preocupações da Igreja, a sensibilidade da Igreja, o que está no coração da Igreja católica na Europa. E apresentar também nas Conferências episcopais dos países da União Europeia o que está sendo feito aqui nas instituições europeias. A Comece conseguiu fazer, durante esses anos, um trabalho de ligação entre a Igreja e as instituições europeias com a sua especificidade. Isso foi feito através de suas reuniões, encontros que organizou, contatos e publicações, diferentes eventos, tornando-se presente nos vários contextos de trabalho da União Europeia. O meu balanço é muito positivo. Acredito que conseguiu desempenhar um bom trabalho aqui em Bruxelas nessas instituições. Acredito que isso seja importante para a Igreja católica.

Quais são os desafios da Comece para o futuro?

Dom Prieto: Os desafios que a Comece deverá enfrentar são também os desafios que a Europa deverá enfrentar. A Comece buscará dar um apoio, dar sua contribuição que vem da Doutrina Social da Igreja, da fé, do Evangelho, da maneira de considerar o ser humano e a sociedade. Nos próximos anos, os desafios são vários. Acredito que um deles seja o da ecologia, que diz respeito à transição para a uma economia mais sustentável e a maneira como fazer isso. A Igreja tem esse tema no coração. A Comece seguirá de perto o que a Europa fará, que possa ser um continente de exemplo para outras regiões do mundo. Depois, outro tema, acredito muito importante no futuro e no presente, pois estamos vivendo a situação dramática da Grécia, Turquia e Síria, é o da migração e dos refugiados. A Europa deve servir de exemplo, deve enfrentar essa crise de maneira digna. A Comece acompanhará de perto também isso. Há também muitos outros desafios na Europa: o demográfico, relações com os países vizinhos, alargamento, digitalização e inteligência artificial. São vários os temas importantes para a Igreja que a Comece deverá acompanhar de perto. Deve dar a sua contribuição que é a contribuição da Igreja católica, peregrina na Europa.

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04 março 2020, 13:24